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      São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003
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QUÍMICA

O2 e H2O: uma dupla do barulho

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Fim de férias. É hora de voltar para casa. Novos passeios de bicicleta na praia vão ter de esperar até janeiro. Isto é, se a ferrugem deixar. Afinal, bicicleta parada na praia é ferrugem na certa. Mas por que?
Vamos entender como a ferrugem se forma. A primeira etapa do processo corrosivo é a oxidação do ferro metálico a ferro II (Fe0 Fe2+ + 2 elétrons). Como para toda oxidação há uma redução, a pergunta é: quem está se reduzindo? Resposta: o oxigênio do ar. Veja: O2 + 2 H2O + 4 elétrons 4 OH-. Nesse processo, a ajuda da umidade do ar litorâneo é fundamental. O ambiente salino da praia também facilita todas essas trocas de elétrons. Assim, objetos de ferro na praia enferrujam mesmo. Em uma única reação: 2 Fe + O2 + 2 H2O 2 Fe(OH)2. Normalmente, o hidróxido de ferro II (Fe(OH)2) ainda se transforma em Fe(OH)3. Pronto, está formado aquele sólido alaranjado chamado ferrugem.
O grande problema da ferrugem é que ela não adere à superfície metálica do ferro. Na corrosão do alumínio -um metal que tem mais "vontade" de se oxidar (potencial de oxidação: +1,66V) do que o ferro (+0,44V)-, forma-se óxido de alumínio. Essa substância gruda na superfície do metal, formando uma cobertura que acaba protegendo as camadas internas do alumínio do ataque da dupla O2/H2O. Por isso temos a falsa impressão de que as panelas desse metal não "enferrujam". Com o ferro, não se forma essa proteção. Pelo contrário, a ferrugem se solta, expondo mais da superfície metálica para o ataque dessa dupla corrosiva.
E não é só o ferro que sofre com esses dois. Até mesmo o cobre, metal com baixa tendência em se oxidar, não os agüenta. Veja o caso da estátua da Liberdade. Apesar de feita de cobre, sua coloração é esverdeada! Isso acontece porque a famosa dupla, auxiliada pelo gás carbônico do ar, oxida o cobre a carbonato básico de cobre, o azinhavre, que é verde.
Depois de tanto trabalho e de dinheiro gastos para transformar os minérios principalmente os de ferro em seus metais, vem essa dupla e estraga tudo...
Calcula-se que 20% do ferro metálico produzido no mundo seja apenas para repor o que enferrujou! Será que não há algum jeito de impedir que isso aconteça? Claro que sim. Mas, como o espaço acabou, as soluções para esse problema ficam para a próxima coluna. Até lá.


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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