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ATUALIDADES
A Nigéria e a história de Amina Lawal
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Amina Lawal transformou-se
num símbolo da luta pelos direitos da mulher e sua história
corre o mundo via internet. Sentenciada por um decreto islâmico,
ela foi condenada à pena de morte
por apedrejamento em razão de
ter um filho sem estar casada.
Segundo a Constituição da Nigéria, os processos sobre penas
capitais devem passar pelo crivo
do presidente da República, que
pode anular a sentença. Uma decisão difícil para o cristão Olusegun Obasanjo, já que 50% da população nigeriana é muçulmana.
Lawal tem 31 anos, é muçulmana e foi condenada em março de
2002 por um tribunal da sharia, a
legislação islâmica. Ela apelou da
sentença, e a sessão para o julgamento do recurso tem sido adiada. Uma nova data foi marcada
para 27 de agosto deste ano.
A Nigéria possui 115 milhões de
habitantes, que, divididos em
mais de duas centenas de grupos
étnicos, desde dos anos 60, se dilaceram numa guerra tribal. No
norte, há maioria islâmica (haussas e fulanis) e, no sul, a dominação é cristã (ibos e iorubas).
Até 1967, a Nigéria era formada
por uma federação de quatro regiões, mas, em razão dos conflitos
tribais, foi desmembrada em 12
Estados. A mudança pretendia reduzir a força da etnia ibo, que
controlava as áreas petrolíferas.
Refratários à nova ordem, líderes
ibos declararam a independência
da região e criaram a República
da Biafra, em maio de 1967. Após
quatro anos de conflito, os separatistas foram derrotados e 1 milhão de pessoas morreram.
Após décadas de regime militar
e de sucessivos golpes de Estado,
o oitavo produtor mundial de petróleo enfrenta a tensão entre cristãos e muçulmanos. O caso de Lawal revela a tensão entre a ordem
constitucional e a tradição religiosa. Numa demonstração inédita
de solidariedade mundial via internet, o planeta pressiona as autoridades para evitar mais uma
violação dos direitos humanos.
Roberto Candelori é professor do Colégio Móbile e do Objetivo.
E-mail: rcandelori@uol.com.br
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