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Vale a pena saber - História
Eleições e crise política
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O período compreendido entre a morte de Vargas, em 1954,
e a posse de Juscelino Kubitschek, em janeiro de 1956, foi
um dos mais instáveis do pós-guerra no Brasil.
Depois da morte de Vargas,
surgiu uma grande discussão
no meio político e na imprensa
sobre o momento mais oportuno para a realização das eleições. Os liberais da UDN queriam adiá-la o máximo possível,
pois, como eram responsabilizados pelo suicídio de Vargas,
temiam uma derrota devastadora. PTB e demais grupos políticos nacionalistas exigiam
que as eleições fossem realizadas no prazo determinado pela
Constituição. O impasse só foi
resolvido quando Lott, ministro do Exército, exigiu que as
eleições fossem realizadas no
prazo constitucional.
O PSD e o PTB se coligaram e
lançaram JK para concorrer à
Presidência. O PSP indicou
Ademar de Barros e a UDN,
Juarez Távora. JK ganhou as
eleições, e os liberais da UDN
ainda tiveram de amargar uma
redução na bancada federal.
Como era normal naqueles
anos, os liberais da UDN e seus
aliados não se conformaram
com mais uma derrota eleitoral. Alegaram que a vitória de
JK fora ilegítima, pois ele não
havia obtido a maioria absoluta
dos votos, algo que não estava
previsto na Constituição. Defendiam que JK não poderia tomar posse, pois fora eleito com
os votos dos comunistas, das
massas ignorantes, sofredoras,
desiludidas e rancorosas e que
isso seria péssimo para o país.
Chegaram a exigir de oficiais
do Exército um golpe de Estado que impedisse a posse do
presidente eleito e "purificasse" as instituições. Depois de
inúmeras tramas envolvendo o
afastamento do presidente em
exercício, destituição do marechal Lott, líder dos oficiais legalistas, e um contra-golpe desencadeado pelo mesmo Lott,
finalmente JK tomou posse.
Seu governo não foi fácil. Enfrentou mais ameaças de golpe
e uma campanha sistemática
amparada em acusações de
corrupção, principalmente na
construção de Brasília. Apesar
de tudo, conseguiu concluir
seu mandato e nos dias atuais,
ironicamente, é elogiado pelo
seu temperamento cordato, índole democrática e integridade
política.
ROBERSON DE OLIVEIRA é professor e autor
de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD).
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