São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 2006
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Vale a pena saber - História

Eleições e crise política

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O período compreendido entre a morte de Vargas, em 1954, e a posse de Juscelino Kubitschek, em janeiro de 1956, foi um dos mais instáveis do pós-guerra no Brasil. Depois da morte de Vargas, surgiu uma grande discussão no meio político e na imprensa sobre o momento mais oportuno para a realização das eleições. Os liberais da UDN queriam adiá-la o máximo possível, pois, como eram responsabilizados pelo suicídio de Vargas, temiam uma derrota devastadora. PTB e demais grupos políticos nacionalistas exigiam que as eleições fossem realizadas no prazo determinado pela Constituição. O impasse só foi resolvido quando Lott, ministro do Exército, exigiu que as eleições fossem realizadas no prazo constitucional.
O PSD e o PTB se coligaram e lançaram JK para concorrer à Presidência. O PSP indicou Ademar de Barros e a UDN, Juarez Távora. JK ganhou as eleições, e os liberais da UDN ainda tiveram de amargar uma redução na bancada federal.
Como era normal naqueles anos, os liberais da UDN e seus aliados não se conformaram com mais uma derrota eleitoral. Alegaram que a vitória de JK fora ilegítima, pois ele não havia obtido a maioria absoluta dos votos, algo que não estava previsto na Constituição. Defendiam que JK não poderia tomar posse, pois fora eleito com os votos dos comunistas, das massas ignorantes, sofredoras, desiludidas e rancorosas e que isso seria péssimo para o país.
Chegaram a exigir de oficiais do Exército um golpe de Estado que impedisse a posse do presidente eleito e "purificasse" as instituições. Depois de inúmeras tramas envolvendo o afastamento do presidente em exercício, destituição do marechal Lott, líder dos oficiais legalistas, e um contra-golpe desencadeado pelo mesmo Lott, finalmente JK tomou posse.
Seu governo não foi fácil. Enfrentou mais ameaças de golpe e uma campanha sistemática amparada em acusações de corrupção, principalmente na construção de Brasília. Apesar de tudo, conseguiu concluir seu mandato e nos dias atuais, ironicamente, é elogiado pelo seu temperamento cordato, índole democrática e integridade política.


ROBERSON DE OLIVEIRA é professor e autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD).


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