São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2004
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BIOLOGIA

A neotenia e a "juventude" das salamandras

FABIO GIORDANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

As soluções encontradas para a adaptação ao ambiente, por vezes, chegam a romper com as regras básicas da natureza. Esse é o caso em particular de algumas espécies de anfíbios, que conseguiram deter o desenvolvimento de seus organismos, permanecendo com aspecto sempre "jovem". A mudança das taxas de desenvolvimento e de maturação de um organismo é denominada heterocronia.
Na neotenia, há uma aparente manutenção de um estágio larval, embora o organismo já esteja sexualmente maduro. Isso é muito comum entre as simpáticas salamandras. Os que apreciam aquários e terrários sabem que esses anfíbios passam sua vida em estágio larval. A neotenia está associada a uma atividade insuficiente do hipotálamo, hipófises e glândulas tireóides, que inviabilizam o pleno desenvolvimento das salamandras. Mesmo adultas, elas continuam com as brânquias típicas de larvas girino.
A neotenia ocorre de modo obrigatório quando certas espécies não sofrem metamorfose completa e permanecem sempre em estágio larval, como é o caso das salamandras proteus, necturus e da salamandra gigante do Japão.
A neotenia facultativa ocorre quando certos indivíduos se metamorfoseiam completamente em condições naturais, enquanto outros, vivendo no mesmo lugar, persistem e se reproduzem no estágio larval. Esse tipo de neotenia pode ser artificialmente induzido, como costuma ocorrer com as salamandras mexicanas.
A neotenia acidental ou geográfica ocorre quando, dentro de uma mesma espécie, a maior parte dos animais realiza metamorfose completa, mas alguns outros organismos, em locais específicos, mantêm-se em estágio larval, mesmo com a chegada da maturidade sexual. É o caso de alguns tritões de lagos americanos e da salamandra tigre. Nesta última, a neotenia não é regida apenas pela genética e está ligada a fatores ambientais como temperatura, ausência de luz e escassez mineral das águas.


Fabio Giordano é bacharel em biologia, doutor em ecologia pela USP e professor-pesquisador da Unisanta. E-mail: giordano@unisanta.br


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