|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PORTUGUÊS
Reflexão superficial prejudica texto
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Faltou uma reflexão mais cuidadosa sobre o tema. O redator, além de desenvolver
pouco o texto, força a relação
de causa e efeito e repisa argumentos pouco adequados à
discussão.
Parte de um dos resultados
da pesquisa apresentada como
tema de debate: jovens que têm
acesso a boas escolas lêem pouco. Considera isso um "dado
preocupante", mas justifica sua
inquietação de maneira um
tanto vaga. Pior que isso, apresenta como "resultado" da falta
de leitura o fato de esses jovens
serem, no seu entender, "violentos". Melhor seria que tivesse proposto essa idéia como
uma hipótese, não como uma
resposta definitiva. O simplismo compromete o raciocínio.
Livros "paradidáticos" são
leituras paralelas indicadas pelos professores. A pesquisa
apontou a ausência de leitura
espontânea, motivada antes
por interesses pessoais que pelo ambiente escolar.
A reivindicação de ampliação
de áreas de leitura e de bibliotecas, embora seja legítima, não
corresponde aos interesses da
amostra pesquisada, pois os estudantes a que se refere o estudo pertencem à elite econômica do país. Não se trata, portanto, de mais uma vez atribuir a
causa do problema à inação ou
à negligência do Estado.
A conclusão também parece
"automática" -é fácil dizer
que falta investimento nisto ou
naquilo. O redator confunde
"informação" com "formação". Talvez esteja justamente
nessa distinção a raiz do problema. A visão de mundo limitada deve-se mais à falta de formação intelectual adequada
que à falta de informações.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da
Folha. E-mail:
tnicoleti@folhasp.com.br
Texto Anterior: Química: Anticongelantes: úteis, mas perigosos Próximo Texto: História: O tráfico e a construção do Novo Mundo Índice
|