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      São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003
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PORTUGUÊS

Reflexão superficial prejudica texto

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Faltou uma reflexão mais cuidadosa sobre o tema. O redator, além de desenvolver pouco o texto, força a relação de causa e efeito e repisa argumentos pouco adequados à discussão.
Parte de um dos resultados da pesquisa apresentada como tema de debate: jovens que têm acesso a boas escolas lêem pouco. Considera isso um "dado preocupante", mas justifica sua inquietação de maneira um tanto vaga. Pior que isso, apresenta como "resultado" da falta de leitura o fato de esses jovens serem, no seu entender, "violentos". Melhor seria que tivesse proposto essa idéia como uma hipótese, não como uma resposta definitiva. O simplismo compromete o raciocínio.
Livros "paradidáticos" são leituras paralelas indicadas pelos professores. A pesquisa apontou a ausência de leitura espontânea, motivada antes por interesses pessoais que pelo ambiente escolar.
A reivindicação de ampliação de áreas de leitura e de bibliotecas, embora seja legítima, não corresponde aos interesses da amostra pesquisada, pois os estudantes a que se refere o estudo pertencem à elite econômica do país. Não se trata, portanto, de mais uma vez atribuir a causa do problema à inação ou à negligência do Estado.
A conclusão também parece "automática" -é fácil dizer que falta investimento nisto ou naquilo. O redator confunde "informação" com "formação". Talvez esteja justamente nessa distinção a raiz do problema. A visão de mundo limitada deve-se mais à falta de formação intelectual adequada que à falta de informações.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha. E-mail:
tnicoleti@folhasp.com.br


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