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Vale a pena saber
LITERATURA
Poesia reflete repertório de emoções
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O estudo das escolas literárias leva-nos à percepção não
só de diferentes atitudes diante
da poesia como de diferentes
modelos de beleza estética. O
modernismo, em sua fase inicial, insurgiu-se contra os cânones parnasianos, mas, posteriormente, já incorporada a
mudança de padrão estético,
deixou de se opor de maneira
tão contumaz ao movimento
poético anterior e chegou a revalorizar formas clássicas. O
soneto, banido no primeiro
tempo modernista, foi uma das
formas adotadas por Drummond e por Vinicius de Moraes,
por exemplo.
É preciso evitar a atitude de
considerar um estilo melhor do
que outro. As mudanças ocorrem não pelo que apressadamente se consideraria uma
"evolução" da poesia, mas segundo o momento e o lugar de
sua produção.
Se o parnasianismo, em seus
últimos tempos, sofreu um desgaste, isso é sinal de que essa estética já não representava o padrão de beleza e as necessidades de expressão de um mundo
que havia passado por grandes
transformações.
A nossa percepção poética de
hoje não se identifica com as
minuciosas descrições parnasianas, com a estaticidade do
vaso grego de Alberto de Oliveira. É difícil que hoje as pessoas
em geral se emocionem, pelo
menos à primeira vista, com a
descrição de um vaso, mesmo
sendo ele belo em sua plasticidade. Isso, no entanto, não significa que esse poema ("Vaso
Grego") ou outros do gênero
não expressem emoções. O
nosso repertório de emoções é
que mudou. O que, para nós,
hoje, pode soar como frieza ou
falta de emoção, tem outro significado para um poeta clássico
ou parnasiano.
Um poeta clássico expressa-se de maneira comedida. Diferentemente do romântico, não
lhe passa pela cabeça a idéia de
morrer por amor. A mudança
do padrão clássico (ou neoclássico) para o romântico ocorre
quando a burguesia ascende ao
poder. O comedimento, característica aristocrática, perde a
importância na época romântica, quando passam a predominar os valores próprios das camadas populares, como a simplicidade. Isso é reflexo da revolução social.
O desafio de ler textos de várias épocas, portanto, está em
inseri-los no momento de sua
produção.
Sabemos que há grandes
poetas em todos os momentos
da história literária e é preciso
lê-los em consonância com o
momento histórico em que
produziram sua obra. Os melhores representantes de cada
época são aqueles que melhor
expressaram o sentimento coletivo. A boa poesia pressupõe
essa capacidade, muitas vezes
intuitiva, de expressar o universal no particular e isso vale
para qualquer tempo.
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, autora dos livros "Redação Linha a Linha" (Publifolha) e "Uso da Vírgula" (Manole), é colunista da Folha
Online e do site gazetaweb.globo.com/
@ - thaisncamargo@uol.com.br
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