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VALE A PENA SABER
GRAMÁTICA
Não se confunda com o "se"
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Duas partículas que causam
muita confusão são o pronome
apassivador e o índice de indeterminação do sujeito, ambos
representados pelo pronome
oblíquo átono "se".
As frases em que cada uma
dessas partículas aparece são
distintas quanto à estrutura
sintática. A primeira diferença
é que uma apresenta sujeito explícito, enquanto a outra nem
sequer apresenta sujeito.
Na voz passiva, o sujeito é o
elemento que sofre a ação expressa pelo verbo donde ser ele
indispensável nas frases apassivadas pelo "se". Se a construção for, por exemplo, "fez-se alguma coisa", "alguma coisa" será o sujeito do verbo "fazer". Alguns dirão que "a tal coisa" não
fez nada e estarão raciocinando
corretamente, pois o sujeito
nem sempre pratica a ação. Na
construção "fez-se alguma coisa", o sujeito é passivo, porque
o pronome "se" se encarrega de
apassivar o verbo ("fez-se" assume o sentido de "foi feito").
Como o verbo concorda com
o sujeito da oração, fazemos
construções como "Aluga-se
uma casa" e "Alugam-se casas".
O verbo vai para o plural quando o seu sujeito é um termo
também plural.
Uma construção como "precisa-se de pedreiros", por sua
vez, apresenta sujeito indeterminado. Nesse caso, sabe-se
que alguém precisa de pedreiros, mas a estrutura da frase
não permite identificar quem
seja essa pessoa. Esse fenômeno a gramática tradicional convencionou chamar de "sujeito
indeterminado".
Note-se que, numa construção como "alguém precisa de
pedreiros?", o sujeito está explícito e é representado pela
palavra "alguém", um pronome
indefinido. Embora de um ponto de vista estritamente semântico se possa dizer que não sabemos a quem se refere o processo verbal (afinal, quem é "alguém"?), do ponto de vista da
estrutura sintática do texto o
sujeito é simples, representado
por um pronome substantivo,
cujo significado não importa
para a definição do tipo de sujeito. É por isso que se classifica
como simples o sujeito de frases como as seguintes: "Quem
chegou?", "Ninguém o viu na
festa", "Alguém me disse que tu
andas novamente..." etc.
Outra distinção que pode
ajudar a não confundir as duas
estruturas que aqui examinamos está na predicação verbal.
Somente os verbos transitivos
diretos admitem a voz passiva
(o objeto direto da ativa transforma-se em sujeito da passiva). Dessa maneira, os transitivos diretos acompanhados do
"se" estão na voz passiva ("Reformam-se ternos", "Constroem-se muros" etc.), os demais (transitivos indiretos, intransitivos e verbos de ligação),
quando acompanhados da partícula "se", integram a estrutura que se conhece como oração
de sujeito indeterminado. Nessas orações, o verbo permanece
na forma neutra, ou seja, na terceira pessoa do singular.
Com um pouco de atenção,
fica fácil perceber a diferença
entre uma e outra estrutura.
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, autora dos livros "Redação Linha a Linha" (Publifolha) e
"Uso da Vírgula" (Manole), é colunista da Folha
Online e do site gazetaweb.globo.com
thaisncamargo@uol.com.br
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