São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2008
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VALE A PENA SABER

GRAMÁTICA

Não se confunda com o "se"

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Duas partículas que causam muita confusão são o pronome apassivador e o índice de indeterminação do sujeito, ambos representados pelo pronome oblíquo átono "se".
As frases em que cada uma dessas partículas aparece são distintas quanto à estrutura sintática. A primeira diferença é que uma apresenta sujeito explícito, enquanto a outra nem sequer apresenta sujeito.
Na voz passiva, o sujeito é o elemento que sofre a ação expressa pelo verbo donde ser ele indispensável nas frases apassivadas pelo "se". Se a construção for, por exemplo, "fez-se alguma coisa", "alguma coisa" será o sujeito do verbo "fazer". Alguns dirão que "a tal coisa" não fez nada e estarão raciocinando corretamente, pois o sujeito nem sempre pratica a ação. Na construção "fez-se alguma coisa", o sujeito é passivo, porque o pronome "se" se encarrega de apassivar o verbo ("fez-se" assume o sentido de "foi feito").
Como o verbo concorda com o sujeito da oração, fazemos construções como "Aluga-se uma casa" e "Alugam-se casas".
O verbo vai para o plural quando o seu sujeito é um termo também plural.
Uma construção como "precisa-se de pedreiros", por sua vez, apresenta sujeito indeterminado. Nesse caso, sabe-se que alguém precisa de pedreiros, mas a estrutura da frase não permite identificar quem seja essa pessoa. Esse fenômeno a gramática tradicional convencionou chamar de "sujeito indeterminado".
Note-se que, numa construção como "alguém precisa de pedreiros?", o sujeito está explícito e é representado pela palavra "alguém", um pronome indefinido. Embora de um ponto de vista estritamente semântico se possa dizer que não sabemos a quem se refere o processo verbal (afinal, quem é "alguém"?), do ponto de vista da estrutura sintática do texto o sujeito é simples, representado por um pronome substantivo, cujo significado não importa para a definição do tipo de sujeito. É por isso que se classifica como simples o sujeito de frases como as seguintes: "Quem chegou?", "Ninguém o viu na festa", "Alguém me disse que tu andas novamente..." etc.
Outra distinção que pode ajudar a não confundir as duas estruturas que aqui examinamos está na predicação verbal.
Somente os verbos transitivos diretos admitem a voz passiva (o objeto direto da ativa transforma-se em sujeito da passiva). Dessa maneira, os transitivos diretos acompanhados do "se" estão na voz passiva ("Reformam-se ternos", "Constroem-se muros" etc.), os demais (transitivos indiretos, intransitivos e verbos de ligação), quando acompanhados da partícula "se", integram a estrutura que se conhece como oração de sujeito indeterminado. Nessas orações, o verbo permanece na forma neutra, ou seja, na terceira pessoa do singular.
Com um pouco de atenção, fica fácil perceber a diferença entre uma e outra estrutura.


THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, autora dos livros "Redação Linha a Linha" (Publifolha) e "Uso da Vírgula" (Manole), é colunista da Folha Online e do site gazetaweb.globo.com

thaisncamargo@uol.com.br


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