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DEU NA MÍDIA
Autonomia de Santa Cruz divide a Bolívia
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Num enfrentamento que
se intensificou após a posse
de Evo Morales (2006), o
movimento autonomista do
departamento (Estado) de
Santa Cruz foi às urnas em 4
de maio para votar sobre o
Estatuto de Autonomia.
Esse estatuto prevê uma
maior independência do departamento de Santa Cruz
em relação ao governo central de La Paz. Entre as propostas de mudança, destaca-se o direito de arrecadar impostos, a criação de uma polícia regional e a formação de
uma Assembléia Legislativa,
cujos membros serão eleitos
pelo voto popular.
Porta-voz dos departamentos da chamada "meia-lua" (junto com Tarija, Beni e
Pando), Santa Cruz, com
uma população de cerca de
2,5 milhões de habitantes,
responde hoje por mais de
30% do PIB do país. Seu território possui 40% das terras
cultiváveis e suas exportações representam mais da
metade do total do país. São
números expressivos que
qualificam o Estado de Santa
Cruz como o mais próspero
da Bolívia, razão pela qual reclama mais poder político.
Esse movimento, que muitos definem como separatista, expõe uma fratura social
que coloca em risco a unidade da Bolívia. De um lado, um
país rico e próspero do
"oriente", que engloba a província de Santa Cruz. Do outro, no "ocidente" (La Paz,
Oruro e Potosi), um país pobre que concentra as suas
atividades produtivas na mineração e no cultivo da folha
de coca. Nessa região está
concentrada a maior parte
dos povos indígenas (quéchuas e aimarás), cujo maior
representante é o presidente
aimará Morales, o primeiro
indígena a comandar o país.
De acordo com a CNE
(Corte Nacional Eleitoral),
embora o resultado tenha favorecido os autonomistas
-85,6% dos votos válidos-,
o referendo é ilegal. Segundo
a Constituição em vigor, as
províncias não têm autoridade para convocá-lo.
Trata-se, portanto, de uma
forma de pressão sobre o governo de La Paz, num momento em que o país se prepara para referendar a nova
Constituição, aprovada em
dezembro de 2007.
Para os autonomistas, trata-se de um documento baseado no socialismo marxista, na ampliação dos direitos
indígenas, aprovado sem a
presença da oposição e, portanto, sem legitimidade.
Na visão de Morales e dos
membros do seu partido, o
MAS (Movimento ao Socialismo), a nova carta representa um marco histórico.
Inaugura uma nova era na
trajetória do país, pois, ao determinar a inclusão social
dos grupos indígenas, finalmente materializa uma reparação histórica com aqueles
que foram colocados à margem nos 500 anos de história
da Bolívia, desde a chegada
dos espanhóis.
ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile
rcandelori@uol.com.br
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