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VALE A PENA SABER
MATEMÁTICA
O dia em que o pi virou decreto
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um dos números mais fascinantes estudados pelo homem
desde a Antigüidade é o pi. Por
mais estranho que pareça, seja
qual for o tamanho de uma circunferência, a razão entre o seu
comprimento e o diâmetro será
sempre o mesmo número que,
desde o século 18, vem sendo denotado por pi.
Aproximações do número são
conhecidas desde a Antigüidade
e, curiosamente, até mesmo no
Antigo Testamento há uma passagem da qual se pode deduzir o
uso da aproximação pi=3 (Livro
dos Reis).
A rigor, os primeiros esforços
na matemática ocidental para
uma determinação mais rigorosa
do valor de pi se devem a Arquimedes, que, por meio do método
de exaustão, determinou corretamente até a quarta casa decimal
(3,1415). Tal método consistia em
calcular aproximações de por
meio do perímetro de polígonos
regulares inscritos e circunscritos
a uma circunferência.
Apesar dos inúmeros indícios
de que pi seria um número irracional, ou seja, um número que
não pode ser representado por
meio do quociente de dois inteiros, apenas em 1770 isso foi definitivamente demonstrado nos
trabalhos independentes dos matemáticos Lambert e Legendre.
Admitindo tal fato, ao determinarmos por meio da razão entre
o comprimento C de uma circunferência e seu diâmetro D, segue
que C e D não podem ser ambos
números racionais.
Dos vários capítulos da história
do número pi, certamente o mais
pitoresco ocorreu em 1897, nos
Estados Unidos. Na ocasião, um
cidadão chamado Edwin Goodwin encaminhou à Câmara de Representantes do Estado de Indiana o projeto nš 246, que estabeleceria, por decreto, pi=4.
Goodwin baseava-se no seguinte argumento: se um círculo de
comprimento C e raio r tiver área
igual à de um quadrado de lado
1/4C, segue que pir2=1/42r2, ou seja, que pi=4. Goodwin dizia ainda
que o Estado de Indiana teria
grandes vantagens em ser o primeiro a decretar pi=4, já que ele
permitiria a publicação da descoberta nos livros escolares do Estado com isenção de direitos autorais, que só seriam pagos nos demais Estados americanos.
Após aprovado por unanimidade em primeira instância, o projeto só foi arquivado por ter caído
nas mãos de C. A. Waldo, um matemático que, por acaso, estava
presente ao Congresso e se dispôs
a explicar aos deputados o raciocínio absurdo de Goodwin.
Ufa, dessa estamos livres. Já
pensou se tivéssemos de colocar
na pauta de negociações da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) o valor de pi=4?
Agora é a sua vez. Encontre o erro na demonstração de Goodwin.
José Luiz Pastore Mello é mestre em
ensino de matemática pela USP e professor do Colégio Santa Cruz.
E-mail: jlpmello@uol.com.br
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