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VALE A PENA SABER
MATEMÁTICA
A falta de lógica e o discurso político
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Concluído o processo eleitoral, é
hora de analisarmos do ponto
de vista lógico uma frase dita por
um candidato ao governo de um
Estado brasileiro durante a campanha: "Se eu for eleito, as obras
de duplicação da estrada X serão
realizadas. Se eu não for eleito, essa obra não sairá do papel".
Como o candidato não foi eleito, se tomarmos como verdadeiras as duas implicações lógicas estabelecidas na frase, concluiremos então que a estrada X certamente não será duplicada nos
próximos anos de governo.
Assumir como verdadeira a frase em que o candidato diz que, "se
eleito, então duplicará a estrada"
implica acreditarmos ou não na
sua palavra. Um juízo a esse respeito só poderá ser formado levando-se em consideração a história política do candidato, sua
propensão a dizer verdades durante a campanha etc.
Em relação à segunda frase, "se
não eleito, a estrada não será
construída", somos obrigados a
dizer que aspectos relacionados à
crença do eleitor na boa intenção
do candidato são muito menos
importantes do que os relacionados aos fundamentos lógicos, que
garantem o erro da frase.
Para compreender o equívoco
lógico cometido nessa implicação, chamemos de P o fato de o
candidato ser eleito e de Q o da estrada ser duplicada.
Se nossas crenças políticas indicam que a ocorrência de P implicará a ocorrência de Q, ou seja,
que o candidato diz a verdade
quando afirma "se P, então Q", do
ponto de vista lógico não podemos afirmar que "se não ocorrer
P, então não ocorrerá Q".
A correta negação de uma proposição condicional do tipo "se P,
então Q" não é "se não P, então
não Q", mas, sim, "se não Q, então não P". Em outras palavras,
admitindo P e Q verdadeiros, a
negação de P não implica necessariamente a negação de Q, ou seja, se o candidato não for eleito, isso não implica dizer que a estrada
necessariamente não será duplicada. Se a implicação "se P, então
Q" é verdadeira, sua correta negação será, "se não Q, então não P",
ou seja, "se a estrada X não for duplicada, então o candidato não foi
eleito".
José Luiz Pastore Mello é professor da
Faculdade de Educação da USP. E-mail:
jlpmello@uol.com.br
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