São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002
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PORTUGUÊS

Precisão deve orientar uso dos conectivos

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Sejamos sinceros: não temos todas as respostas nem tampouco pretendemos posar de donos da verdade..." O fragmento reproduzido apresenta uma construção redundante. A palavra "tampouco", de valor adverbial, significa "também não", motivo pelo qual a partícula negativa "nem" é excessiva quando anteposta a ela.
Esse tipo de redundância também ocorre quando se antepõe a conjunção "e" à conjunção "nem", ambas de valor aditivo, sendo a última empregada para acrescentar uma idéia negativa a outra. Assim, um enunciado como: "Não estuda e nem trabalha" é redundante, pois a conjunção "nem" equivale a "e não".
Talvez como fruto da distração surjam enunciados como: "Se caso você não vier...". Nesse contexto, "se" e "caso" são conjunções subordinativas condicionais; são, portanto, sinônimos. É possível que a freqüência desse tipo de construção se deva à confusão entre "caso" e "acaso", palavras de sonoridade semelhante. A frase seria então: "Se acaso (casualmente, por acaso) você...".
Também são consideradas redundantes as expressões "enquanto que" e "quase que", as quais surgem, possivelmente, por similaridade com as locuções conjuntivas (formadas em geral por preposições ou advérbios seguidos da conjunção "que"), como: ainda que, logo que, assim que, para que, mesmo que etc.
Todavia a expressão "enquanto que" costuma aparecer sobretudo nos contextos em que a idéia de oposição prevalece sobre a de simultaneidade. Assim: "Dois outros estão presos em Bagram, perto de Cabul, enquanto que apenas um prisioneiro se encontra em Mazar-e-Sharif, no norte do Afeganistão...". Quando, porém, a idéia de simultaneidade prepondera, a conjunção mantém-se na forma original. Assim: "Ficarei aqui enquanto você não chegar".
"Quase", por sua vez, funciona como advérbio sem necessidade do uso do transpositor "que". Mas há quem considere esse "que" uma partícula de realce em construções como: "A atriz era quase que desconhecida".
Por vezes, encontramos construções como: "Mesmo se isso acontecer, não nos deixaremos abater". A locução conjuntiva que exprime a idéia de concessão (equivalente a "embora") é "mesmo que", expressão que leva o verbo para o presente do subjuntivo. Assim: "Mesmo que isso aconteça, não nos deixaremos abater". Em "mesmo se", parece haver certa hesitação entre as idéias de concessão e de condição. O ideal, entretanto, é a busca da precisão da linguagem, o que torna mais eficaz a comunicação.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha


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