São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004
  Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAIBA MAIS

MATEMÁTICA

Por que existe ano bissexto?

JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sabe-se hoje que o período que a Terra leva para completar uma volta em torno do Sol, conhecido como ano trópico, é de aproximadamente 365,242199 dias (365 dias, cinco horas, 48 minutos e 46 segundos). Podemos expressar a parte decimal desse número com diferentes somas e subtrações de frações, uma delas sendo 1/4-1/ 100+1/400-1/3.000+1/30.000-1/ 1.000.000. Chamando essa soma de S, veremos como ela está associada aos anos bissextos.
Se considerarmos cada ano do calendário com exatos 365 dias, estaremos cometendo um erro anual de 0,242199 dia. Para reduzir esse erro, podemos acrescentar ao calendário um dia a cada quatro anos, como sugere a fração 1/4 em S. Por esse ajuste considera-se cada ano com 365,25 dias, o que implica um erro de 0,007801 dia por ano em relação ao ano trópico correto.
Se, além do acréscimo de um dia a cada quatro anos, tirarmos um dia a cada cem anos, como indica a segunda fração de S, estaremos assumindo um ano trópico de 365,24 dias, o que implica um erro anual igual a 0,002199.
Além de somar um dia a cada quatro anos e subtrair um dia a cada cem anos, para diminuir ainda mais o erro, devemos somar um dia a cada 400 anos, como indica a terceira fração de S. Esse último ajuste resulta em um ano com 365,2425 dias, o que implica erro de apenas 0,000301 dia por ano, cerca de 26 segundos anuais.
A aproximação que descrevemos corresponde à atual estrutura de ajustes do nosso calendário, que assume os anos com 365 dias, exceto os bissextos, que têm 366.
Os anos bissextos são aqueles divisíveis por quatro (o que garante que a cada quatro anos tenhamos um dia a mais), exceto quando ele termina em 00 (essa exceção garante que se subtraia um ano a cada cem). No caso dos anos terminados em 00, se eles forem múltiplo de 400, serão considerados bissextos, caso contrário, serão um ano de 365 dias (esse último ajuste garante que seja somado um dia a cada 400 anos).
Ainda que sofisticado, o atual método de ajustes do nosso calendário comete um erro da ordem de 26 segundos anuais, ou seja, cerca de um dia a cada 3.323 anos.
Você sabe qual o caminho para melhorar ainda mais a precisão do nosso calendário? Agora ficou fácil: dos ajustes atuais devemos ainda subtrair um dia a cada 3.000 anos, adicionar um dia a cada 30.000 anos e subtrair um dia a cada 1 milhão de anos, como indicam as três últimas frações de S.


José Luiz Pastore Mello é mestre em ensino de matemática pela USP e professor do Colégio Santa Cruz. E-mail: jlpmello@uol.com.br


Texto Anterior: Comunique-se
Próximo Texto: Atualidades: O Brasil e a controvérsia nuclear
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.