São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004
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ATUALIDADES

O Brasil e a controvérsia nuclear

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sob suspeita de manter em sigilo equipamentos das suas instalações nucleares, o Brasil tem sido pressionado pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) a aceitar uma fiscalização mais abrangente em seu programa nuclear. Inspetores da AIEA estiveram na INB (Indústrias Nucleares do Brasil), localizada em Resende (RJ), e não tiveram acesso à novidade do programa nuclear paralelo: a supercentrífuga responsável pela tecnologia de enriquecimento de urânio.
Com a criação de um programa nuclear paralelo a partir de 1979, a Marinha do Brasil passou a desenvolver um projeto para a construção de um submarino com reator a propulsão nuclear. O equipamento teria a função de monitorar o extenso litoral brasileiro com uma autonomia maior que um submarino convencional.
Segundo os responsáveis pelo projeto, as motivações para a fiscalização de Resende é que o Brasil, ao enriquecer urânio, passa a fazer parte de um seleto clube de nações detentoras desse conhecimento. Ou seja, um restrito grupo de países que disputam o lucrativo mercado de combustível nuclear: EUA, China, Rússia, França e Inglaterra, membros do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), além de Alemanha, Holanda, Israel, Índia, Paquistão e Japão.
O Brasil é signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) desde 1998, mas não está disposto a assinar os "protocolos adicionais" ou os mecanismos que autorizam inspeções mais amplas sobre o programa nuclear brasileiro. Sob a alegação de soberania, o país não aceita ser tratado como um membro do "eixo do mal", como Coréia do Norte ou Irã, suspeitos de investirem na fabricação de artefatos nucleares.
Tudo indica que as pressões dos inspetores da AIEA (ou dos Estados Unidos) devem continuar para que o Brasil escancare a planta de Resende. Suspeita-se de endurecimento da política externa "unilateral" do presidente George W. Bush, que, caso o Brasil recue e aceite a vistoria, deve somar mais uma vitória na luta para manter-se na Casa Branca.


Roberto Candelori é professor do Colégio Móbile e do Objetivo. E-mail: rcandelori@uol.com.br


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