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ATUALIDADES
O Brasil e a controvérsia nuclear
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Sob suspeita de manter em sigilo equipamentos das suas instalações nucleares, o Brasil tem sido pressionado pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) a aceitar uma fiscalização
mais abrangente em seu programa nuclear. Inspetores da AIEA
estiveram na INB (Indústrias Nucleares do Brasil), localizada em
Resende (RJ), e não tiveram acesso à novidade do programa nuclear paralelo: a supercentrífuga
responsável pela tecnologia de
enriquecimento de urânio.
Com a criação de um programa
nuclear paralelo a partir de 1979, a
Marinha do Brasil passou a desenvolver um projeto para a construção de um submarino com
reator a propulsão nuclear. O
equipamento teria a função de
monitorar o extenso litoral brasileiro com uma autonomia maior
que um submarino convencional.
Segundo os responsáveis pelo
projeto, as motivações para a fiscalização de Resende é que o Brasil, ao enriquecer urânio, passa a
fazer parte de um seleto clube de
nações detentoras desse conhecimento. Ou seja, um restrito grupo
de países que disputam o lucrativo mercado de combustível nuclear: EUA, China, Rússia, França
e Inglaterra, membros do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), além
de Alemanha, Holanda, Israel, Índia, Paquistão e Japão.
O Brasil é signatário do Tratado
de Não-Proliferação Nuclear
(TNP) desde 1998, mas não está
disposto a assinar os "protocolos
adicionais" ou os mecanismos
que autorizam inspeções mais
amplas sobre o programa nuclear
brasileiro. Sob a alegação de soberania, o país não aceita ser tratado
como um membro do "eixo do
mal", como Coréia do Norte ou
Irã, suspeitos de investirem na fabricação de artefatos nucleares.
Tudo indica que as pressões dos
inspetores da AIEA (ou dos Estados Unidos) devem continuar para que o Brasil escancare a planta
de Resende. Suspeita-se de endurecimento da política externa
"unilateral" do presidente George
W. Bush, que, caso o Brasil recue e
aceite a vistoria, deve somar mais
uma vitória na luta para manter-se na Casa Branca.
Roberto Candelori é professor do Colégio Móbile e do Objetivo.
E-mail: rcandelori@uol.com.br
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