São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004
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Fatores que adiam a entrada na faculdade vão de estudo deficiente a estresse

Auto-avaliação ajuda a corrigir falhas

Ciete Silvério/Folha Imagem
Irina Araújo Câmara, que, no ano passado, desistiu do vestibular porque tinha faltado muito às aulas


ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais um ano de cursinho. Depois de se preparar durante meses, boa parte dos candidatos terá de passar pelas aulas, pelos exercícios e pelos vestibulares novamente. Fazer uma auto-avaliação para detectar os fatores que influenciaram negativamente a preparação é o ponto de partida para uma correção de rota.
O primeiro ponto a ser considerado é que, por mais que o aluno queira eleger "o" problema, não foi um único fator que o fez ficar mais um ano fora da faculdade, mas, provavelmente, foram vários. "É muito comum escolher um bode expiatório para jogar toda a culpa. É um mecanismo de defesa da pessoa. Mas o mais comum é haver um somatório de fatores", disse Silvia Amaral de Mello Pinto, psicopedagoga do CAD (Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento).
Os problemas que podem acontecer, segundo ela, vão da falta de estudo, da base deficiente dada na escola e do estresse até casos mais graves, que necessitam de tratamento especializado, como dislexia. "Uma coisa é não entender um tópico de uma matéria, outra é ter uma dificuldade mais geral."
Tomar consciência desses fatores, segundo a psicopedagoga da Unesp Maria Beatriz Loureiro de Oliveira, é o principal passo para superá-los. Para ela, uma das variáveis mais importantes, que acaba gerando outras, é a falta de maturidade. "Se o estudante não passou, não deve se sentir fracassado, mas entender que faz parte de seu desenvolvimento", disse.
Ela exemplifica com o caso de um rapaz que passava o dia na casa da namorada e não se empenhou no estudo. "Mesmo esse relacionamento, que por um lado atrapalhou, pode ter sido importante para o amadurecimento emocional do jovem. Não tenho dúvidas que quanto maior o amadurecimento emocional, maiores as condições de se desenvolver também intelectualmente."
A maturidade influi, por exemplo, em como lidar com a diferença das aulas do cursinho em relação às do colégio. "No primeiro ano de cursinho, muitos alunos ficam meio soltos. Eles estavam acostumados a estudar para as provas e a responder chamada [de presença]. No cursinho, não há nada disso. É o próprio estudante que tem de se cobrar. Além disso, o ritmo é muito mais forte", disse Edson Futema, coordenador do Cursinho da Poli.
Sem a lista de presença, Irina Araújo Câmara, 20, costumava faltar às aulas do cursinho no ano passado. Em agosto, quando todos estavam na quarta apostila, ela ainda estava na primeira, o que a fez abandonar o estudo e o vestibular. "Agora, pelo menos, não falto às aulas", disse ela, que desistiu de administração e vai prestar veterinária.
Já sua amiga Carolina Ribeiro Brandão, 19, assume que não estudou, mas porque trabalhava de dia e fazia cursinho à noite. "Não sobrava tempo para estudar em casa. Nos finais de semana, não tinha pique", disse ela, que parou de trabalhar neste ano.
Não estudar as matérias das quais não gosta é outro ponto relacionado à maturidade que pode influenciar na preparação. Foi o que aconteceu com Luiz Ricardo Higashi, 18, que, no ano passado, dava preferência para as disciplinas da área de exatas. "Não gostava de humanas, então fui prestar vestibular completamente sem noção nessa área. Agora percebi que vou precisar dessas matérias para ser aprovado", disse ele, que, agora, estuda em uma sala da turma de humanas.


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