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      São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 2003
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REDAÇÃO DO LEITOR

Raciocínio simplista pode comprometer a argumentação

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O candidato baseou o texto no já conhecido paradoxo da educação brasileira: o aluno que conclui os dois primeiros ciclos de sua formação na rede pública geralmente não consegue garantir uma vaga nas universidades estaduais e federais, reconhecidas como instituições de alto nível.
Segundo o texto, é essa distorção que abre espaço para a expansão também no terceiro grau da rede privada de ensino, que facilita aos estudantes o ingresso em suas instituições.
O fato deplorável é que, muitas vezes oferecendo cursos de nível regular ou baixo, certos estabelecimentos tiram proveito da situação em que se encontra o ensino no país e, em busca do lucro, facilitam a obtenção do tão desejado diploma. Isso, segundo o texto, faz que a formação universitária "vá ganhando uma conotação depreciativa". O aluno quis dizer, possivelmente, que o diploma de curso superior vem perdendo o prestígio -haja vista o grande contingente de desempregados de nível universitário.
De modo geral, o candidato abordou bem o tema. No decorrer do texto, estabelecem-se relações de causa e efeito, que traçam uma linha que se propõe explicar o processo de mercantilização da educação.
Merece reparo, porém, o ponto de partida desse raciocínio, em que o candidato parece enxergar como origem do problema um possível privilégio do investimento no ensino superior com vista à obtenção de "retorno" mais rápido -tese que carece de comprovação.
O raciocínio é simplista -toma como verdade aquilo que, no máximo, poderia ser tratado como hipótese.
Uma formulação imprecisa no parágrafo de abertura do texto pode comprometer toda a argumentação.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha


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