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REDAÇÃO DO LEITOR
Raciocínio simplista pode comprometer a argumentação
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O candidato baseou o texto no
já conhecido paradoxo da
educação brasileira: o aluno
que conclui os dois primeiros
ciclos de sua formação na rede
pública geralmente não consegue garantir uma vaga nas universidades estaduais e federais,
reconhecidas como instituições de alto nível.
Segundo o texto, é essa distorção que abre espaço para a
expansão também no terceiro
grau da rede privada de ensino,
que facilita aos estudantes o ingresso em suas instituições.
O fato deplorável é que, muitas vezes oferecendo cursos de
nível regular ou baixo, certos
estabelecimentos tiram proveito da situação em que se encontra o ensino no país e, em busca
do lucro, facilitam a obtenção
do tão desejado diploma. Isso,
segundo o texto, faz que a formação universitária "vá ganhando uma conotação depreciativa". O aluno quis dizer,
possivelmente, que o diploma
de curso superior vem perdendo o prestígio -haja vista o
grande contingente de desempregados de nível universitário.
De modo geral, o candidato
abordou bem o tema. No decorrer do texto, estabelecem-se
relações de causa e efeito, que
traçam uma linha que se propõe explicar o processo de
mercantilização da educação.
Merece reparo, porém, o
ponto de partida desse raciocínio, em que o candidato parece
enxergar como origem do problema um possível privilégio
do investimento no ensino superior com vista à obtenção de
"retorno" mais rápido -tese
que carece de comprovação.
O raciocínio é simplista -toma como verdade aquilo que,
no máximo, poderia ser tratado como hipótese.
Uma formulação imprecisa
no parágrafo de abertura do
texto pode comprometer toda
a argumentação.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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