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HISTÓRIA
Movimento militar e concentração de renda
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em outra ocasião, tive a oportunidade de afirmar que o golpe
de Estado desferido pelos militares em 1964 foi a solução de uma
luta política que vinha se desenvolvendo desde o fim da 2ª Guerra Mundial.
O fator que precipitou o golpe
foi a decisão do governo João
Goulart de implementar o Programa das Reformas de Base, que
propunha, entre outras coisas, a
reforma agrária e a ampliação da
ação do Estado na economia. Tal
projeto tinha o apoio das forças
nacionalistas, representadas pelo
antigo PTB, e da esquerda organizada na CGT, na UNE, no PCB e
nas Ligas Camponesas. O pretexto para depor o presidente foi o
seu apelo às bases das Forças Armadas para que apoiassem o seu
governo, o que foi interpretado
como uma ameaça à hierarquia.
A intervenção militar contou
com o apoio de amplos setores da
sociedade brasileira: classe média,
empresários, fazendeiros, meios
de comunicação e setores da igreja. No plano internacional, o
apoio político e a retaguarda militar dos EUA foram decisivos para
dar sustentação ao golpe.
No plano econômico, contrariamente ao que se imagina, o movimento militar não rompeu com o
"modelo econômico" que fora
implantado no governo Juscelino
Kubitschek. A indústria automobilística seguiu como centro dinâmico da economia nacional, e
ampliaram-se os demais setores
de bens de consumo duráveis
(eletrodomésticos, eletroeletrônicos etc). Para possibilitar altas taxas de acumulação de capital, os
sindicatos foram desorganizados,
a rotatividade de mão-de-obra foi
facilitada por meio do FGTS e os
ganhos de produtividade não foram transferidos para os salários.
Só para dar uma idéia, em 1959,
um trabalhador da indústria necessitava ganhar o equivalente a
65 horas de trabalho para adquirir
uma ração essencial mínima. Em
1979, para adquirir essa mesma
ração, ele precisava trabalhar 153
horas. Em 1960, os 10% mais ricos
da população detinham 39% da
renda nacional. Em 1980, eles passaram a deter 51%, nível que, com
ligeiras variações, mantém-se até
os dias atuais. Os 10% mais pobres detinham 17% da renda em
1960. Em 1980, detinham 12%.
Em geral, os analistas enfatizam
os efeitos políticos danosos do
movimento militar. Mas é importante destacar também que o movimento contribuiu ativamente
para produzir os níveis escandalosos de concentração de renda
que o país exibe hoje.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC.
E-mail: roberson.co@uol.com.br
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