|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUÍMICA
Pepitas de sódio no sertão nordestino?
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Ao pegar uma pepita desgastada de um metal cinzento, dizia: "Densa, não é?", e a jogava para
mim. É uma pepita de platina. É
assim que elas são encontradas,
como pepitas de metal puro. A
maioria dos metais é encontrada
em combinação com outras coisas, nos minérios. Existem pouquíssimos outros metais que
ocorrem sem mistura. Como a
platina, apenas o ouro, a prata, o
cobre e um ou outro mais" (trecho extraído do ótimo livro "Tio
Tungstênio", de Oliver Sacks).
Mas por que é assim? Por que só
alguns poucos metais são encontrados puros na natureza?
Para entender, você deve saber a
diferença entre forma metálica e
forma oxidada de um metal. Por
exemplo, na natureza, o ferro costuma ser encontrado como o minério hematita, combinado com o
oxigênio (Fe2O3). Dizemos que ele
está oxidado (sua carga é +3). Já
nas vigas da construção civil, ele é
o ferro metálico (Fe0, sua carga é
nula). Na natureza, não há Fe0. Ele
é produzido a partir dos minérios
de ferro (como a hematita).
Quando o ferro é exposto ao ar,
ele se oxida (enferruja), como se
estivesse querendo voltar a ser hematita. É como se a natureza preferisse que o metal permanecesse
na sua forma oxidada. Mas por
que o ferro sofre essa transformação e a platina não?
A resposta está no potencial de
oxidação. É ele que mede a "vontade" que um metal tem de se oxidar. Para entender, imagine uma
montanha: no topo, situe os metais alcalinos e alcalinos-terrosos
(grupos um e dois da tabela periódica, respectivamente). Um pouco abaixo, mas antes de chegar ao
nível do mar (onde colocaremos o
hidrogênio), coloque o zinco e o
ferro. Por último, imagine uma
depressão abaixo do nível do mar,
onde estão: platina, ouro, prata e
cobre. Percebeu algo? Os metais
citados por Oliver Sacks estão todos nessa depressão. São os que
não sofrem (muito) a ação oxidante da atmosfera. Resumindo:
quanto mais alto o metal estiver
nessa montanha, maior será sua
"vontade" de se oxidar. Mais difícil será encontrá-lo puro.
Há alguns anos, uma prova de
vestibular perguntou se seria possível um dia lermos a seguinte
manchete nos jornais: "Encontradas minas de sódio no sertão nordestino". O que você acha? Do
ponto de vista químico, essa manchete é possível? Se tiver alguma
dúvida, mande-me um e-mail.
Átomos, elementos, metais, oxidações... Esse é o mundo da química. O mundo em que vivemos.
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna.
E-mail:
lula5@ig.com.br
Texto Anterior: Vale a pena saber - Matemática: A felicidade numa fórmula matemática Próximo Texto: História: Movimento militar e concentração de renda Índice
|