São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002
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FÍSICA

Decibéis e a "bordoada na orelha"

TARSO PAULO RODRIGUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Recentemente uma reportagem publicada no caderno Equilíbrio (7/5/2002) abordou o nível sonoro em 20 pontos diferentes da cidade de São Paulo. O campeão da barulheira alcançou 81 dB (decibéis) e o 20º colocado atingiu alarmantes 76 dB. O primeiro e o último colocados são avenidas de intenso tráfego de veículos e, sobretudo, de pessoas, que, ao se exporem a tantos ruídos, podem sofrer aumento do batimento cardíaco, cefaléia, fadiga, dificuldade de concentração e perda auditiva, entre outros distúrbios.
A física explica como as ondas do som são percebidas pelo homem em seus diferentes níveis sonoros (decibéis). A intensidade sonora, ou "volume" do som, indica a potência transportada pela onda ao atingir uma determinada área, sendo representada pela letra I e medida em watts/m2. Quando um rádio está ligado em seu volume máximo, o som emitido por ele é de grande intensidade, já o tique-taque de um relógio é de pequena intensidade.
Experiências mostram que a percepção do nosso sistema auditivo não é linear. Um bom exemplo ocorre num estádio de futebol, em que o nível sonoro normal é de 60 dB (conversa em voz normal). Na hora do gol, a intensidade sonora amplia-se mil vezes, mas o nível não aumenta para 60 mil dB -e sim para 90 dB.
A diferença do nível sonoro N, em decibéis, entre as intensidades I1 e I2 de dois sons, é dada através de uma escala logarítmica: N=10.log I1/I2. Uma aplicação da fórmula é calcularmos a "poluição sonora" causada por uma pessoa ao emitir um grito. Sabendo que a intensidade sonora de um murmúrio é I2=10-10 watts/m2 (20 dB) e a de um grito é I1=10-4 watts/m2 (1 milhão de vezes mais intenso que o murmúrio), podemos concluir que o nível sonoro atinge "desconfortáveis" 80 dB!
Indistintamente para sons baixos (graves) ou altos (agudos), atingimos o limite da sensação dolorosa acima de 140 dB (jato decolando a 30 m). Níveis aceitáveis, como reforçou a reportagem, são 55 dB para o dia e 45 dB para a noite. Acima de 100 dB (danceterias, shows de rock, britadeiras etc.), os danos causados são cumulativos e irreversíveis.
Para minimizar os efeitos da barulheira que nos cerca, podemos, entre outras medidas, instalar em casa janelas com vidros duplos e paredes duplas não conectadas entre si ou simplesmente nos afastar da fonte sonora. É reconfortante saber que, ao dobrarmos a distância em relação à fonte "poluidora", o nível sonoro diminui 6 dB.


Tarso Paulo Rodrigues é professor e coordenador de física do Colégio Augusto Laranja


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