São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002
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VALE A PENA SABER

PORTUGUÊS

Não diga "mais melhor" nem "menos pior"

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem nunca teve dúvida na hora de usar melhor ou melhores, pior ou piores? Essa confusão é comum e deve-se ao fato de essas palavras serem formações irregulares dos graus comparativo e superlativo relativo de superioridade tanto dos adjetivos bom e mau -que têm plural- como dos advérbios bem e mal -que são invariáveis. Daí as formas melhores e piores, no plural, serem flexões apenas dos adjetivos bom e mau.
Para compararmos dois elementos que tenham em comum o fato de serem bons ou maus, dizemos, respectivamente, que um é melhor ou pior que o outro. Ao dizermos, por exemplo, que um texto é melhor que o outro, pressupomos que os dois sejam bons. Mas, se um é pior que o outro, é sinal de que os dois são maus. As formas melhor e pior são intensificadoras. No grau comparativo de adjetivos, elas têm plural. Assim: "Alguns textos são melhores (isto é, mais bons) ou piores (isto é, mais maus) que outros".
Mas, no grau comparativo de superioridade de advérbios, essas formas se manterão invariáveis. Assim: "As crianças comportaram-se melhor (isto é, mais bem) ou pior (isto é, mais mal) que os adultos". É preciso observar no contexto se melhor e pior são adjetivos ou advérbios, o que não é difícil. O adjetivo caracteriza um substantivo; o advérbio modifica um verbo. Se forem equivalentes a mais bom e a mais mau, melhor e pior serão adjetivos e admitirão o plural; no lugar de mais bem e de mais mal, melhor e pior serão invariáveis.
Embora em geral não se usem as expressões mais bom e mais mau, há um caso em que só elas exprimem exatamente o que se pretende. Isso ocorre quando se comparam dois atributos de um mesmo ser. Assim: "Ele é mais bom que bonito"; "Embora fosse horrível, era mais mau que feio".
As formas mais bem e mais mal também são usadas, mas somente diante de particípios. Assim: "Seu quarto é mais bem (e não melhor) ou mais mal (e não pior) decorado que o meu".
Sabendo que melhor e pior são comparativos ou superlativos relativos de superioridade, entendem-se por redundantes construções como mais melhor ou mais pior. Mas há quem se esqueça de que menos pior, construção que vez ou outra se insurge até em bons textos, também não se sustenta de um ponto de vista lógico. Ora, se pior é mais mau ou mais mal, menos pior será menos mais mau ou menos mais mal. O ideal, então, é dizer menos mau ou menos mal, de acordo com a ocasião.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha. Foi responsável pelas aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura


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