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VALE A PENA SABER
PORTUGUÊS
Não diga "mais melhor" nem "menos pior"
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quem nunca teve dúvida na hora de usar melhor ou melhores,
pior ou piores? Essa confusão é
comum e deve-se ao fato de essas
palavras serem formações irregulares dos graus comparativo e superlativo relativo de superioridade tanto dos adjetivos bom e mau
-que têm plural- como dos advérbios bem e mal -que são invariáveis. Daí as formas melhores
e piores, no plural, serem flexões
apenas dos adjetivos bom e mau.
Para compararmos dois elementos que tenham em comum o
fato de serem bons ou maus, dizemos, respectivamente, que um é
melhor ou pior que o outro. Ao
dizermos, por exemplo, que um
texto é melhor que o outro, pressupomos que os dois sejam bons.
Mas, se um é pior que o outro, é
sinal de que os dois são maus. As
formas melhor e pior são intensificadoras. No grau comparativo
de adjetivos, elas têm plural. Assim: "Alguns textos são melhores
(isto é, mais bons) ou piores (isto
é, mais maus) que outros".
Mas, no grau comparativo de
superioridade de advérbios, essas
formas se manterão invariáveis.
Assim: "As crianças comportaram-se melhor (isto é, mais bem)
ou pior (isto é, mais mal) que os
adultos". É preciso observar no
contexto se melhor e pior são adjetivos ou advérbios, o que não é
difícil. O adjetivo caracteriza um
substantivo; o advérbio modifica
um verbo. Se forem equivalentes
a mais bom e a mais mau, melhor
e pior serão adjetivos e admitirão
o plural; no lugar de mais bem e
de mais mal, melhor e pior serão
invariáveis.
Embora em geral não se usem
as expressões mais bom e mais
mau, há um caso em que só elas
exprimem exatamente o que se
pretende. Isso ocorre quando se
comparam dois atributos de um
mesmo ser. Assim: "Ele é mais
bom que bonito"; "Embora fosse
horrível, era mais mau que feio".
As formas mais bem e mais mal
também são usadas, mas somente
diante de particípios. Assim: "Seu
quarto é mais bem (e não melhor)
ou mais mal (e não pior) decorado que o meu".
Sabendo que melhor e pior são
comparativos ou superlativos relativos de superioridade, entendem-se por redundantes construções como mais melhor ou mais
pior. Mas há quem se esqueça de
que menos pior, construção que
vez ou outra se insurge até em
bons textos, também não se sustenta de um ponto de vista lógico.
Ora, se pior é mais mau ou mais
mal, menos pior será menos mais
mau ou menos mais mal. O ideal,
então, é dizer menos mau ou menos mal, de acordo com a ocasião.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha. Foi responsável pelas aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura
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