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PORTUGUÊS
Pleonasmo deve ser evitado na linguagem escrita
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Entrar dentro de um túnel, sair
fora de algum lugar, descer lá
embaixo ou subir lá em cima.
Certamente essas expressões não
soam estranhas aos nossos ouvidos, dado que, na linguagem afetiva do dia-a-dia, seu uso é bastante comum.
Tais construções reforçam uma
idéia que, no entanto, já está suficientemente clara no contexto.
Ainda que se justifiquem do ponto de vista da expressividade da
língua oral, tais expressões não
têm seu emprego recomendado
na língua escrita, geralmente mais
enxuta ou mais formal.
Estamos tratando de um tipo de
construção que a gramática chama de pleonasmo. A ação de entrar, por exemplo, pressupõe que
se vá passar para dentro de algum
lugar -daí a redundância de entrar dentro. O mesmo vale para
adentrar o interior de um lugar.
É fato que muita gente já se deu
conta da impropriedade dessas
seqüências, que pecam pela redundância, e já tratou de bani-las
de sua redação. Mas é fato também que outras de igual calibre se
insurgem sorrateiramente em
textos que se pretendem objetivos
-e não afetivos. Observe o seguinte trecho, extraído de uma
notícia de jornal: "O governo do
PT faz ouvidos moucos e incoerentemente anuncia que pretende
fixar um teto máximo (...)". Ora, o
que se chama de teto salarial, por
catacrese, já é necessariamente o
valor mais alto -essa é a idéia
subjacente ao uso metafórico da
palavra teto. O mesmo se aplica à
expressão piso mínimo: "Para encarar esses gastos, o BC conta, hoje, com mais de US$ 17 bilhões em
reservas livres para intervenção,
ou seja, acima do piso mínimo
exigido pelo FMI". Se é piso, só
pode ser mínimo.
Também pleonástica é a expressão quórum mínimo, pois a palavra quórum já designa um número mínimo de pessoas. Encarar de
frente o adversário, público-alvo
almejado ou mesmo status quo
vigente (status quo é o estado em
que se encontra uma questão)
também são redundantes.
A repórter na televisão, a propósito de criticar a falta de segurança
de um museu, mostrava que os
objetos eram protegidos apenas
por vitrines de vidro. Bem, a palavra vitrine (ou vitrina), como se
pode até intuir, designa um móvel
envidraçado. Desnecessário, portanto, explicitar o óbvio.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da
Folha.
E-mail:tnicoleti@folhasp.com.br
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