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      São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003
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PORTUGUÊS

Pleonasmo deve ser evitado na linguagem escrita

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Entrar dentro de um túnel, sair fora de algum lugar, descer lá embaixo ou subir lá em cima. Certamente essas expressões não soam estranhas aos nossos ouvidos, dado que, na linguagem afetiva do dia-a-dia, seu uso é bastante comum.
Tais construções reforçam uma idéia que, no entanto, já está suficientemente clara no contexto. Ainda que se justifiquem do ponto de vista da expressividade da língua oral, tais expressões não têm seu emprego recomendado na língua escrita, geralmente mais enxuta ou mais formal.
Estamos tratando de um tipo de construção que a gramática chama de pleonasmo. A ação de entrar, por exemplo, pressupõe que se vá passar para dentro de algum lugar -daí a redundância de entrar dentro. O mesmo vale para adentrar o interior de um lugar.
É fato que muita gente já se deu conta da impropriedade dessas seqüências, que pecam pela redundância, e já tratou de bani-las de sua redação. Mas é fato também que outras de igual calibre se insurgem sorrateiramente em textos que se pretendem objetivos -e não afetivos. Observe o seguinte trecho, extraído de uma notícia de jornal: "O governo do PT faz ouvidos moucos e incoerentemente anuncia que pretende fixar um teto máximo (...)". Ora, o que se chama de teto salarial, por catacrese, já é necessariamente o valor mais alto -essa é a idéia subjacente ao uso metafórico da palavra teto. O mesmo se aplica à expressão piso mínimo: "Para encarar esses gastos, o BC conta, hoje, com mais de US$ 17 bilhões em reservas livres para intervenção, ou seja, acima do piso mínimo exigido pelo FMI". Se é piso, só pode ser mínimo.
Também pleonástica é a expressão quórum mínimo, pois a palavra quórum já designa um número mínimo de pessoas. Encarar de frente o adversário, público-alvo almejado ou mesmo status quo vigente (status quo é o estado em que se encontra uma questão) também são redundantes.
A repórter na televisão, a propósito de criticar a falta de segurança de um museu, mostrava que os objetos eram protegidos apenas por vitrines de vidro. Bem, a palavra vitrine (ou vitrina), como se pode até intuir, designa um móvel envidraçado. Desnecessário, portanto, explicitar o óbvio.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha. E-mail:tnicoleti@folhasp.com.br


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