São Paulo, segunda-feira, 01 de janeiro de 2001

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MEMÓRIA

Para ele não havia luz ruim, mas falta de inspiração

ED VIGGIANI
REPÓRTER FOTOGRÁFICO

Francisco Albuquerque morreu no último dia 26 do século 20. Acredito que alguns fotógrafos não morrem, apenas a alma vira sépia. No caso do Chico, não só sua obra é importante, mas também a quantidade de fotógrafos que formou e influenciou. Para a minha sorte, estou entre eles.
Trabalhei com ele em 81 no jornal "O Povo", de Fortaleza, e como assistente no estúdio da Mark Propaganda (82). Experiência fundamental para a minha formação.
O Ceará tem uma boa tradição fotográfica, muito por conta do trabalho de "seu" Chico. Era assim que ele era chamado por quase todos, mesmo pedindo para ser tratado por "tio" Chico, ou apenas Chico. Mas era impossível não trata-lo como "senhor". Era uma universidade da fotografia viva, ali presente e ensinando a todo o momento.
Apesar de trabalhar muito no estúdio, sabia aproveitar e explorar a luz ambiente. Dizia sempre que nunca havia luz ruim, apenas falta de inspiração. Ele sempre foi o melhor em tudo que fez. Quando a indústria automobilística foi instalada no Brasil, importava o layout e as fotos para os anúncios, até o "seu" Chico começar a produzir para as agências locais, invertendo a relação.
Ele tinha cara de alemão com sotaque cearense. E muita sensibilidade. Gostava de projetar seus estúdios e as suas casas, mesmo não sendo arquiteto. Acreditava que, para alguém ser fotógrafo, tinha que ser ao mesmo tempo matemático, físico, químico e sociólogo; inimaginável nestes tempos modernos em que o Photoshop tudo pode ou tudo salva.
"Seu" Chico era modesto e sincero. Não fazia elogios gratuitos e nem era dado a modismos. Pelo contrário, criticava o oba-oba.



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