São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2005

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LIVROS

ENSAIO

"Filósofos Futebol Clube", do inglês Mark Perryman, é lançado no Brasil

Seleção de filósofos joga futebol em ensaios com humor e clichês

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Parece existir hoje um consenso na "intelligentsia" ocidental de que o futebol, longe de ser o ópio do povo, é um campo inesgotável de reflexão sobre a cultura e as relações sociais.
Não por acaso, o norte-americano Franklin Foer publicou recentemente um livro chamado "How Soccer Explains the World" (Como o Futebol Explica o Mundo). No Brasil, essa percepção vem de longe. De Gilberto Freyre a Roberto DaMatta, de Nélson Rodrigues a José Miguel Wisnik, muitos perceberam o potencial dramático, analítico e expressivo do futebol.
É nessa seara, a das conexões do futebol com a "alta cultura", que se insere o livro "Filósofos Futebol Clube", publicado em 1997 pelo inglês Mark Perryman e agora lançado no Brasil.
A idéia de Perryman, pesquisador da Universidade de Brighton e criador da grife esportiva Philosophy Football, é no mínimo curiosa: escalar uma seleção de 11 grandes pensadores (entre filósofos, escritores e músicos) como se fosse um time de futebol. Cada capítulo busca traduzir em termos de táticas e estilos futebolísticos a contribuição de cada um deles à cultura humana. A seleção de Perryman é formada por Albert Camus, Simone de Beauvoir, Jean Baudrillard, William Shakespeare e Ludwig Wittgenstein na defesa; Friedrich Nietzsche, Sun Tzu e Antonio Gramsci no meio-campo; Oscar Wilde, Umberto Eco e Bob Marley no ataque.
A partir dessa idéia, o autor poderia ter feito um livro brilhante, se tivesse buscado mais a fundo analogias reais entre o jogo e o pensamento, em vez de ficar na superfície das piadas fáceis, jogos de palavras e clichês.
Ao falar de Camus (que de fato foi goleiro na juventude), por exemplo, Perryman diz que ele "atormentou tanto o técnico que este passou a considerá-lo uma peste, e Albert correu o risco de se tornar estrangeiro em seu próprio vestiário". Todo o humor do trecho reside na alusão óbvia aos livros "A Peste" e "O Estrangeiro". Não ilumina nem o futebol e nem a filosofia.
O que dizer de Shakespeare? "Na defesa, Will não dava o mesmo espetáculo que nos velhos tempos, e suas criações, embora cheias de personalidade, eram uma comédia de erros".
Esse tipo de humor ligeiro nem é novo, como sabe o leitor das colunas de futebol que José Roberto Torero publicava até há pouco tempo na Folha. Pensando bem, "Filósofos Futebol Clube" é como uma coluna de Torero esticada e diluída ao extremo.


Filósofos Futebol Clube
  
Autor: Mark Perryman
Tradução: Mário Vilela
Editora: Disal
Quanto: R$ 29,80 (104 págs.)



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