|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVROS
ENSAIO
"Filósofos Futebol Clube", do inglês Mark Perryman, é lançado no Brasil
Seleção de filósofos joga futebol em ensaios com humor e clichês
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Parece existir hoje um consenso na "intelligentsia" ocidental de que o futebol, longe de
ser o ópio do povo, é um campo
inesgotável de reflexão sobre a
cultura e as relações sociais.
Não por acaso, o norte-americano Franklin Foer publicou recentemente um livro chamado
"How Soccer Explains the World"
(Como o Futebol Explica o Mundo). No Brasil, essa percepção
vem de longe. De Gilberto Freyre
a Roberto DaMatta, de Nélson
Rodrigues a José Miguel Wisnik,
muitos perceberam o potencial
dramático, analítico e expressivo
do futebol.
É nessa seara, a das conexões do
futebol com a "alta cultura", que
se insere o livro "Filósofos Futebol Clube", publicado em 1997
pelo inglês Mark Perryman e agora lançado no Brasil.
A idéia de Perryman, pesquisador da Universidade de Brighton
e criador da grife esportiva Philosophy Football, é no mínimo curiosa: escalar uma seleção de 11
grandes pensadores (entre filósofos, escritores e músicos) como se
fosse um time de futebol. Cada capítulo busca traduzir em termos
de táticas e estilos futebolísticos a
contribuição de cada um deles à
cultura humana. A seleção de
Perryman é formada por Albert
Camus, Simone de Beauvoir, Jean
Baudrillard, William Shakespeare
e Ludwig Wittgenstein na defesa;
Friedrich Nietzsche, Sun Tzu e
Antonio Gramsci no meio-campo; Oscar Wilde, Umberto Eco e
Bob Marley no ataque.
A partir dessa idéia, o autor poderia ter feito um livro brilhante,
se tivesse buscado mais a fundo
analogias reais entre o jogo e o
pensamento, em vez de ficar na
superfície das piadas fáceis, jogos
de palavras e clichês.
Ao falar de Camus (que de fato
foi goleiro na juventude), por
exemplo, Perryman diz que ele
"atormentou tanto o técnico que
este passou a considerá-lo uma
peste, e Albert correu o risco de se
tornar estrangeiro em seu próprio
vestiário". Todo o humor do trecho reside na alusão óbvia aos livros "A Peste" e "O Estrangeiro".
Não ilumina nem o futebol e nem
a filosofia.
O que dizer de Shakespeare?
"Na defesa, Will não dava o mesmo espetáculo que nos velhos
tempos, e suas criações, embora
cheias de personalidade, eram
uma comédia de erros".
Esse tipo de humor ligeiro nem
é novo, como sabe o leitor das colunas de futebol que José Roberto
Torero publicava até há pouco
tempo na Folha. Pensando bem,
"Filósofos Futebol Clube" é como
uma coluna de Torero esticada e
diluída ao extremo.
Filósofos Futebol Clube
Autor: Mark Perryman
Tradução: Mário Vilela
Editora: Disal
Quanto: R$ 29,80 (104 págs.)
Texto Anterior: Manuel da Costa Pinto: Laboratórios de prosa e verso Próximo Texto: Panorâmica - Erudito: Sinfônica Petrobras lança concurso para solistas Índice
|