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MANUEL DA COSTA PINTO
Laboratórios de prosa e verso
MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA FOLHA
Revistas literárias são um
termômetro das tendências
estéticas e de sua recepção crítica.
Como dizia o poeta José Paulo
Paes, uma das funções desses periódicos é ser um laboratório para
os escritores "testarem" seus textos antes da publicação em livro.
Surpreendentemente, o ano de
2004 foi bastante rico nesse aspecto, com o surgimento de novos títulos e a sobrevivência de publicações importantes, que desafiam o
marasmo econômico no qual
muitas revistas naufragaram nos
últimos anos.
Quase todas trazem textos críticos e inéditos de prosa ou poesia,
mas com ênfases diferentes. Assim, a "Inimigo Rumor" -R$ 25,
coedição da 7 Letras com a Cosac
Naify (www.cosacnaify.com.br)- chega ao número 16 com
trabalhos de poetas brasileiros e
de franceses como Philippe Beck e
C. Tarkos, mas também inclui
uma das últimas entrevistas de
Sebastião Uchoa Leite, morto em
2003. Já a "Ficções" (R$ 15), da 7
Letras (www.7letras.com.br), é
exclusivamente voltada para a
prosa e chega ao número 13 reunindo autores conhecidos, como
Cadão Volpato e Charles Kiefer, e
contistas praticamente inéditos,
ao lado de entrevista com Wilson
Bueno.
Essas duas revistas podem ser
consideradas decanas de nosso
meio editorial e, por isso mesmo,
já passaram por suas páginas uma
diversidade de escritores que torna difícil identificar um viés dominante.
É nas publicações surgidas mais
recentemente, portanto, que se
percebe um caráter "programático", ainda que distante do tom
reivindicatório das extintas vanguardas.
Duas revistas do Paraná -"Coyote", de Londrina, e "Oroboro",
de Curitiba (ambas distribuídas
pela Iluminuras, www.iluminuras.com.br)- associam experimentalismo formal a aspectos
transgressivos da tradição beatnik. Em seu número 9, "Coyote"
(R$ 10) traduz uma belíssima série de poemas de Paul Auster e
mini-contos do cineasta Peter
Greenaway -mas também traz
entrevista com Roberto Piva (ícone vivo da contracultura), além de
inéditos que incluem fragmentos
de uma paródia aos "Lusíadas",
por Marcos Satoru Kawanami.
Já a "Oroboro" número 2 (R$
10) promove a interlocução entre
o verbal e o visual, com intervenções da escultora Eliane Prolik sobre placas de trânsito, fotos e textos da performance "Regurgitofagia", de Michel Melamed, e o trabalho da artista Elida Tessler com
o poeta Manoel Ricardo de Lima,
estabelecendo um sistema de "vasos comunicantes e falas inacabadas" entre objetos cotidianos.
No pólo oposto, "Babel" (R$ 20,
e-mail: revistababel@uol.
com.br) tem sido um espaço
aberto para novíssimos poetas,
mas com ênfase em trabalhos
com dimensão socialmente crítica. Prova disso são as traduções
dos caribenhos Derek Wallcot e
Linton Kwesi Johnson e os poemas de autores oriundos de espaços de exclusão social, como Marcelo Ariel, de Cubatão (SP), autor
do "Vila Socó Libertada" - feliz
descoberta de "Babel", cujo número 6 traz entrevista com João
Cabral de Melo Neto, feita pouco
antes de sua morte pela documentarista Cristina Fonseca.
Algumas revistas possuem
grande afinidade, pelo fato de terem os mesmos colaboradores. É
o caso de "Cacto" (R$ 18, editora
Unimarco, e-mail: unimarco@smarcos.br), cujo quarto número entrevista Paulo Henriques
Britto, e da recém-criada "Jandira", de Juiz de Fora (R$ 10, e-mail:
revistajandira@yahoo.com.br).
Em ambas, encontramos poetas
que procuram desdobrar o repertório do alto modernismo representado por Drummond, Bandeira, Murilo Mendes, João Cabral,
os concretos etc.
São nomes como os de Fabio
Weintraub, Tarso de Melo,
Eduardo Sterzi, Pádua Fernandes,
que também participam da revista "Rodapé" (R$ 26,90, e-mail:
nankin@nankin.com.br), única
dedicada exclusivamente à crítica
literária, com resenhas que acompanham a produção dos últimos
anos sob um olhar marcado pela
leitura de Adorno e Roberto
Schwarz -como se pode ler no
ensaio de Priscila Figueiredo sobre "O Filantropo", de Rodrigo
Naves, e nos textos de uma mesa-redonda envolvendo críticos como Iná Camargo Costa, Paulo
Arantes e o próprio Schwarz.
Capítulo à parte, finalmente, é
"Teresa" (R$ 35, www.editora34.com.br), cujo número duplo
4/5 discute as relações entre literatura e música desde Machado de
Assis até os Racionais MCs.
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