São Paulo, domingo, 01 de janeiro de 2006 |
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TELEVISÃO Ator, acadêmicos e dramaturgos comentam rumos tomados pela rede aberta; jornalismo e novelas foram destaque Para analistas, queda da baixaria marcou 2005
MARCELO BARTOLOMEI Folha - 2005 foi um bom ano para
a TV brasileira? Por quê? Gilberto Braga - Muito bom, especialmente pelo fato de a Record
dar força à dramaturgia. Juca de Oliveira - Foi um bom
ano. Houve importante estímulo
a uma programação mais ousada
com "Hoje É Dia de Maria". A Record se firmou como produtora
de novelas de qualidade. Laurindo Lalo Leal Filho - Foi um
bom ano, especialmente para a
sociedade. O episódio do João
Kleber [que começou com o pedido de reclassificação e terminou
com o corte do sinal e a apresentação de programa educativo] foi
um fato inédito na história na TV
brasileira. 2005 também marcou
uma padronização das programações, cada vez mais parecidas. Lauro César Muniz - Foi muito
bom, principalmente para a teledramaturgia, gerando uma concorrência positiva e salutar. Folha - O que mais lhe agrada na
TV? Braga - Não sou um típico espectador de TV aberta. Mesmo assim, tenho visto "Belíssima" com
grande interesse. Oliveira - Na TV aberta, os jornais da Record, Rede TV! e SBT,
mais completos que os da Globo. Leal Filho - Programas que rompem com a rotina como as minisséries da Globo, que mostram a
potencialidade criativa da televisão brasileira. Temos uma TV
acomodada, com programas que
demoram a se renovar. Muniz - Gosto de jornalismo. Na
TV aberta, acompanho futebol e
novelas. Folha - Qual programa deveria
ser banido da TV em 2006? Braga - Não tenho motivo para
responder. Acho agressivo. Eu
sou da geração paz e amor. Oliveira - Os programas que exploram o aviltamento do ser humano: as pegadinhas, o estímulo a
que participantes comam coisas
nojentas e os de estilo "Big Brother", que exigem dos participantes uma pré-condição degradante. Se todos forem íntegros, de caráter e de princípios morais e éticos, o programa se torna chato. Leal Filho - Não gosto do termo
"banido". Programas de fofoca no
meio da tarde não trazem nenhuma contribuição para a sociedade. É uma forma de entretenimento pobre e pouco criativa. A
sociedade precisa criar mecanismos, apoiada pelo Estado, para
discutir o papel da televisão. Tiraria do ar programas que atentam
contra direitos humanos, dignidade das pessoas, visões de mundo e de grupos. Isso não pode ser
decidido por uma pessoa ou um
órgão do Estado, mas por um grupo que represente a sociedade. Muniz - Não gosto de programas
de auditório onde se exploram
coisas fáceis, escândalos marginais. Não incluo nisso os rapazes
do "Pânico", que fazem um tipo
de humor satírico, crítico e forte,
sem barreiras e até sem cuidado. É
preciso saber conviver com eles. Folha - O que falta à TV brasileira?
Que programas integrariam uma
TV ideal? Braga - Não sei responder. Eu
não sou um homem de televisão. Oliveira - Nossa TV é comercial.
Essa TV dos sonhos, com uma
programação de elevação cultural, não é uma aspiração realista.
Quando se eleva o nível de informação, cai proporcionalmente a
audiência. Assim como está, nossa televisão é muito boa. Leal Filho - Falta muita coisa. Em
jornalismo, documentários sobre
o cotidiano, além de debates políticos e mesas-redondas. A TV, entendida como serviço público, deveria prestar serviços. Na programação infanto-juvenil, há um vazio grande em dramaturgia. Muniz - Acho que a série "Mandrake" (HBO) é um caminho interessante, mesmo não sendo a
TV aberta um veículo para tamanha liberdade de dramaturgia. A
produção independente deve
crescer e demonstrar força. Folha - A nova classificação indicativa, que está em discussão no
Ministério da Justiça, pode ajudar
a controlar o que as crianças vêem? Braga - Espero que possa, mas
não é assunto que eu acompanhe. Oliveira - Não sei por que, de vez
em quando, o governo tenta ressuscitar procedimentos autoritários. O povo brasileiro tem vivíssimo na lembrança e na carne o que
sofreu com a censura da ditadura. Leal Filho - Embora seja apenas
indicativa, a classificação estabelecerá um parâmetro visual com
selos para que os pais saibam a
quem se destinam. O efeito pode
ser limitado, mas vai atingir as
emissoras, que operarão com
mais cuidado. Muniz - Censura não controla
qualidade em hipótese alguma.
Os produtores têm de responder
pelo que levam à TV. Acho que
seria melhor outra maneira de selecionar o que se vê em casa. |
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