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Instabilidade política marcou o governo Juscelino
MARCO ANTONIO VILLA
ESPECIAL PARA A FOLHA
No Brasil, temos enorme dificuldade de tratar o passado,
especialmente o mais recente.
Qualquer crítica parece uma heresia. O governo Juscelino Kubitschek foi marcado por vários êxitos inegáveis. JK assumiu a Presidência numa conjuntura política
muito difícil. Em novembro de
1955, um mês após a sua eleição
-quando recebeu pouco mais de
um terço do total de votos-, foram necessárias duas intervenções do ministro da Guerra para
que pudesse tomar posse: na primeira foi retirado da Presidência
o deputado Carlos Luz e na segunda foi impedido o retorno de
Café Filho, o presidente licenciado. Acabou assumindo o governo
o senador Nereu Ramos. Ou seja,
entre novembro de 55 e janeiro de
56, o Brasil teve três presidentes.
A instabilidade política marcou
o qüinqüênio juscelinista. Houve
duas tentativas de golpe militar
patrocinada por oficiais da Aeronáutica -Jacareacanga e Aragarças- que acabaram fracassando.
Mas, durante o governo, não houve ano sem que tenham sido presos por indisciplina dezenas de
oficiais militares. Como os rebelados acabaram anistiados, isto acabou estimulando novas tentativas
golpistas. E pior: ao lançar como
candidato oficial à sua sucessão o
marechal Teixeira Lott, em 1960,
manteve no centro da luta política
as Forças Armadas -recordando
que nas três eleições anteriores tivemos duas vezes o brigadeiro
Eduardo Gomes como candidato
e uma vez o general Juarez Távora. Numa república marcada por
quarteladas, isso foi extremamente nocivo para a democracia.
No campo econômico é inegável o progresso. Contudo deve ser
lembrado o custo de um crescimento sem o devido planejamento. A inflação aumentou ano a
ano, cresceu a dívida externa e
disparou a dívida pública. A construção de Brasília favoreceu as
empreiteiras -parte delas, mineiras-, e no Congresso Nacional a oposição denunciou inúmeras vezes o desvio de recursos públicos. O governo, porém, criou
dificuldades para a instalação de
CPIs, além de cooptar parcela dos
oposicionistas, como o deputado
udenista Antonio Carlos Magalhães. A mudança da capital federal acabou também iniciando o
processo de decadência econômica do Rio de Janeiro: não houve
nenhum programa federal que
possibilitasse a transição da antiga capital para o Estado da Guanabara.
JK marcou seu qüinqüênio também por uma velha prática nacional: usar o poder para favorecer
os amigos e aliados. O Dnocs serviu como instrumento eleitoral
nas eleições estaduais de 1958 no
Nordeste -ano de seca. Inchou a
máquina pública e distribuiu benesses. Um dos agraciados foi o
então deputado Armando Falcão,
seu ministro da Justiça por um
ano e meio. Antes de sair do governo, deu ao amigo um cartório
no Rio de Janeiro.
Quando passou o governo a Jânio Quadros, deixou algumas
bombas econômicas de efeitos retardados e o país com sérios problemas de crédito externo, pois
em 1959, em um gesto preparatório para a campanha de 1965,
rompeu com o Fundo Monetário
Internacional.
Marco Antonio Villa é professor de história da Universidade Federal de São
Carlos (SP) e autor de, entre outras
obras, "Jango, um Perfil" (editora Globo)
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