São Paulo, domingo, 01 de janeiro de 2006

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PIOROU

Série morreu, e esqueceram de enterrá-la

LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Muitos fãs não vão gostar de ler isto, mas lá vai: "24 Horas" deveria ter acabado na primeira temporada. Mais especificamente, na metade do primeiro ano, lá pela décima segunda hora, quando Jack Bauer deixa de ter como missão secreta assassinar o então candidato democrata à Presidência, David Palmer, para salvar sua família seqüestrada.
A partir daquela hora, quando Bauer sai do papel de agente duplo e se concentra em perseguir os terroristas que ameaçam Palmer, a série perde encanto e passa apenas a utilizar reviravoltas para surpreender o espectador.
Não que "24" não tenha méritos -ao contrário, é um marco no seriado televisivo por duas razões centrais. Uma é estética: a ação contínua, em tempo real, nunca tinha sido utilizada de forma tão radical e intensa em outros programas de TV, refletindo o ritmo acelerado e integrado da sociedade atual. A outra é histórica: "24" é "o" seriado pós-11 de Setembro -muito mais ágil do que o cinema, foi a primeira ficção audiovisual a ter o terrorismo de larga escala como personagem principal.
No fundo, mais do que qualquer trama, são esses os dois pontos que mantiveram a série viva, com audiência elevada, nas três temporadas seguintes.
Esse périplo todo para concluir que, nesta quarta temporada que sai em DVD e chega também à Globo, o frenesi e a paranóia do mundo contemporâneo estão lá, mas o recurso às reviravoltas deixa de surpreender e passa a ofender a inteligência do espectador.
Um único exemplo: em meio a uma crise nacional, com o presidente Keeler (republicano) hospitalizado e seu vice (também republicano) em desespero, quem é chamado para resolver o problema? David Palmer, o candidato democrata da primeira temporada e presidente nas duas seguintes. É como se, no auge da crise do "mensalão", o presidente Lula tivesse pedido ajuda e conselhos a FHC e ao seu tucanato.
Dá pra levar a sério?


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