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PIOROU
Série morreu, e esqueceram de enterrá-la
LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Muitos fãs não vão gostar de
ler isto, mas lá vai: "24 Horas" deveria ter acabado na primeira temporada. Mais especificamente, na metade do primeiro
ano, lá pela décima segunda hora,
quando Jack Bauer deixa de ter
como missão secreta assassinar o
então candidato democrata à Presidência, David Palmer, para salvar sua família seqüestrada.
A partir daquela hora, quando
Bauer sai do papel de agente duplo e se concentra em perseguir os
terroristas que ameaçam Palmer,
a série perde encanto e passa apenas a utilizar reviravoltas para
surpreender o espectador.
Não que "24" não tenha méritos
-ao contrário, é um marco no
seriado televisivo por duas razões
centrais. Uma é estética: a ação
contínua, em tempo real, nunca
tinha sido utilizada de forma tão
radical e intensa em outros programas de TV, refletindo o ritmo
acelerado e integrado da sociedade atual. A outra é histórica: "24" é
"o" seriado pós-11 de Setembro
-muito mais ágil do que o cinema, foi a primeira ficção audiovisual a ter o terrorismo de larga escala como personagem principal.
No fundo, mais do que qualquer
trama, são esses os dois pontos
que mantiveram a série viva, com
audiência elevada, nas três temporadas seguintes.
Esse périplo todo para concluir
que, nesta quarta temporada que
sai em DVD e chega também à
Globo, o frenesi e a paranóia do
mundo contemporâneo estão lá,
mas o recurso às reviravoltas deixa de surpreender e passa a ofender a inteligência do espectador.
Um único exemplo: em meio a
uma crise nacional, com o presidente Keeler (republicano) hospitalizado e seu vice (também republicano) em desespero, quem é
chamado para resolver o problema? David Palmer, o candidato
democrata da primeira temporada e presidente nas duas seguintes. É como se, no auge da crise do
"mensalão", o presidente Lula tivesse pedido ajuda e conselhos a
FHC e ao seu tucanato.
Dá pra levar a sério?
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