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Mercado do disco abre 99 em crise
Adriana Zehbrauscas - 26.dez.98/Folha Imagem
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O Padre Marcelo Rossi, que vendeu 2,8 milhões de cópias de CD em 98
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Indústria fonográfica termina 1998 com queda
de faturamento de 17% em relação a 1997; Leandro e Leonardo e padre Marcelo lideraram as paradas musicais do ano que acabou
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
A euforia já era. Ascendente nos
últimos cinco anos, a ponto de se
tornar prioritário em escala mundial, o mercado fonográfico brasileiro termina 1998 estrangulado.
Envolto por uma queda de faturamento de 17% -número assumido pela ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos),
que monopoliza dados como esse
no país-, consagra uma dupla
sertaneja e um padre como os
maiores vendedores de 98.
"Um Sonhador", de Leandro e
Leonardo (o primeiro morreu de
câncer, em junho; o disco saiu logo
em seguida), teria vendido 3 milhões de cópias; "Músicas para
Louvar o Senhor", do padre Marcelo Rossi, 2,8 milhões. Os números são fornecidos pelas gravadoras dos artistas, mas se referem a
cópias que saíram da fábrica -e
não que chegaram às mãos dos
consumidores (leia texto à direita).
Os dois êxitos reforçam a constatação de que cada vez mais o comércio de discos abraça indústria e
consumo de massa, pisoteando arte e música. Mas a própria indústria se alvoroça diante da possibilidade de saturação das galinhas de
ovos de ouro dos anos anteriores.
Assim é que o "boom" dos padres -EMI e Sony já se mobilizam
para alavancar concorrentes do
"blockbuster" Rossi- surge como
salva-vidas num cenário em que
bundas, pagode e sertanejo já rendem menos do que aquilo a que os
cofres haviam se acostumado.
Pois o segundo pelotão de vendedores patina na ordem de 1 milhão
de cópias. A axé de É o Tchan (que
em 97 batia a marca de 2 milhões) e
Araketu e o sertanejo de Zezé di
Camargo e Luciano e o "Tributo a
Leandro" (ele de novo) ficaram
por essa faixa -e só eles, além do
eterno milhão de Roberto Carlos.
Fora dos limites do brega, a MPB
e o pop também precisaram rebolar para acontecer em 98. O medalhão Chico Buarque raspou nos
300 mil, com "As Cidades". Para
serem dos únicos a superar a marca de 300 mil cópias, Titãs apelaram ao brega ("Volume 2", 380 mil
cópias) e Rita Lee sucumbiu ao
"Acústico MTV" (322 mil).
Ao Skank (750 mil cópias de "Siderado"), só bastou manter sua receita de reggae radiofônico. A EMI
não forneceu seus números à Folha, o que tira do ranking vendedores razoáveis como Paralamas
do Sucesso e Carlinhos Brown.
O que tanto número significa?
Que 98 foi o ano do revertério para
uma indústria antes bêbada de entusiasmo. De 92 a 97, o mercado
nacional cresceu 225%, saltando
de 13º do mundo em 93 para sexto
em 97. Em 97, cresceu 8%, contra
2% de média mundial.
Expectativas otimistas de crescimento de 7% em 98 se materializaram na realidade de 17% a menos
de arrecadação e 10% a menos de
cópias vendidas em relação a 97.
Mas as gravadoras sustentam retórica otimista para o novo ano.
"Nós caímos só 3%. A gravadora
está investindo em produtos certos e procura estar em todos os
segmentos do mercado. Não há
crise quando se oferecem bons
produtos. Não há crise", defende-se o diretor de vendas da PolyGram (agora Universal) -a do padre e do Tchan-, Jorge Lopes.
Ele antevê 99: "A recessão não
vai nos afetar. Ninguém vive sem
música. O Brasil fere qualquer estatística, quando se pensa que vem
a crise, ela não vem. Crise existe a
toda hora, 17% de queda não é tão
catastrófico assim".
"Não existe crise que possa nos
impedir de lançar artistas novos.
Em 99, lançaremos dez, que já estão sendo trabalhados desde o início de 98", afirma o diretor artístico da BMG, Jorge Davidson.
"O ano não foi favorável para o
mercado. Se 17% de encolhimento
não traduz um cenário de crise,
não sei mais o que poderia ser um
cenário de crise", afirma o secretário-geral da ABPD, Roberto Souto,
discordando de tal otimismo.
Ele próprio, no entanto, revela-se um otimista. O que acontecerá
no novo ano, pesada a floresta recessiva que o país vive? "Em 99, o
mercado mantém os números de
98. Não ganha nem perde", prevê.
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