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MUDHONEY NO BRASIL
Mark Arm, vocalista do famoso grupo grunge, fala da cena de 1991 e dos shows este mês no país
"Seattle hoje? Clubes e bandas aos montes"
DA REPORTAGEM LOCAL
Já foi dito aqui nesta Folha que,
se o Nirvana foi o Pelé do movimento grunge, a banda Mudhoney era o Garrincha.
Liderada pelo vocalista Mark
Arm e pelo guitarrista Steve Turner, o Mudhoney desembarca no
Brasil este mês para uma turnê
inédita, de seis shows.
Da velha Seattle, onde ainda
mora e hoje trabalha em uma editora de revistas em quadrinhos,
Arm falou à Folha, por telefone.
Pelas respostas, dá para notar
por que o Garrincha Mudhoney
nunca levou o grunge muito a sério e, com isso, não teve o mesmo
fim que o Pelé Nirvana.
(LÚCIO RIBEIRO)
Folha - A primeira coisa que qualquer brasileiro que já ouviu Mudhoney quer saber: vocês vão tocar
"Touch me I'm Sick"?
Mark Arm - Sim. Pode dizer aí.
Folha - Vocês nunca receberam
um convite antes para tocar aqui?
Arm - Nunca. E não tenho a mínima idéia do público que vou encontrar por aí. Tenho comigo a
impressão de que vou me divertir
bastante no Brasil, de uma forma
ou de outra. O pessoal do Superchunk me contou que tocou aí no
Brasil. Não lembro direito o que
eles disseram.
Folha - Como serão os shows do
Mudhoney no Brasil? Serão noites
dos hits que embalaram uma geração de camisas xadrez de flanela ou
vocês vêm com músicas novas?
Arm - Tocaremos nossos hits,
sim. Até mesmo porque não temos muitas coisas novas.
Folha - Vocês não estão preparando um novo álbum?
Arm - Não para um futuro próximo. Nada nos planos por hora.
Folha - Por que a banda se separou no ano passado e como é que
vocês já voltaram à ativa?
Arm - O Mudhoney na verdade
não havia acabado. O (baixista)
Matt (Lukin) foi quem largou a
banda (para voltar ao ofício de
carpinteiro). Não queríamos
substituí-lo. Mas ele decidiu voltar e tocar com a banda nos EUA.
Não deve ir ao Brasil, por problemas pessoais (a carpintaria?).
Folha - Quem vai tocar baixo aqui
no Brasil, no lugar?
Arm - Steve Dukich, um amigo
nosso que já excursionou com a
banda, no passado.
Folha - O que você andou fazendo
desde "Tomorrow Hit Today", o último CD de inéditas (98)? De onde é
esse telefone "do trabalho", para o
qual você pediu para eu ligar?
Arm - Continuamos gravando
algumas músicas e as botamos de
graça na Internet, mas nada muito sério. A maior parte do tempo,
eu e o Steve gastamos com nossa
banda, a Monkeywrench. Além
disso, trabalho em uma companhia que produz e vende histórias
em quadrinhos, aqui em Seattle
mesmo, de onde eu falo agora.
Chama Fantagraphics Books. É
bem famosa por aqui.
Folha - 2001 é o décimo aniversário do melhor ano da cena de Seattle, o chamado "ano em que o punk
explodiu" e no qual o Mudhoney
teve participação essencial. Quando hoje você olha para trás e lembra aquele período, o que vem à
sua cabeça?
Arm - Bem... (longa pausa).
Lembro-me de ser um sujeito esquisito. É uma época bem confusa
para mim. Tudo o que fizemos,
tocamos, viajamos... Era sempre
sob a perspectiva de um estado alterado. Foi esquisito e ao mesmo
tempo uma época feliz, pelo que
me recordo. Queria lembrar mais
coisas daqueles anos, mas sempre
que tento não consigo.
Folha - É verdade que a "culpa"
do termo "grunge" é sua?
Arm - Tem um livro chamado
"Loser", no qual o autor (Clark
Humphrey) faz um tratado da
história da cena musical em Seattle desde os anos 60. No capítulo
em que entra o Mudhoney, final
dos 80, ele diz que em um fanzine
da época eu usei a palavra
"grungy" para descrever o som da
banda. Mas não foi uma palavra
criada por mim. Já tinha ouvido
em outros lugares.
Folha - Como é Seattle hoje, musicalmente?
Arm - O mesmo de sempre. Tem
muitas bandas, muitos clubes, as
pessoas saem à noite. Eu diria que
são pessoas mais sadias do que as
de uns 15, dez anos atrás. Para
shows, é um público mais apático,
acho. A última coisa que procuram é algo para se entusiasmar.
Folha - Você gosta da safra de
bandas americanas que está sendo
celebrada como "a nova explosão
do rock", tipo Queens of the Stone
Age, At the Drive In, ...And You Will
Know us by the Trail of Dead?
Arm - Eu amo Queens of the Stone Age. Sobre o At the Drive In, eu
os vi ao vivo uma vez e não gostei.
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