São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2001

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MUDHONEY NO BRASIL

Mark Arm, vocalista do famoso grupo grunge, fala da cena de 1991 e dos shows este mês no país

"Seattle hoje? Clubes e bandas aos montes"

DA REPORTAGEM LOCAL

Já foi dito aqui nesta Folha que, se o Nirvana foi o Pelé do movimento grunge, a banda Mudhoney era o Garrincha.
Liderada pelo vocalista Mark Arm e pelo guitarrista Steve Turner, o Mudhoney desembarca no Brasil este mês para uma turnê inédita, de seis shows.
Da velha Seattle, onde ainda mora e hoje trabalha em uma editora de revistas em quadrinhos, Arm falou à Folha, por telefone.
Pelas respostas, dá para notar por que o Garrincha Mudhoney nunca levou o grunge muito a sério e, com isso, não teve o mesmo fim que o Pelé Nirvana.
(LÚCIO RIBEIRO)

Folha - A primeira coisa que qualquer brasileiro que já ouviu Mudhoney quer saber: vocês vão tocar "Touch me I'm Sick"?
Mark Arm -
Sim. Pode dizer aí.

Folha - Vocês nunca receberam um convite antes para tocar aqui?
Arm -
Nunca. E não tenho a mínima idéia do público que vou encontrar por aí. Tenho comigo a impressão de que vou me divertir bastante no Brasil, de uma forma ou de outra. O pessoal do Superchunk me contou que tocou aí no Brasil. Não lembro direito o que eles disseram.

Folha - Como serão os shows do Mudhoney no Brasil? Serão noites dos hits que embalaram uma geração de camisas xadrez de flanela ou vocês vêm com músicas novas?
Arm -
Tocaremos nossos hits, sim. Até mesmo porque não temos muitas coisas novas.

Folha - Vocês não estão preparando um novo álbum?
Arm -
Não para um futuro próximo. Nada nos planos por hora.

Folha - Por que a banda se separou no ano passado e como é que vocês já voltaram à ativa?
Arm -
O Mudhoney na verdade não havia acabado. O (baixista) Matt (Lukin) foi quem largou a banda (para voltar ao ofício de carpinteiro). Não queríamos substituí-lo. Mas ele decidiu voltar e tocar com a banda nos EUA. Não deve ir ao Brasil, por problemas pessoais (a carpintaria?).

Folha - Quem vai tocar baixo aqui no Brasil, no lugar?
Arm -
Steve Dukich, um amigo nosso que já excursionou com a banda, no passado.

Folha - O que você andou fazendo desde "Tomorrow Hit Today", o último CD de inéditas (98)? De onde é esse telefone "do trabalho", para o qual você pediu para eu ligar?
Arm -
Continuamos gravando algumas músicas e as botamos de graça na Internet, mas nada muito sério. A maior parte do tempo, eu e o Steve gastamos com nossa banda, a Monkeywrench. Além disso, trabalho em uma companhia que produz e vende histórias em quadrinhos, aqui em Seattle mesmo, de onde eu falo agora. Chama Fantagraphics Books. É bem famosa por aqui.

Folha - 2001 é o décimo aniversário do melhor ano da cena de Seattle, o chamado "ano em que o punk explodiu" e no qual o Mudhoney teve participação essencial. Quando hoje você olha para trás e lembra aquele período, o que vem à sua cabeça?
Arm -
Bem... (longa pausa). Lembro-me de ser um sujeito esquisito. É uma época bem confusa para mim. Tudo o que fizemos, tocamos, viajamos... Era sempre sob a perspectiva de um estado alterado. Foi esquisito e ao mesmo tempo uma época feliz, pelo que me recordo. Queria lembrar mais coisas daqueles anos, mas sempre que tento não consigo.

Folha - É verdade que a "culpa" do termo "grunge" é sua?
Arm -
Tem um livro chamado "Loser", no qual o autor (Clark Humphrey) faz um tratado da história da cena musical em Seattle desde os anos 60. No capítulo em que entra o Mudhoney, final dos 80, ele diz que em um fanzine da época eu usei a palavra "grungy" para descrever o som da banda. Mas não foi uma palavra criada por mim. Já tinha ouvido em outros lugares.

Folha - Como é Seattle hoje, musicalmente?
Arm -
O mesmo de sempre. Tem muitas bandas, muitos clubes, as pessoas saem à noite. Eu diria que são pessoas mais sadias do que as de uns 15, dez anos atrás. Para shows, é um público mais apático, acho. A última coisa que procuram é algo para se entusiasmar.

Folha - Você gosta da safra de bandas americanas que está sendo celebrada como "a nova explosão do rock", tipo Queens of the Stone Age, At the Drive In, ...And You Will Know us by the Trail of Dead?
Arm -
Eu amo Queens of the Stone Age. Sobre o At the Drive In, eu os vi ao vivo uma vez e não gostei.


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