São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2002

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Ícone do acid house inglês, grupo retorna com disco inédito em abril; no Brasil, dois CDs são lançados agora

808 State

CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de três anos sem gravadora, o 808 State, grupo inglês pioneiro do acid house, conseguiu voltar ao "mercado de trabalho". Eles anunciam disco inédito para abril. Enquanto isso, dois bons CDs do trio chegam agora ao Brasil pela Sum Records: "Utd. State 90" e "Ex:El".
Na Inglaterra, chegou às lojas nesta semana um DVD ("Optibuk") com todos os clipes do grupo. Nos EUA, o primeiro disco, "Newbuild", de 1988, foi relançado pelo selo Rephlex, de Aphex Twin.
Até conseguir nova gravadora, porém, Andrew Barker, Darren Partington e Graham Massey sobreviveram de bicos. Barker e Partington, como DJs; Massey, como saxofonista da Home Life, uma orquestra de Manchester, sua cidade natal. Ele também remixou músicas para gente como Björk e Goldfrapp.
"Foi frustrante, claro. Mas também não interessava assinar com qualquer gravadora", disse Massey, 41, o líder do 808 State, em entrevista exclusiva, por telefone, à Folha. Leia, a seguir, trechos da conversa com o músico.

Folha - Vocês estão gravando disco novo?
Graham Massey -
Sim. Vai ser lançado em abril, pelo menos no Reino Unido. Não sei como vai ser distribuído no resto do mundo ainda. Faz um tempão que estamos trabalhando neste disco, pelo menos uns três anos.

Folha - O disco tem nome?
Massey -
Não. Você tem algum para sugerir?

Folha - Depende. Vai ser algo para a pista?
Massey -
Há algum tempo deixamos essa preocupação de lado. Fazemos álbuns e, nesse contexto, não dá para ficar pensando somente na pista. Veja os Chemical Brothers, que têm sido criticados na Inglaterra por terem deixado a música de pista um pouco em segundo plano... Quando você está preocupado em fazer música interessante, esse é um caminho natural. A coisa de pista pode se tornar uma prisão para músicos criativos. Não quero ter essa obrigação.

Folha - Vocês começaram fazendo acid house, depois chegaram perto do ambient e do lounge... E agora, o que vem por aí?
Massey -
Temos 12 anos de carreira, já fizemos um pouco de tudo, como você bem disse. Por essa razão, também já adquirimos um som próprio, algo que você ouve e já sabe que é 808 State... É verdade que a tecnologia mudou muito nos últimos anos, então, não vamos soar exatamente como antes.

Folha - Como foi passar três anos sem gravadora depois de ter feito tanto sucesso?
Massey -
Foi frustrante, claro. Mas também não interessava assinar com qualquer gravadora. O que aconteceu foi que nossa gravadora começou a querer que fizéssemos hits para as pistas. E nossa vontade não era essa. Queremos ter liberdade. Agora estamos felizes, assinamos com a Circus Records. Até hoje eles só lançaram um disco do [grupo norte-americano" Magnetic Fields, o "69 Love Songs".

Folha - O que vocês fizeram nesse período "sem emprego"?
Massey -
Andrew e Darren se tornaram DJs quase full-time. Ficamos envolvidos com música esse tempo, na verdade. Como não tínhamos produção própria, mexemos com produção e mixagem de outros artistas. Ou então nos metemos em outro tipo de música. Eu comecei a tocar saxofone na Home Life, que é tipo uma orquestra de Manchester...

Folha - Dois discos do 808 State estão saindo agora no Brasil...
Massey -
Nem sabia! Bom, acho ótimo, porque adorei o Brasil.

Folha - O que você lembra dos shows [no Free Jazz de 97"?
Massey -
Foi muito legal. O line-up do festival era fantástico. Tinha Björk, Goldie... Ficamos muito felizes com a resposta do público, foi emocionante.

Folha - Quando vocês estavam no auge, a música eletrônica estava começando a ser considerada mais pop e acessível para multidões. Como vocês vêem hoje o fato de o DJ ter se tornado superstar?
Massey -
O legal dos anos 80 era a falta de compromisso. A gente não aparecia na "Hello" [a "Caras" inglesa", não tínhamos dinheiro... A coisa mudou muito em pouco tempo. Não havia essa cultura em torno da música eletrônica. Vimos a coisa mudar e estávamos no meio de tudo. De um dia para outro, nossa música começou a tocar no rádio e viramos pop. O DJ ficou mais importante do que os discos que ele toca. A coisa evoluiu para isso. Não que isso me deixe chateado. Você tem duas coisas: gente produzindo discos de 12 polegadas para DJs, e há grupos, como os Chemical Brothers, Prodigy, 808 State, que fazem álbuns.

Folha - Quando vocês começaram, as baterias eletrônicas norteavam a composição de música eletrônica. Hoje, para fazer um CD, basta um computador e um software. O que mudou de lá para cá?
Massey -
Estamos vivendo uma época muito parecida com a que vivenciamos nos 80. Fazer música tornou-se uma coisa barata, é verdade. Mas o que conta mesmo, muito mais do que o equipamento, ainda é o entusiasmo de fazer música, entendeu?

Folha - Como vocês se localizam na música eletrônica?
Massey -
A gente não inventou o acid house, mas acho que demos uma cara inglesa ao gênero. Pegamos o tecno de Detroit e colocamos uma acidez inglesa ali.

Folha - O que vocês acham da cena dance na Inglaterra?
Massey -
Virou parte do cotidiano. É tão normal sair para dançar música eletrônica que às vezes penso em ser contra esse hábito. Detesto essa coisa de compilação de house, compilação de tecno. O cara não está interessado na música, está interessado no BPM. Não é arte.


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