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Ícone do acid house inglês, grupo retorna com disco inédito em abril; no Brasil, dois CDs são lançados agora
808 State
CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de três anos sem gravadora, o 808 State, grupo inglês
pioneiro do acid house, conseguiu voltar ao "mercado de trabalho". Eles anunciam disco inédito
para abril. Enquanto isso, dois
bons CDs do trio chegam agora
ao Brasil pela Sum Records: "Utd.
State 90" e "Ex:El".
Na Inglaterra, chegou às lojas
nesta semana um DVD ("Optibuk") com todos os clipes do grupo. Nos EUA, o primeiro disco,
"Newbuild", de 1988, foi relançado pelo selo Rephlex, de Aphex
Twin.
Até conseguir nova gravadora,
porém, Andrew Barker, Darren
Partington e Graham Massey sobreviveram de bicos. Barker e
Partington, como DJs; Massey,
como saxofonista da Home Life,
uma orquestra de Manchester,
sua cidade natal. Ele também remixou músicas para gente como
Björk e Goldfrapp.
"Foi frustrante, claro. Mas também não interessava assinar com
qualquer gravadora", disse Massey, 41, o líder do 808 State, em entrevista exclusiva, por telefone, à
Folha. Leia, a seguir, trechos da
conversa com o músico.
Folha - Vocês estão gravando disco novo?
Graham Massey - Sim. Vai ser
lançado em abril, pelo menos no
Reino Unido. Não sei como vai
ser distribuído no resto do mundo ainda. Faz um tempão que estamos trabalhando neste disco,
pelo menos uns três anos.
Folha - O disco tem nome?
Massey - Não. Você tem algum
para sugerir?
Folha - Depende. Vai ser algo para a pista?
Massey - Há algum tempo deixamos essa preocupação de lado.
Fazemos álbuns e, nesse contexto,
não dá para ficar pensando somente na pista. Veja os Chemical
Brothers, que têm sido criticados
na Inglaterra por terem deixado a
música de pista um pouco em segundo plano... Quando você está
preocupado em fazer música interessante, esse é um caminho natural. A coisa de pista pode se tornar
uma prisão para músicos criativos. Não quero ter essa obrigação.
Folha - Vocês começaram fazendo acid house, depois chegaram
perto do ambient e do lounge... E
agora, o que vem por aí?
Massey - Temos 12 anos de carreira, já fizemos um pouco de tudo, como você bem disse. Por essa
razão, também já adquirimos um
som próprio, algo que você ouve e
já sabe que é 808 State... É verdade
que a tecnologia mudou muito
nos últimos anos, então, não vamos soar exatamente como antes.
Folha - Como foi passar três anos
sem gravadora depois de ter feito
tanto sucesso?
Massey - Foi frustrante, claro.
Mas também não interessava assinar com qualquer gravadora. O
que aconteceu foi que nossa gravadora começou a querer que fizéssemos hits para as pistas. E
nossa vontade não era essa. Queremos ter liberdade. Agora estamos felizes, assinamos com a Circus Records. Até hoje eles só lançaram um disco do [grupo norte-americano" Magnetic Fields, o
"69 Love Songs".
Folha - O que vocês fizeram nesse
período "sem emprego"?
Massey - Andrew e Darren se
tornaram DJs quase full-time. Ficamos envolvidos com música esse tempo, na verdade. Como não
tínhamos produção própria, mexemos com produção e mixagem
de outros artistas. Ou então nos
metemos em outro tipo de música. Eu comecei a tocar saxofone
na Home Life, que é tipo uma orquestra de Manchester...
Folha - Dois discos do 808 State
estão saindo agora no Brasil...
Massey - Nem sabia! Bom, acho
ótimo, porque adorei o Brasil.
Folha - O que você lembra dos
shows [no Free Jazz de 97"?
Massey - Foi muito legal. O line-up do festival era fantástico. Tinha Björk, Goldie... Ficamos muito felizes com a resposta do público, foi emocionante.
Folha - Quando vocês estavam no
auge, a música eletrônica estava
começando a ser considerada mais
pop e acessível para multidões. Como vocês vêem hoje o fato de o DJ
ter se tornado superstar?
Massey - O legal dos anos 80 era
a falta de compromisso. A gente
não aparecia na "Hello" [a "Caras" inglesa", não tínhamos dinheiro... A coisa mudou muito
em pouco tempo. Não havia essa
cultura em torno da música eletrônica. Vimos a coisa mudar e
estávamos no meio de tudo. De
um dia para outro, nossa música
começou a tocar no rádio e viramos pop. O DJ ficou mais importante do que os discos que ele toca. A coisa evoluiu para isso. Não
que isso me deixe chateado. Você
tem duas coisas: gente produzindo discos de 12 polegadas para
DJs, e há grupos, como os Chemical Brothers, Prodigy, 808 State,
que fazem álbuns.
Folha - Quando vocês começaram, as baterias eletrônicas norteavam a composição de música
eletrônica. Hoje, para fazer um CD,
basta um computador e um software. O que mudou de lá para cá?
Massey - Estamos vivendo uma
época muito parecida com a que
vivenciamos nos 80. Fazer música
tornou-se uma coisa barata, é verdade. Mas o que conta mesmo,
muito mais do que o equipamento, ainda é o entusiasmo de fazer
música, entendeu?
Folha - Como vocês se localizam
na música eletrônica?
Massey - A gente não inventou o
acid house, mas acho que demos
uma cara inglesa ao gênero. Pegamos o tecno de Detroit e colocamos uma acidez inglesa ali.
Folha - O que vocês acham da cena dance na Inglaterra?
Massey - Virou parte do cotidiano. É tão normal sair para dançar
música eletrônica que às vezes
penso em ser contra esse hábito.
Detesto essa coisa de compilação
de house, compilação de tecno. O
cara não está interessado na música, está interessado no BPM.
Não é arte.
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