São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2002

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CRÍTICA

Longa é auto-ajuda para peruas solitárias

DA SUCURSAL DO RIO

"A vassaladoras " é uma exaltação da perua, a mulher rica cujo interesse maior é usar roupas caras e reluzentes e maquiagem pesada para arrumar um senhor que lhe dê apoio financeiro e conforto sexo-emocional. O filme fixa seus refletores numa subespécie emergente das peruas: a balzaquiana bonita, simpática e competente que, horror dos horrores, não consegue arrumar namorado.
O mais curioso do filme, que se pretende comédia ligeira, mas funciona como pesada desqualificação feminina, é ter sido dirigido por uma mulher, Mara Mourão. O resultado não deixa de ser surpreendente: "Avassaladoras" é um filme de auto-ajuda para peruas perdidas, é a revista "Nova" levada às telas.
A heroína do filme é Laura (Giovanna Antonelli), desenhista que há um ano dorme só. Ela vai à caça em bares com amigas igualmente solitárias, flerta sem sucesso na firma e acaba recorrendo a uma agência matrimonial. Não se entende bem por quê, mas ela também recorre aos conselhos de um antropólogo homossexual.
O que dá para entender perfeitamente é o motivo de Laura não arrumar namorado. Ela tem a sensualidade de um tatu. Como se não bastasse, é chatíssima. Com sua voz esganiçada e descoordenação motora, Giovanna Antonelli está à altura do papel.
Por intermédio da agência matrimonial, Laura consegue finalmente um parceiro sexual, Miguel (Caco Ciocler), que mais que depressa a troca por uma de suas melhores amigas. Ela parte então para cima de seu chefe, Thiago (Reynaldo Gianecchini), que a leva para a cama e pouco depois também a troca por uma colega de trabalho.
O que faz Laura então? Toma um porre? Toma formicida? Estraçalha as amigas traidoras? Não, a perua "amadurece", torna-se uma "avassaladora": vai a Nova York fazer um curso. E assim termina o filme, com uma moral de manual de auto-ajuda a la "Nova": na falta de parceiro sexual, o melhor a fazer é ir para os Estados Unidos.
Se a essência do filme é machista, sua aparência é Reynaldo Gianecchini, o atual objeto de desejo da peruagem inteira. Ele só não é o pior ator do Brasil porque não é um ator. A sua falta de talento dramático não é só de sua responsabilidade: o seu Thiago não tem estofo, é uma holografia.
Estamos apenas em janeiro, e "Avassaladoras" é desde já finalista a pior filme de 2002. Ele só não é um fracasso absoluto por dois motivos secundários. Rosi Campos, que faz a dona da agência matrimonial, é um talento cômico nato. E Marília Gabriela (tudo é relativo: como Gianecchini, ela também não é atriz) rouba a cena no papel de uma lésbica de blazer. (MARIO SERGIO CONTI)


Avassaladoras
 
Direção: Mara Mourão
Produção: Brasil, 2001
Com: Reynaldo Gianecchini, Giovanna Antonelli
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Eldorado e circuito




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