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CRÍTICA
Longa é auto-ajuda para peruas solitárias
DA SUCURSAL DO RIO
"A vassaladoras " é uma
exaltação da perua, a mulher rica cujo interesse maior é
usar roupas caras e reluzentes e
maquiagem pesada para arrumar
um senhor que lhe dê apoio financeiro e conforto sexo-emocional.
O filme fixa seus refletores numa
subespécie emergente das peruas:
a balzaquiana bonita, simpática e
competente que, horror dos horrores, não consegue arrumar namorado.
O mais curioso do filme, que se
pretende comédia ligeira, mas
funciona como pesada desqualificação feminina, é ter sido dirigido
por uma mulher, Mara Mourão.
O resultado não deixa de ser surpreendente: "Avassaladoras" é
um filme de auto-ajuda para peruas perdidas, é a revista "Nova"
levada às telas.
A heroína do filme é Laura (Giovanna Antonelli), desenhista que
há um ano dorme só. Ela vai à caça em bares com amigas igualmente solitárias, flerta sem sucesso na firma e acaba recorrendo a
uma agência matrimonial. Não se
entende bem por quê, mas ela
também recorre aos conselhos de
um antropólogo homossexual.
O que dá para entender perfeitamente é o motivo de Laura não
arrumar namorado. Ela tem a
sensualidade de um tatu. Como se
não bastasse, é chatíssima. Com
sua voz esganiçada e descoordenação motora, Giovanna Antonelli está à altura do papel.
Por intermédio da agência matrimonial, Laura consegue finalmente um parceiro sexual, Miguel
(Caco Ciocler), que mais que depressa a troca por uma de suas
melhores amigas. Ela parte então
para cima de seu chefe, Thiago
(Reynaldo Gianecchini), que a leva para a cama e pouco depois
também a troca por uma colega
de trabalho.
O que faz Laura então? Toma
um porre? Toma formicida? Estraçalha as amigas traidoras? Não,
a perua "amadurece", torna-se
uma "avassaladora": vai a Nova
York fazer um curso. E assim termina o filme, com uma moral de
manual de auto-ajuda a la "Nova": na falta de parceiro sexual, o
melhor a fazer é ir para os Estados
Unidos.
Se a essência do filme é machista, sua aparência é Reynaldo Gianecchini, o atual objeto de desejo
da peruagem inteira. Ele só não é
o pior ator do Brasil porque não é
um ator. A sua falta de talento
dramático não é só de sua responsabilidade: o seu Thiago não tem
estofo, é uma holografia.
Estamos apenas em janeiro, e
"Avassaladoras" é desde já finalista a pior filme de 2002. Ele só não é
um fracasso absoluto por dois
motivos secundários. Rosi Campos, que faz a dona da agência
matrimonial, é um talento cômico nato. E Marília Gabriela (tudo é
relativo: como Gianecchini, ela
também não é atriz) rouba a cena
no papel de uma lésbica de blazer.
(MARIO SERGIO CONTI)
Avassaladoras
Direção: Mara Mourão
Produção: Brasil, 2001
Com: Reynaldo Gianecchini, Giovanna
Antonelli
Quando: a partir de hoje nos cines Belas
Artes, Eldorado e circuito
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