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CRÍTICA
John Carpenter faz um faroeste do outro mundo
CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN
Desde o título, "Fantasmas
de Marte de John Carpenter" anuncia que estamos diante
de algo fora do padrão. Afinal, onde já se viu em Hollywood um diretor ter a ousadia de emplacar
seu nome até no título do filme?
Se Fellini fazia isso, ainda vai, mas
como pode um diretor de filmes
de terror ter esse direito? Essa é
apenas uma das peculiaridades de
"Fantasmas de Marte".
Se Carpenter julga ter esse direito, é porque ele possui um universo próprio, uma mania de burlar
regras, gêneros e de criar subversões onde menos se espera.
Apesar de o título sugerir, não
se trata aqui de um filme de terror.
Antes de tudo, Carpenter foi a
Marte fazer um faroeste. Já se
apontou mais de uma vez que os
filmes de Carpenter são dezenas
de variações de "Rio Bravo", o faroeste clássico do mestre Howard
Hawks. Sem dúvida, em muitos
de seus filmes vemos personagens
encurralados e enfrentando forças ameaçadoras. Era assim em
"Assalto à 13ª DP", em "O Enigma
de Outro Mundo", em "A Bruma
Assassina", em "Vampiros" e
continua a ser em "Marte".
No lugar dos mocinhos de
Hawks, agora estão mulheres, só
que com a mesma truculência habitual do universo masculino reproduzido até a náusea pelo cinema de ação. Para Carpenter, o hipotético matriarcado sofre as
mesmas distorções provocadas
pela síndrome de poder. Vista pelo avesso, essa idéia torna-se ainda mais cristalina.
Também a narrativa está sujeita
a outros tantos distúrbios. O prólogo sugere que os fatos são narrados em flashback. Mas essa memória pertence a uma policial que
foi encontrada sem consciência e
drogada em um trem.
A aparente linearidade do seu
relato é minada por recursos como deixar em suspenso uma ação
e depois retomá-la, narrada por
outro personagem, numa estrutura do tipo "ele me contou aquilo, e eu conto para vocês que ele
me contou aquilo daquele jeito".
As regras do gênero "gore", a
sanguinolência tradicional em filmes de gêneros como o terror,
também foram reestetizadas aqui
com belos resultados. Em vez de
fazer uma pornografia do sangue,
Carpenter parte da associação habitual da cor com Marte e filma
tudo em vermelhos agressivos e
subtons que enchem os olhos.
Como se não bastasse a bizarrice da fazer um faroeste em Marte,
Carpenter subverte mais uma regra de gênero, criando associações de sobrevivência entre "mocinhas" e "bandidos" e divulgando um discurso ecológico com conotações antiimperialistas.
Agora, quem preferir ver "Fantasmas de Marte" como um filme
"trash" embalado em heavy metal
pode ficar à vontade.
Fantasmas de Marte
Ghosts of Mars
Direção: John Carpenter
Produção: EUA, 2001
Com: Natasha Henstridge, Ice Cube e
Jason Statham
Quando: a partir de hoje nos cines ABC
Plaza Shopping, Center Norte, Jardim
Sul, Paulista, West Plaza e circuito
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