São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2002

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CINEMA/ESTRÉIA

Novo filme do rei do terror de ficção é saga sanguinária

"Fantasmas de Marte" atacam

MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

O que levou o Festival de Veneza a exibir o novo filme do rei do terror de ficção, John Carpenter, no ano passado foi um mistério.
Mistério que ficará ainda maior tão logo a audiência brasileira assista a "Fantasmas de Marte", saga gótico-sanguinária e futurista, regada a heavy metal, que coloca forças do bem e do mal frente a frente no planeta vermelho e estréia no Brasil hoje.
Até mesmo Carpenter reconhece que tentar encontrar qualquer reflexão mais profunda em sua obra é perda de tempo. "Esse é apenas um filme de caras brigando em Marte e não pretende ser nada mais do que isso", disse o diretor/roteirista à Folha.
"Não estou aqui para fazer "O Resgate do Soldado Ryan". Nas vezes em que penso em algo do tipo não demoro a perceber que esse não é meu território. Procurar pelo grande depoimento artístico é a receita para o desastre."
A melancolia de Carpenter, 52, explica-se quando o criador de "Halloween" diz que "Fantasmas de Marte" é significativo apenas porque prova que ele conseguiu sobreviver três décadas em Hollywood. "A maioria dos diretores que começaram comigo não faz mais filmes porque não encontra apoio. Por isso meu único objetivo é continuar sobrevivendo."
Para ele, "Fantasmas de Marte", a história da colonização do planeta vermelho pela raça humana, que se passa em 2176 e lida, como em seus demais trabalhos, com o sobrenatural, possui os mais notáveis elementos de seus projetos anteriores. "Existe a figura da mulher invencível ["Halloween"], forças do mal que entram sobrenaturalmente no corpo humano ["The Fog"], o sujeito mau que vira benfeitor ["A Coisa"] e, claro, sangue, muito sangue", conta.
Fazer um filme que usasse Marte como palco é, há muitos anos, o grande sonho de Carpenter. "Desde que sou criança, Marte é o lugar de onde os monstros mais demoníacos vêm. Marte, na história da civilização, representa a emoção humana, sangue, guerra, sexo. Por tudo isso não poderia fazer esse filme em outro planeta. Imagine o título, "Fantasmas de Plutão", não combina, certo?"
Além disso, Carpenter sempre foi fascinado pela idéia de ver homens e mulheres em Marte sem a necessidade de capacetes espaciais. "Imaginei um cenário no qual o ar fosse respirável e a sociedade local, matriarcal, porque de fato acredito que é para isso que estamos caminhando."
Carpenter, que para fazer seus roteiros usa uma máquina de escrever ("preciso ver as palavras no papel"), diz que o gênero terror o intriga porque é a única das escolas cinematográficas que não se pode matar. "Trata-se de um dos mais essenciais elementos da raça humana. Temos os mesmos medos há milhares de anos."


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