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CINEMA/ESTRÉIA
Novo filme do rei do terror de ficção é saga sanguinária
"Fantasmas de Marte" atacam
MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
O que levou o Festival de Veneza a exibir o novo filme do rei do
terror de ficção, John Carpenter,
no ano passado foi um mistério.
Mistério que ficará ainda maior
tão logo a audiência brasileira assista a "Fantasmas de Marte", saga gótico-sanguinária e futurista,
regada a heavy metal, que coloca
forças do bem e do mal frente a
frente no planeta vermelho e estréia no Brasil hoje.
Até mesmo Carpenter reconhece que tentar encontrar qualquer
reflexão mais profunda em sua
obra é perda de tempo. "Esse é
apenas um filme de caras brigando em Marte e não pretende ser
nada mais do que isso", disse o diretor/roteirista à Folha.
"Não estou aqui para fazer "O
Resgate do Soldado Ryan". Nas
vezes em que penso em algo do tipo não demoro a perceber que esse não é meu território. Procurar
pelo grande depoimento artístico
é a receita para o desastre."
A melancolia de Carpenter, 52,
explica-se quando o criador de
"Halloween" diz que "Fantasmas
de Marte" é significativo apenas
porque prova que ele conseguiu
sobreviver três décadas em Hollywood. "A maioria dos diretores
que começaram comigo não faz
mais filmes porque não encontra
apoio. Por isso meu único objetivo é continuar sobrevivendo."
Para ele, "Fantasmas de Marte",
a história da colonização do planeta vermelho pela raça humana,
que se passa em 2176 e lida, como
em seus demais trabalhos, com o
sobrenatural, possui os mais notáveis elementos de seus projetos
anteriores. "Existe a figura da mulher invencível ["Halloween"], forças do mal que entram sobrenaturalmente no corpo humano ["The
Fog"], o sujeito mau que vira benfeitor ["A Coisa"] e, claro, sangue,
muito sangue", conta.
Fazer um filme que usasse Marte como palco é, há muitos anos, o
grande sonho de Carpenter.
"Desde que sou criança, Marte é o
lugar de onde os monstros mais
demoníacos vêm. Marte, na história da civilização, representa a
emoção humana, sangue, guerra,
sexo. Por tudo isso não poderia
fazer esse filme em outro planeta.
Imagine o título, "Fantasmas de
Plutão", não combina, certo?"
Além disso, Carpenter sempre
foi fascinado pela idéia de ver homens e mulheres em Marte sem a
necessidade de capacetes espaciais. "Imaginei um cenário no
qual o ar fosse respirável e a sociedade local, matriarcal, porque de
fato acredito que é para isso que
estamos caminhando."
Carpenter, que para fazer seus
roteiros usa uma máquina de escrever ("preciso ver as palavras
no papel"), diz que o gênero terror o intriga porque é a única das
escolas cinematográficas que não
se pode matar. "Trata-se de um
dos mais essenciais elementos da
raça humana. Temos os mesmos
medos há milhares de anos."
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