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"PRÊT-À-PORTER 5"
Espetáculo de Antunes Filho, em cartaz no Sesc Consolação, é sustentado na riqueza do ator
Peça usa agressão como forma de carinho
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Houve um tempo em que o
"Prêt-à-Porter" do Centro
de Pesquisa Teatral de Antunes
Filho se apresentava ao público
enquanto catequese.
Com discurso messiânico, os
atores avisavam ao público que
este teatro totalmente baseado
no ator seria o único antídoto
contra um teatro equivocado, isto é, todos os outros. Provocado,
o público atentava ao blefe: as
tramas pendiam às vezes para o
melodramático, havia trilhas supérfluas que buscavam um clima, a técnica dos atores não raro
se encharcava de arrogância.
A causa, porém, era irrepreensível. Tanto é que venceu. Nos últimos tempos, o teatro é do ator.
Livres da responsabilidade de
pioneiros, os atores do CPT podem agora ser modestos. Apresentam "Prêt-à-Porter 5", na sua
habitual forma de três sketches
curtas para dois personagens,
desta vez apenas como um esboço -e, assim, o projeto atinge
seus objetivos.
Contra a pirotecnia cenográfica pseudo-Broadway, um palco
com uma única tapadeira ao fundo, iluminado apenas pela luz
ambiente -música de cena, só a
trazida pela personagem. Esse
despojamento, no entanto, não
basta, já que a escassez pode roubar o foco do ator tanto quanto a
exuberância, dando margem para soluções "geniais" do encenador. Mas aqui a encenação, assumida pelos atores, é invisível.
Não há nada de pobre nesse espetáculo, pois ele é sustentado na
riqueza do ator. Quando Juliana
Galdino passa por trás da tapadeira e se deslumbra com dezenas de estátuas imaginárias, o
público passa a vê-las perfeitamente, graças à técnica da atriz:
para atores assim escrevia Shakespeare. Isso não quer dizer que
o texto, também composto pelos
atores, seja brilhante.
A obrigatoriedade de um ator/
dramaturgo, objetivo perseguido
há muito pelo CPT, desviava o
ator de sua função essencial: a de
viabilizar o verbo. Por isso, tramas complicadas foram substituídas nesses três esboços por situações simples, quase bases de
improviso, com diálogos retrabalhados em cena, poéticos e
profundos mais pela prosódia do
que pelo conteúdo. E se há referência a arquétipos, isso fica só
na cor de um chapéu, por exemplo: entenda quem quiser.
Assim, "Prêt-à-Porter 5" é como um Strindberg renovado,
cruel na vivisseção sem buscar o
lastro da psicologia. É o quintal
de atrizes como Suzan Damasceno, cuja exuberância eclética comove e faz rir ao mesmo tempo,
acertando as piadas sem fazer
alarde, em contraste com a melancolia de Arieta Corrêa, que
deixa transparecer uma tragédia
secreta.
Emerson Danesi e Juliana Galdino, em participações menores,
não ficam na sombra nem disputam foco: a cena é a luva deles,
não tanto "prêt-à-porter", o que
supõe uma fórmula infalível predeterminada, mas sob medida,
para cada ator e cada platéia, cujo
meio termo entre o trivial e o sublime deve ser reencontrado a
cada apresentação.
Sai-se do espetáculo não deslumbrado pelos atores, o que seria deselegante, mas embriagado
pela solidão dos que usam a
agressão como forma suprema
de carinho, que vislumbram a
utopia em um encontro casual. E
só depois se descobre que "Prêt-à-Porter 5" é uma obra prima.
Prêt-à-Porter 5
Coordenação: Antunes Filho
Direção e interpretação: Suzan
Damasceno, Arieta Corrêa, Emerson
Danesi e Juliana Galdhino
Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova,
245, SP, tel. 0/xx/11/3234-3000)
Quando: hoje, às 22h
Quanto: de R$ 5 a R$ 10
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