DA REDAÇÃO

"Walter Salles fez com que Che pudesse se parecer com qualquer jovem latino-americano." Para a filha do líder revolucionário, Aleida Guevara, 44, "Diários de Motocicleta", novo filme do cineasta brasileiro, "converte Che em um ser humano e ajuda a afastar a imagem de ícone no qual a força dos meios de comunicação tem insistido em tentar transformá-lo ao longo da história".
Aleida assistiu ao filme na última semana, em Cuba, na companhia do ator Robert Redford, também produtor da obra.
Médica pediatra especialista em alergia, Aleida falou à Folha por telefone, de Havana. "O filme é muito bom. Dá para perceber que os atores fizeram um esforço muito grande para se parecer com com os dois, e conseguiram."
Aleida, que se lembra muito pouco do pai, pois tinha apenas cinco anos quando este viajou para o Congo, acha que o filme será um "descobrimento" para os estrangeiros. "Creio que, principalmente para os latino-americanos, vai mostrar uma série de paisagens que estes não imaginam que existam em nosso continente. É também uma grande viagem a nossas raízes culturais."
Militante e engajada em divulgar o pensamento do pai, Aleida diz que está constantemente lutando contra a transformação deste num ícone. "Devemos tomar cuidado com o excesso de idealização que se faz de sua imagem e de seus atos. Mas acho que, mesmo sob intensa pressão da propaganda e manipulação dos meios de comunicação, a imagem de Che segue sendo muito próxima do real, até porque suas idéias ainda cabem no mundo de hoje."
Aleida, que esteve no Brasil no ano passado, durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, diz que mantém um bom relacionamento com o ditador Fidel Castro ("Ele sempre nos tratou com muito amor e dedicação") e crê que o filme de Salles pode vir a ser "um canto à amizade e uma demonstração de que ainda é possível modificar a realidade".
(DENISE MOTA e SYLVIA COLOMBO)

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