|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Miramax diz ter recebido "recompensa"
REBECCA TRAISTER
DO SALON.COM
Nos últimos anos, o Oscar vem
se transformando em uma espécie de referendo sobre a influência
de um tal Harvey Weinstein. O
co-presidente do conselho da Miramax Films mudou a natureza
do ritual anual praticado por
Hollywood, nas duas últimas décadas, com suas campanhas em
benefício de filmes de pequeno
orçamento executadas com entusiasmo e orçamento semelhantes
aos dedicados pelos estúdios às
grandes produções.
Weinstein ficou com o crédito
pelo sucesso de filmes menores,
de arte, como "Pulp Fiction
-Tempo de Violência", nos prêmios Oscar. Mas, à medida que a
Miramax crescia, seus filmes também o faziam -alguns dos quais,
como "Shakespeare Apaixonado"
e o grande sucesso do ano passado, "Chicago", arrebatando o Oscar. As expectativas quanto ao estúdio também cresceram. Na manhã de terça-feira, a muita alardeada adaptação do romance
"Cold Mountain", estrelada por
Nicole Kidman e Jude Law, foi indicada para sete prêmios, mas
não como melhor filme. O diretor
Anthony Minghella não foi indicado em sua categoria, e Kidman,
que ganhou o Oscar no ano passado com "As Horas", não foi indicada na categoria melhor atriz.
Mas a Miramax conquistou
mais indicações (15) do que qualquer outro estúdio e, de maneira
completamente inesperada, o
brasileiro "Cidade de Deus" recebeu cobiçadas indicações para os
prêmios de melhor direção e melhor roteiro adaptado. "Salon"
entrevistou Harvey Weinstein na
tarde em que as nomeações para o
Oscar foram anunciadas, sobre os
pontos altos e os pontos baixos do
dia.
Pergunta - Muita gente ficou chocada com as quatro indicações de
"Cidade de Deus", incluindo a de
melhor direção (Fernando Meirelles). Isso o surpreendeu?
Harvey Weinstein - Não. Eu passei 54 semanas mantendo esse filme em cartaz, jamais o lancei em
vídeo, não o mandei para fora, nada. Tínhamos uma situação em
que, primeiro, o filme não foi escolhido para competir em Cannes. Preferiram "Irreversível"
(2002), de Gaspar Noe, a esse filme, de modo que não disputamos
prêmio nenhum. O filme era elegível para indicação ao Oscar de
melhor filme em língua estrangeira no ano passado, ainda que não
tivesse sido lançado. Nosso plano
era lançá-lo em 24 de janeiro de
2003. Mas, se não obtivesse a indicação, estaria elegível em todas as
categorias este ano. Minha equipe
insistia em que eu o lançasse logo
em vídeo, exibisse-o na TV, fizesse alguma coisa. E eu e duas outras pessoas da empresa (executivos de aquisição e distribuição),
que amávamos demais o filme,
nos recusamos a fazê-lo. Hoje, tivemos nossa recompensa. E vamos colocá-lo em exibição em 200
salas na semana que vem e em 500
na seguinte.
Acreditei no filme desde o começo. Pedi ao "Los Angeles Times" e ao "New York Times" que
publicassem artigos sobre o filme.
Há sempre alegações de que não
apóio os filmes pequenos. Pedi a
todo mundo que falasse desse filme, sobre como sua temporada
no Angelika Theater (em Nova
York) superou a de qualquer outra produção. Ninguém escreveu
a respeito. Todos escrevem sobre
"Cold Mountain", "Gangues de
Nova York", mas esse filme ficou
órfão, a não ser em nossos pensamentos. Realizamos uma campanha para a Academia, com anúncios explicando que o filme não
era elegível para o Oscar de melhor filme estrangeiro, mas podia
concorrer em todas as demais categorias. E hoje, isso. Nós não
conseguimos manter nossa tradição nas indicações de melhor filme (a Miramax teve pelo menos
um filme entre os indicados desde
"Traídos pelo Desejo", em 1992),
mas lideramos as indicações ao
Oscar há quatro anos, de modo
que essa tradição continua.
Pergunta - Recentemente, o sr.
também expressou seu interesse
em fazer filmes maiores, mais populares. Agora está dizendo que
pretende se concentrar em projetos menores?
Weinstein - Acredito que eu consiga andar e mascar chiclete ao
mesmo tempo. Além de carregar
bandejas. Creio que o melhor seja,
por exemplo, fazer um filme gigantesco e depois algo como "Cidade de Deus". Lemos o roteiro,
estava em português, e o financiamos. É uma produção da Miramax, o que é ainda mais impressionante. Nós o fizemos. E Fernando Meirelles queria cortar
quatro minutos e meio, mas eu
disse que não, o filme era perfeito.
Pergunta - É mesmo?
Weinstein - Sim. Juro por Deus
que é verdade. Talvez seja a única
vez na história, mas é verdade.
Pergunta - A imprensa já vem comentando sobre a Academia ter esnobado a Miramax ao desconsiderar "Cold Mountain".
Weinstein - Não se pode dizer
que fomos esnobados. A Miramax liderou com mais nomeações ao prêmio que qualquer outro estúdio (a Fox e a Fox Searchlight juntas obtiveram 14 indicações). A Miramax recebeu 15,
com sete para "Cold Mountain" e
quatro para "Cidade de Deus",
além de duas para "As Invasões
Bárbaras" e uma cada para "Coisas Belas e Sujas" e "Twin Sisters".
Pergunta - Ou seja, a Miramax
não foi esnobada?
Weinstein - Mas neste ano erramos em nossa estratégia. Porque
todo ano tentamos ocupar a temporada de Natal, lançar por último, já que em janeiro, fevereiro e
março um filme tem menos competição nas bilheterias. Este ano,
com o cronograma alterado de
lançamentos (o Oscar foi antecipado do final de março para 29 de
fevereiro, e as indicações saíram
duas semanas mais cedo do que
nos anos anteriores), nós acreditamos que fôssemos capazes de
superar a mudança sem problemas, mas não conseguimos.
Os filmes indicados foram "Alma de Herói", lançado em agosto,
"Encontros e Desencontros", lançado em setembro, "Sobre Meninos e Lobos", lançado em outubro, "Mestre dos Mares", lançado
em novembro, e o último, com a
data mais tardia de lançamento,
foi "O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei" (que estreou em 17
de dezembro). Acredito que tenha havido dois outros filmes da
série "O Senhor dos Anéis". Assim, nenhum filme lançado mais
tarde foi indicado e, sejamos francos, "O Senhor dos Anéis" faturou mais em três dias do que todos os demais combinados. Assim, a situação deste ano, com o
Oscar antecipado, realmente nos
prejudicou. Não conseguimos
mostrar o filme a muita gente, antes do encerramento da votação.
No ano passado, tínhamos o
Globo de Ouro, as pessoas assistindo à cerimônia e aos filmes indicados. Neste ano, eles não viram
o filme. Por isso, não votaram, o
que acabou com a gente.
Pergunta - O sr. se decepcionou?
Weinstein - Claro. Queria uma
indicação como melhor filme para "Cold Mountain", mas fiquei
feliz com as nossas 15 indicações.
Continuamos no topo da lista.
Queremos tudo, mas nem sempre
podemos ter o que queremos.
Pergunta - Antes de encerrarmos... Dizem que o sr. tem um mau
gênio.
Weinstein - Você está brincando.
Pergunta - Na manhã das indicações, havia piadas circulando. Um
blog aconselhava os funcionários
da Miramax a ficar em casa pela
manhã, "porque Harv vai estar FURIOSO". O senhor ficou furioso?
Weinstein - Nos últimos dois
anos, criei uma tradição pessoal.
Não tive sequer um rompante ou
incidente. São dois anos ininterruptos de dieta de baixo carboidrato. Descobri que o açúcar me
estimulava demais. Dois anos de
baixo carboidrato, emagreci 16
quilos... Naquele dia cheguei feliz,
animado. Amanhã também estarei feliz e animado.
Tradução Paulo Migliacci
Texto Anterior: "Preocupação realista" é trunfo de brasileiros Próximo Texto: Multimídia: Lançamento cedo ajudou "Cidade' Índice
|