|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
Exposições de grande porte, inauguradas por conta das comemorações dos 450 anos da cidade, tecem interrelações por acaso
Em SP, modernos colocam os pés na África
ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO
LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O cubismo brotou diretamente
da arte africana? Em 1907, ano da
aparição do cubismo, as máscaras
africanas encobriam os rostos das
"Senhoritas de Avignon" de Pablo
Picasso.
Na ruptura com a tradição naturalista no final do século 19, a
busca por novas formas de representação do mundo já se espelhava na ida de Gauguin para a Micronésia. "Picasso e os expressionistas alemães viram esses objetos, em Berlim e em Paris, que para eles eram arte primitiva, religiosa e mágica. O que Picasso entendeu era a liberdade da forma, o
que não havia na Europa nessa
época", diz Peter Junge, curador
da exposição "Arte da África",
que está no CCBB de São Paulo.
A fragmentação do espaço e a
busca por formas mais simples,
seja no conteúdo formal ou no
conteúdo simbólico, já estavam
sendo pesquisadas por Paul Cézanne, o que, invariavelmente,
abriu os olhos de Picasso, que o
chamava de "meu único mestre".
Picasso, ao ser perguntado sobre a influência da arte negra em
sua obra, disse, em 1923: "Sempre
falam da influência da arte negra
sobre mim. O que fazer? Todos
nós amamos os fetiches. Van
Gogh disse: "Nós fomos influenciados pela arte japonesa". Conosco, são os negros. As formas africanas não tiveram mais influência
em mim que sobre Matisse. Ou
sobre Derain. Mas, para os africanos, as máscaras eram esculturas
como qualquer outra".
Seja como for, a discussão sobre
como Picasso e os modernistas se
apropriaram da arte africana parece não ter fim. "Alguns dizem
que Picasso resgatou algumas
idéias dessa arte, outros dizem
que ele simplesmente a copiou.
Eu acho que é um pouco dos
dois", diz Junge.
Também no Brasil a arte da
África influenciou o modernismo. "Anita Malfatti tem quadros
com forte influência africana: as
montanhas, muitas figuras de negro. Os modernistas tiveram uma
influência forte da cultura ioruba,
através da tribo nagô no Brasil",
explica Paulo Figueiredo, colecionador de arte.
A modernista é tema de uma retrospectiva que esteve na enxurrada de exposições por conta do
aniversário de São Paulo. Além de
"Referencial Anita Malfatti", as
exposições dedicadas a Pablo Picasso, à arte africana e a José Clemente Orozco se destacam por se
tratar de grandes e abrangentes
mostras.
Para o crítico de arte Tadeu
Chiarelli, todas elas são "imperdíveis". Já a crítica Lisette Lagnado
diz que "gostou muito" da mostra
de Orozco e que "Arte da África"
lhe provocou mais curiosidade.
"Acho que nossa ligação com esse
outro continente sempre foi mais
explorada na música e na dança
do que nas artes plásticas", diz.
O formato de megaexposição é
freqüente alvo de críticas, principalmente em Bienais, mas, para
Chiarelli e Lagnado, não chega a
ser nocivo. "Esse tipo de exposição é importante quando bem
elaborado e voltado para a transmissão do conhecimento sobre a
arte", pondera Chiarelli. "Tenho
achado excelente ver grandes exposições de artistas brasileiros
que podem usufruir hoje de uma
estrutura profissional de divulgação e monitoria", diz Lagnado.
Texto Anterior: Portas abertas: Vem aí o Museu Klabin Próximo Texto: Crítica: Oca mostra Picasso didático em ordem cronológica Índice
|