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CRÍTICA
Oca mostra Picasso didático em ordem cronológica
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"Picasso na Oca" é retrospectiva didática. Embora
composta por acervo mediano,
exibe todas as fases do artista em
ordem cronológica.
As 126 obras provêm da coleção
particular do homenageado, cuidada pelo Museu Picasso de Paris.
Ele mantinha consigo exemplares
que nunca vendera ou aos quais
se afeiçoara. Assim, todas as peças
no Ibirapuera documentam a
imagem guardada sobre a própria
carreira.
A montagem ordena-se em oito
fases da vida entre a juventude e o
fim. Retomam-se divisões consagradas da carreira, como a fase
azul, cubismo analítico e sintético, período clássico, pós-guerra e
os últimos anos.
Contudo foram enviados a São
Paulo majoritariamente estudos
de pintura. Assim, o público não
verá exemplares de impacto histórico, excetuados casos como a
"Jacqueline de Mãos Cruzadas"
(1954).
Há disparidade na seleção. O representante da fase azul, "Retrato
de Homem" (1902-03), é uma tela
danificada. Mas "Três Figuras Sob
uma Árvore" (1907) testemunha
as mudanças originais do cubismo.
O Picasso trazido revela-se como artista processual, multiplicando os resultados ao longo do
aperfeiçoamento da idéia. Os estágios intermediários de trabalho
mostram a disciplina de análise e
síntese que estrutura os diversos
grupos ao longo da carreira.
O desenho geométrico é ponto
médio entre tantos extremos.
Quando jovem, Pablo aprendeu a
técnica com o pai. A maestria gráfica antecede passos radicais, como no carvão "Nu de Pé com Braços Levantados" (1908).
O experimentalismo técnico
também é evidenciado. A construção tridimensional da colagem
incorpora os alfinetes que seguram recortes na "Guitarra, Copo e
Garrafa de Vieux-Marc" (1913). O
bronze "Mulher com Laranja"
(1934) transparece a modelagem
em papelão e forma de bolo. Depois de Picasso, sentenciou Apollinaire, "pode-se pintar com o
que se queira, com cachimbos, selos, cartões-postais, cartas de jogar, candelabros, colarinhos e jornais".
O interesse dos surrealistas por
Picasso é compreensível ao vermos "Mulher Adormecida"
(1927), "Mulher na Poltrona Vermelha" (1929) e "Cabeça de Mulher" (1928). O dilaceramento da
figura exprimia diversos estados
de libido, como o vazio da "Grande Banhista" (1929).
O diálogo com outros pintores
foi constante. "O Regresso do Batismo Segundo Le Nain" (1917) é
exercício pontilista inusitado. A
parceria com Braque reafirma-se
no pós-guerra com "Jarra e Esqueleto" (1945).
Nos últimos anos de vida, a citação de si revela os temas sobreviventes: "Nu Deitado" (1967), "O
Beijo" (1969), "Matador" (1970).
O visitante é, assim, conduzido
pela historiografia oficial do tema
de maneira correta.
Picasso na Oca - Uma
Retrospectiva
Quando: de ter. a sex., das 9h às 21h;
sáb. e dom., das 10h às 21h. Até 2/5
Onde: pavilhão da Oca (parque
Ibirapuera, portões 2 e 3, tel. 0/xx/11/
3253-7007)
Quanto: R$ 10 (entrada franca para
menores de cinco anos e maiores de 65,
aposentados e deficientes físicos)
Patrocinador: Bradesco
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