São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2004

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CRÍTICA

Oca mostra Picasso didático em ordem cronológica

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Picasso na Oca" é retrospectiva didática. Embora composta por acervo mediano, exibe todas as fases do artista em ordem cronológica.
As 126 obras provêm da coleção particular do homenageado, cuidada pelo Museu Picasso de Paris. Ele mantinha consigo exemplares que nunca vendera ou aos quais se afeiçoara. Assim, todas as peças no Ibirapuera documentam a imagem guardada sobre a própria carreira.
A montagem ordena-se em oito fases da vida entre a juventude e o fim. Retomam-se divisões consagradas da carreira, como a fase azul, cubismo analítico e sintético, período clássico, pós-guerra e os últimos anos.
Contudo foram enviados a São Paulo majoritariamente estudos de pintura. Assim, o público não verá exemplares de impacto histórico, excetuados casos como a "Jacqueline de Mãos Cruzadas" (1954).
Há disparidade na seleção. O representante da fase azul, "Retrato de Homem" (1902-03), é uma tela danificada. Mas "Três Figuras Sob uma Árvore" (1907) testemunha as mudanças originais do cubismo.
O Picasso trazido revela-se como artista processual, multiplicando os resultados ao longo do aperfeiçoamento da idéia. Os estágios intermediários de trabalho mostram a disciplina de análise e síntese que estrutura os diversos grupos ao longo da carreira.
O desenho geométrico é ponto médio entre tantos extremos. Quando jovem, Pablo aprendeu a técnica com o pai. A maestria gráfica antecede passos radicais, como no carvão "Nu de Pé com Braços Levantados" (1908).
O experimentalismo técnico também é evidenciado. A construção tridimensional da colagem incorpora os alfinetes que seguram recortes na "Guitarra, Copo e Garrafa de Vieux-Marc" (1913). O bronze "Mulher com Laranja" (1934) transparece a modelagem em papelão e forma de bolo. Depois de Picasso, sentenciou Apollinaire, "pode-se pintar com o que se queira, com cachimbos, selos, cartões-postais, cartas de jogar, candelabros, colarinhos e jornais".
O interesse dos surrealistas por Picasso é compreensível ao vermos "Mulher Adormecida" (1927), "Mulher na Poltrona Vermelha" (1929) e "Cabeça de Mulher" (1928). O dilaceramento da figura exprimia diversos estados de libido, como o vazio da "Grande Banhista" (1929).
O diálogo com outros pintores foi constante. "O Regresso do Batismo Segundo Le Nain" (1917) é exercício pontilista inusitado. A parceria com Braque reafirma-se no pós-guerra com "Jarra e Esqueleto" (1945).
Nos últimos anos de vida, a citação de si revela os temas sobreviventes: "Nu Deitado" (1967), "O Beijo" (1969), "Matador" (1970).
O visitante é, assim, conduzido pela historiografia oficial do tema de maneira correta.


Picasso na Oca - Uma Retrospectiva    
Quando: de ter. a sex., das 9h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 21h. Até 2/5
Onde: pavilhão da Oca (parque Ibirapuera, portões 2 e 3, tel. 0/xx/11/ 3253-7007)
Quanto: R$ 10 (entrada franca para menores de cinco anos e maiores de 65, aposentados e deficientes físicos)
Patrocinador: Bradesco



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