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ARTES VISUAIS
Mostra no Tomie Ohtake apresenta cartazes de Yusako Kamekura
Designer japonês respira Bauhaus
GUSTAVO FIORATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Com a difusão das teorias da escola de Bauhaus no Ocidente nasceram novas tendências da comunicação visual também pelas bandas do Oriente. No Japão, essas
idéias tiveram forte expressão no
design gráfico do pós-guerra,
com destaque para o pioneirismo
de Yusako Kamekura (1915-1997), designer formado pela New
Architeture and Industrial Arts
(Tóquio) e revisto na exposição
"Kamekura: A Gráfica, o Japão, o
Cartaz", a partir de hoje, no Instituto Tomie Ohtake.
No mesmo andar do espaço, a
artista plástica Raquel Rosalen
mostra uma instalação penetrável
que mistura projeções em vídeo e
música, fruto de um período de
vivências na capital japonesa
apoiado pela Fundação Japão.
As medidas rígidas e as impressões em silk-screen e off-set impingem aos cartazes de Kamekura um padrão industrial antigo,
rompido pela originalidade de
composições plásticas que se utilizam da fotografia. As imagens
são sempre muito limpas, com
poucos elementos, planos escuros
de cores mistas e recortes construtivistas. Apesar da participação na elaboração de logomarcas,
embalagens e projetos visuais de
revistas e livros, foi por meio dos
cartazes que Kamekura alcançou
o reconhecimento internacional e
status de "imperador do design",
como é conhecido em seu país.
Os pôsteres para os Jogos Olímpicos de 1964, realizados em Tóquio, são emblemáticos: Kamekura mostra um nadador centralizado sobre a faixa de uma raia,
em um plano escuro; em outro
trabalho, a imagem de corredores
no momento da largada sugere
que as figuras foram recortadas e
coladas, e não apenas captadas
por uma lente. Ainda mais significativo dentre os trabalhos do designer japonês é "Hiroshima Appeals" (apelo de Hiroshima), no
qual um grupo de borboletas em
chamas está prestes a cair ao solo,
como se a bomba de Hiroshima
tivesse acabado de ser lançada.
As teorias de Bauhaus transparecem à medida que é dada importância à percepção visual do
conjunto em detrimento da interpretação intelectual. Enfatiza-se a
leitura de códigos estéticos universais, que respeitam diferenças
culturais e permitem associações.
Sem vínculo com a exposição de
Kamekura, Raquel Rosalen exibe
a instalação penetrável "Rain # an
anti-war Project", um corredor
espelhado que abriga e reflete
projeções em vídeo, com assumida posição política contra a violência das guerras. Uma das fontes de inspiração é a cidade de
Hiroshima, "mesmo que a catástrofe provocada pela bomba atômica não esteja figurada de forma
direta", como conta a artista.
A violência fica representada de
maneira subliminar, como no
momento em que o visitante entra na instalação e se depara com
um flash muito claro, que o leva
momentaneamente à cegueira. O
som do violoncelo tocado por Dimos Goudaroulis e as distorções e
os ruídos eletrônicos dos softwares de Ignácio de Campos completam a composição multimídia.
Corredor adentro, surgem as
imagens em movimento contínuo em que aparecem interpretações de Ádega Olmos, Emilie Sugai, Toshi Tanaka, Ciça Ohno,
Pascoal da Conceição, Leona Cavalli e Ondina Castilho. Segundo
Raquel, os personagens estão
mortos, mas parecem não ter
consciência disso, pois continuam fazendo atividades cotidianas, uma referência ao teatro nô.
YUSAKO KAMEKURA E RAQUEL
ROSALEN. Onde: Instituto Tomie
Ohtake (r. Coropês, 88, Pinheiros, tel. 0/
xx/11/2245-1900). Quando: abertura
hoje, às 20h; de ter. a dom., das 11h às
20h; até 23/3. Quanto: entrada franca.
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