São Paulo, terça-feira, 01 de fevereiro de 2005

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ARTES VISUAIS

Mostra no Tomie Ohtake apresenta cartazes de Yusako Kamekura

Designer japonês respira Bauhaus

GUSTAVO FIORATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Com a difusão das teorias da escola de Bauhaus no Ocidente nasceram novas tendências da comunicação visual também pelas bandas do Oriente. No Japão, essas idéias tiveram forte expressão no design gráfico do pós-guerra, com destaque para o pioneirismo de Yusako Kamekura (1915-1997), designer formado pela New Architeture and Industrial Arts (Tóquio) e revisto na exposição "Kamekura: A Gráfica, o Japão, o Cartaz", a partir de hoje, no Instituto Tomie Ohtake.
No mesmo andar do espaço, a artista plástica Raquel Rosalen mostra uma instalação penetrável que mistura projeções em vídeo e música, fruto de um período de vivências na capital japonesa apoiado pela Fundação Japão.
As medidas rígidas e as impressões em silk-screen e off-set impingem aos cartazes de Kamekura um padrão industrial antigo, rompido pela originalidade de composições plásticas que se utilizam da fotografia. As imagens são sempre muito limpas, com poucos elementos, planos escuros de cores mistas e recortes construtivistas. Apesar da participação na elaboração de logomarcas, embalagens e projetos visuais de revistas e livros, foi por meio dos cartazes que Kamekura alcançou o reconhecimento internacional e status de "imperador do design", como é conhecido em seu país.
Os pôsteres para os Jogos Olímpicos de 1964, realizados em Tóquio, são emblemáticos: Kamekura mostra um nadador centralizado sobre a faixa de uma raia, em um plano escuro; em outro trabalho, a imagem de corredores no momento da largada sugere que as figuras foram recortadas e coladas, e não apenas captadas por uma lente. Ainda mais significativo dentre os trabalhos do designer japonês é "Hiroshima Appeals" (apelo de Hiroshima), no qual um grupo de borboletas em chamas está prestes a cair ao solo, como se a bomba de Hiroshima tivesse acabado de ser lançada.
As teorias de Bauhaus transparecem à medida que é dada importância à percepção visual do conjunto em detrimento da interpretação intelectual. Enfatiza-se a leitura de códigos estéticos universais, que respeitam diferenças culturais e permitem associações.
Sem vínculo com a exposição de Kamekura, Raquel Rosalen exibe a instalação penetrável "Rain # an anti-war Project", um corredor espelhado que abriga e reflete projeções em vídeo, com assumida posição política contra a violência das guerras. Uma das fontes de inspiração é a cidade de Hiroshima, "mesmo que a catástrofe provocada pela bomba atômica não esteja figurada de forma direta", como conta a artista.
A violência fica representada de maneira subliminar, como no momento em que o visitante entra na instalação e se depara com um flash muito claro, que o leva momentaneamente à cegueira. O som do violoncelo tocado por Dimos Goudaroulis e as distorções e os ruídos eletrônicos dos softwares de Ignácio de Campos completam a composição multimídia.
Corredor adentro, surgem as imagens em movimento contínuo em que aparecem interpretações de Ádega Olmos, Emilie Sugai, Toshi Tanaka, Ciça Ohno, Pascoal da Conceição, Leona Cavalli e Ondina Castilho. Segundo Raquel, os personagens estão mortos, mas parecem não ter consciência disso, pois continuam fazendo atividades cotidianas, uma referência ao teatro nô.


YUSAKO KAMEKURA E RAQUEL ROSALEN. Onde: Instituto Tomie Ohtake (r. Coropês, 88, Pinheiros, tel. 0/ xx/11/2245-1900). Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a dom., das 11h às 20h; até 23/3. Quanto: entrada franca.

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