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Boa história é contada sem muita inspiração
especial para a Folha
Pode soar antipático e até antipatriótico, mas não dá para entender
por que o vídeo ``A Quebradeira''
conquistou um prêmio tão importante no festival de Tóquio.
Não que o vídeo de Heloïsa Périssé e Cristina Leccioli seja ruim
ou desinteressante. Mas, numa
competição entre quase 2.000
obras, espera-se que os vencedores
ofereçam algo mais que contar de
maneira correta uma boa história.
O enredo, extraído de um conto
de Wanda Fabian, é bastante simples e universal: uma pré-adolescente (Ludmila Dayer), de família
empobrecida, desenvolve uma
verdadeira fixação pela boneca de
uma colega rica (Rafaela Gigante).
Percebendo a fraqueza da colega
pobre, a menina rica a explora,
tornando-a sua escrava em troca
de alguns momentos com a boneca. A menina pobre se submete,
até que, alimentada pela frustração e pela inveja, parte para a vingança, que vem de forma diabólica
e violenta.
Um dos grandes méritos do filme é conduzir bem a ambiguidade
da protagonista, entre a inocência
e a perversão -que acaba predominando no final. Outro ponto
notável é a atuação da garota Ludmila Dayer, que cresceu em todos
os sentidos desde sua aparição em
``Carlota Joaquina'', como a princesa quando menina.
É principalmente graças à sutileza de suas expressões que o espectador fica suspenso entre a simpatia e o horror pelo personagem.
Ironia
O vídeo foi gravado em Nova Friburgo, entre belas montanhas e luz
translúcida. Não há nada a objetar
com relação às imagens, a não ser
pela sua falta de invenção e originalidade.
Há, aparentemente, uma intenção de ironia com relação a determinadas imagens feitas da pureza
infantil, como a da menina correndo em câmera lenta com a boneca na relva, mas isso não fica
muito claro.
Uma boa imagem mostra a garota, na casa em que morava com os
avós, separando-se deles e mergulhando na luz que jorra da porta
aberta da rua. Com mais cenas assim, o vídeo poderia acentuar o estranho clima de terror que lhe é
subjacente.
Pena que a qualidade do som direto não esteja à altura do cuidado
com a imagem. Em vários momentos ouve-se com dificuldade o
que dizem os personagens, e os
ruídos nunca têm profundidade.
Não fosse por problemas assim,
e pela irregularidade na direção de
atores, poderia ser um ótimo especial de TV.
(JGC)
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