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TELEVISÃO
Filme penetra no espírito dos Filhos de Gandhy
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
OGNT iniciou a semana carnavalesca com a estréia do sensacional "Filhos de Gandhy", filme
documentário que comemora 50
anos do legendário bloco de Carnaval baiano.
A história do Filhos de Gandhy
é fascinante por si só. Fundado
por 33 estivadores comunistas e
namoradores que preferiram excluir as mulheres -segundo eles
para evitar brigas e preservar a
unidade do grupo-, o bloco mistura referências culturais à missão pacifista do líder indiano,
com o repertório musical e religioso do candomblé africano.
O filme salienta a originalidade
de um delicioso pastiche filosófico-político-musical. O nome do
bloco, segundo um dos fundadores, veio de um jogo de palavras
em torno de "Gunga Din", o nome de um filme popular em Salvador, que mostrava a guerra de
homens vestidos de branco e turbante contra o exército inglês.
Na década de 40, Mahatma
Gandhy liderou um movimento
pacifista pela independência da
Índia. O bloco homenageia a luta
pela paz do líder hindu. E, no destaque, vai Raimundo, que a essa
altura já assina Gandhy, óculos,
canga branca, sandálias, cabelos
cortados ao estilo ascético da celebridade política.
E 50 anos depois, com 12 mil e
tantos membros à época do filme,
o bloco não pára de crescer. Atento aos detalhes do cotidiano da
associação na preparação do desfile, o documentário filmado em
película, dirigido por Lula Buarque de Holanda, com a participação de Gilberto Gil, entrevista os
atuais dirigentes, assim como vários fundadores que continuam
fiéis e convictos participantes do
bloco.
"Filhos de Gandhy" revela com
delicadeza a emoção de ser membro dessa comunidade sui generis. A lógica da homenagem axé a
Ogum, Ocanha, Oxum, Iansã,
Obá, Oxalá. Os olhos de Gilberto
Gil se enchem de lágrimas ao descrever a sensação de desfilar como parte daquele coletivo vibrante. Uma massa impressionante
meio misógina, de homens vestidos com batas longas e turbantes
brancos transmite uma idéia de
homogeneidade.
Mas "Filhos de Gandhy" vai
além do já valioso recuperar a
história de uma das instituições
do Carnaval da Bahia. O filme
penetra, escrutina e estimula o espírito multicultural que inspira
seus membros desde o início e que
bem se adapta aos tempos de globalização exacerbada.
A equipe da Conspiração filmes
levou Raimundo Gandhy, Gilberto Gil e outros participantes do
bloco à Índia. O parente baiano
do ídolo local foi reverenciado
com flores por mulheres vestidas
em cores fortes.
Sua semelhança com o libertador da Índia foi reconhecida em
encontros filosóficos-musicais onde brasileiros e indianos experimentaram as diferenças e semelhanças de seus instrumentos específicos. A flauta, o violão, o agogô mediaram a conversa e a performance de uma experiência
cultural única. E os foliões de Salvador, que no início dos anos 70,
quando Gilberto Gil voltou do
exílio, quase deixaram de desfilar, vão transcendendo seu jeito
de estar no mundo.
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