São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2001

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MÚSICA

Sexta edição do evento, que terminou anteontem, traçou painel da música que pulsa em capitais como BH e Maceió

Rec Beat consolida bandas fora do eixo

VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Com a maioria das atrações colhidas em seu quintal (pelo menos 20 das 30 bandas ou intérpretes são de Recife ou Olinda, e não poderia ser diferente), ainda assim a sexta edição do Festival Rec Beat, encerrada anteontem, conseguiu traçar um painel bem bolado da mossa sonora menos óbvia que pulsa em capitais como Maceió, Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio e São Paulo, com adendo do grunge e do blues americano.
De ascendência alemã, criado em Maceió, o cantor e compositor Oswaldo Schlickmann, o Wado, 23, apresentou "O Manifesto da Arte Periférica", disco e projeto da banda que leva seu nome. Não se pretende dogmático, mas reivindica incentivo à "música popular contemporânea além do eixo Rio-São Paulo".
Wado, assim como outros da capital alagoana (Sonic Jr., Mopho etc.), tenta melhorar a auto-estima do Estado maculado nos últimos anos pela corrupção política. "O trabalho começa dentro de casa, fomos muito abalados. Praticamos agora um bairrismo positivo", afirma Wado.
De Belém, o Cravo e Carbono investe em "um filão mais amplo de MPB", segundo o vocalista e compositor Lázaro Magalhães, 29, incorporando ao rock ritmos tradicionais do Pará, como carimbó e merengue. A banda surgiu em 96 e lançou há pouco seu segundo CD, "Peixe Vivo".
"Se Sexo É o Que Importa, Só o Rock É sobre Amor!", título do CD de estréia do Bidê ou Balde, de Porto Alegre, já entrega seu tema recorrente. "O amor foi distorcido", diz o vocalista Carlinhos, 22, mentor da banda pop formada por sete músicos, reunidos há cerca de três anos para fazer a trilha de um curta-metragem que nunca vingou.
Coube aos mineiros do Berimbrown e aos paulistas do Funk Como le Gusta a reafirmação do "verdadeiro" som da black music americana à brasileira, soul e funk sem apelações.
Na linha experimental, com um "estúdio" no palco (computadores, teclados, guitarras), na base da "tecnologia com emoção", veio do Rio o projeto Eletro Fluminas. De Led Zeppelin ao umbigo, a intenção é romper fronteiras geográficas e estilísticas.
As atrações internacionais foram Mudhoney, uma das principais influências do movimento grunge surgido em Seattle (EUA), nos anos 80, e o gaitista Bruce Ewan, também americano, que dividiu o palco com o guitarrista carioca Big Gilson.

Confluência de sons
Durante os cinco dias (dois a menos que em 2000), o que se viu, ouviu e dançou na rua da Moeda, no bairro do Recife Antigo, foi a confluência de todos os sons.
Muita diversidade. Na noite em que Aramis Trindade imitou ídolos da jovem guarda, iê-iê-iê em playback sem dó, precedendo a pauleira "pornô punk" da banda Matalanamão, ambos de Recife; ou na noite em que o pernambucano Silvério Pessoa (ex-Cascabulho) e o sanfoneiro alagoano Jacinto Silva celebraram o forró da Zona da Mata, antes do pop do Bidê ou Balde, que tocou Nirvana e B'52, enfim, um marciano poderia se sentir no mais estranho dos mundos. E era Carnaval.
A música regional dominou a abertura todas as noites. Uma delas marcou a estréia do grupo Quinto Pilão, da comunidade Alto José do Pinho, com um trabalho baseado na percussão primitiva e no candomblé.
Entre os idolatrados em Recife, estavam o rap do Faces do Subúrbio; o hardcore do Devotos; as profecias poéticas do Cordel do Fogo Encantado; o tecno de DJ Dolores e sua Orchestra Santa Massa; o deboche dos Textículos de Mary; e o caldeirão rítmico de Lula Queiroga, parceiro de Lenine. Otto e Zeca Baleiro encerraram o evento.
A organização estimou público flutuante de 12 mil por noite.


O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do Festival Rec Beat


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