São Paulo, quarta-feira, 01 de março de 2006

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Decidimos correr riscos, diz John Frusciante

Ernesto Rodrigues - 12.out.2002/Folha Imagem
John Frusciante, em show, no estádio do Pacaembu


COLUNISTA DA FOLHA, EM LOS ANGELES

A fama de os Red Hot Chili Peppers serem sempre "chatos" no trato com a imprensa veio à mente na hora em que John Frusciante apareceu num "bangalô de entrevistas" no hotel Chateau Marmont, um em que Jim Morrison (Doors) já dançou bêbado no telhado. Frusciante entrou esbaforido e com cara de poucos amigos em um dos quartos onde estava a reportagem da Folha.
Em uma ação que durou no máximo um minuto, cheirou o ar, saiu, entrou de novo, saiu de novo, reclamou em voz alta do carpete "fedido", invadiu um outro quarto que não estava "arrumado" para entrevistas, deitou na cama, tirou o tênis, pediu para a assustada assessora sair e falou: "Pode começar. Você se importa de eu ficar assim, deitado?". (LR)
 

Folha - Agora que "Stadium" ficou pronto, bateu o cansaço?
John Frusciante -
Não está pronto ainda. Falta mixar quatro, cinco músicas. E talvez mudar umas outras. Mas não posso nem pensar em ficar cansado agora. Com um CD prestes a ser lançado, esta é a hora de a correria começar.

Folha - Em que você acha este novo diferente dos discos anteriores?
Frusciante -
Ele é muuuuito diferente. Não sei pelos outros da banda, mas estou bem entusiasmado com as guitarras de "Stadium". Dos CDs dos Chili Peppers dos quais participei, este é de longe o melhor, feito com mais inspiração, correndo mais riscos sem que ninguém parasse para questionar: "Ei, tem certeza de que assim é o melhor jeito?". Deve ser porque a banda parece se encontrar mais tranqüila, com mais luz do que nas trevas passadas...

Folha - Esta é a primeira vez em 20 anos que os Chili Peppers repetem a mesma formação em três álbuns consecutivos. A banda resolveu os problemas do passado?
Frusciante -
Sim, estamos limpos. Não que tenhamos nos livrados totalmente de nossos demônios. Mas nossas vidas estão aparentemente sob controle. Estou vendo coisas que nunca pude ver antes, enxergando mais caminhos para a minha música. Acho este disco muito mais inspirado, iluminado. Estou tão excitado com ele que nos shows, se pudesse, nem tocaria músicas velhas.

Folha - Minha primeira impressão do álbum novo é a de que está menos cheio de baladas, como o "By the Way" (2002, o disco anterior), e mais dividido em hard rock e músicas com guitarras elaboradas.
Frusciante -
Com este novo disco, eu me sinto uma pessoa melhor. Estou conseguindo coisas que prometi para mim mesmo que lutaria por elas, que era me focar, me refugiar na música que eu faço. E "Stadium" reflete isso. O disco anterior talvez seja mais devagar porque ele reflete uma escuridão que eu vivia. Agora me senti capaz de explorar todas as camadas de sons que me formaram culturalmente. Ele não é só quatro caras tocando numa sala, como eu acho que "By the Way" era. "Stadium" é consistente, tem várias camadas, você ouve uma vez ele é um, outra vez e ele já é outro. Ele é experimental demais.

Folha - A turnê passa pelo Brasil?
Frusciante -
Óbvio que sim. Não sei se neste ano, porque a gente começa uma série de shows na Europa em maio e depois tem a turnê americana. Mas na América do Sul é onde estão os mais entusiasmados e loucos fãs dos Chili Peppers. O público dos EUA vai nos ver ao vivo e fica reservado, assistindo ao show. Na América do Sul eles são parte do show.


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