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Ardidos como pimenta
Red Hot Chili Peppers volta mais picante em seu novo álbum, "Stadium Arcadium"
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LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA, EM LOS ANGELES
Você pode imaginar o U2 fazendo música eletrônica (fez), o
Green Day transformando o
punk em ópera (transformou) ou
a Ivete Sangalo cantando
rock'n'roll em cima de um trio
elétrico (cantou). Mas é bem difícil pensar no grupo funk-punk-rap-metal californiano Red Hot
Chili Peppers lançando um disco,
por exemplo, que não soe... Red
Hot Chili Peppers.
Mas isso vai mudar em maio,
quando chegar às lojas "Stadium
Arcadium", novo CD dos Chili
Peppers, o nono álbum de uma
turbulenta carreira de mais de
duas décadas.
O disco "Stadium Arcadium"
pega a banda em uma fase "limpa,
iluminada, vendo coisas que nunca pode ver antes", como definiu à
Folha o guitarrista John Frusciante, 36 anos, em entrevista num luxuoso hotel da famosa Sunset
Boulevard, que aconteceu logo
depois de uma audição de 20 das
25 faixas que farão parte do próximo disco. "Stadium Arcadium" é
um álbum duplo.
John Frusciante é o cara, neste
novo e "diferente" disco do Red
Hot Chili Peppers. É sua guitarra
que leva "Stadium Arcadium" para longe de ser um mero disco dos
Chili Peppers, com músicas ora
melosas, ora rap metal comandadas pela voz de Anthony Kiedis e
pelo baixo estourado de Flea.
Numa primeira ouvida, "Stadium Arcadium" mostra uma
banda menos melosa que no disco anterior ("By the Way", 2002) e
um Frusciante musicalmente solto, experimentando dentro do
funk rock que é a marca indelével
do grupo. Por mais estranho que
isso possa soar a um admirador
dos Chili Peppers, em muitas das
faixas do disco duplo Frusciante
vai com seu instrumento de Santana a Prince, passando por Jimi
Hendrix e Kurt Cobain.
Quanto ao momento "iluminado" a que Frusciante se refere, o
termo deve ser um sinalizador de
que a banda está conseguindo se
manter longe das drogas, um elemento tão presente no RHCP
quanto o baixo de Flea e os shows
em que tocaram pelados.
Se bem que o discurso "agora
estamos limpos, entramos finalmente nos eixos, os anos passados
foram muito conturbados" se segue a cada lançamento de um novo disco dos Chili Peppers.
De todo modo, não tem muito
tempo, o vocalista Anthony Kiedis lançou em livro suas memórias ("Scar Tissue - A Vida Alucinada do Vocalista dos Red Hot
Chili Peppers", Ediouro), em que
publica, entre outras coisas, fotos
da primeira vez que fumou maconha. Aos oito anos. Fotos essas
que foram tiradas pelo pai, que
forneceu a "marijuana" ao menino Kiedis. O pai de Kiedis, conta o
livro, era traficante.
Já Frusciante teve refeita toda a
parte superior de sua arcada dentária, que caiu podre por causa de
uma fase quase sem volta no vício
em heroína e outras drogas pesadas, no final dos anos 90.
Limpos
"Sim, estamos limpos. Não que
tenhamos nos livrados totalmente de nossos demônios. Mas nossas vidas agora estão aparentemente sob controle", revelou o
guitarrista, na entrevista que segue completa no texto abaixo.
"Stadium Arcadium", talvez
outro indicador dessa fase "limpa", marca o terceiro álbum consecutivo dos Chili Peppers em que
a banda repete a mesma formação, em 20 anos de carreira.
O fato coincide exatamente com
a volta de Frusciante à banda, em
1999, para as gravações do CD
"Californication", que foi sucedido por "By the Way" (2002).
O álbum novo, na cabeça de
Kiedis, era para ser uma trilogia,
sendo lançado o primeiro agora e
os outros dois em um espaço de
seis meses de diferença um do outro. A banda entrou no estúdio
com 36 músicas prontas, mas até
agora só 26 delas passaram pela
aprovação final do grupo. Então a
idéia imediata da trilogia foi abandonada, segundo Frusciante.
A proposta da banda passou a
ser, então, lançar um álbum duplo
com 25 músicas. E as restantes devem entrar como bônus na comercialização do disco no iTunes
e em diferentes versões do CD
lançado nos principais mercados
fonográficos do mundo.
Amiguinha imaginária
"Stadium Arcadium" tem a produção assinada por Rick Rubin
(System of a Down, Beastie Boys).
O primeiro som a emergir do novo álbum dos Chili Peppers é "Dani California", música que será
lançada em single no começo de
abril, um mês antes do CD. Dani,
a personagem da canção, é uma
"amiguinha imaginária" de Anthony Kiedis, que já havia aparecido na letra da música "By the
Way", sucesso do disco anterior, e
da canção "Californication" (onde Dani é citada, mas não nominalmente).
"Dani California", a jovem amiga pura que não tem idéia dos diabos que cercam Kiedis, segundo
canta o vocalista, mas também
um jeito mais "humano" de Kiedis se referir à sua Califórnia ("California rest in peace, California
show your teeth"), é uma balada
suingada até chegar seu refrão explosivo. E tem previsão de aportar
nas rádios no final de março.
O vídeo da música foi filmado
há duas semanas e mostra a banda interpretando a história do
rock desde os anos 50 até hoje, segundo descreveu Frusciante. Foi
filmado por Tony Kaye, que dirigiu o filme "American History X".
E, assim, faz todo o sentido com o
momento "guitarristas históricos" pelo qual atravessa o iluminado John Frusciante.
A banda começa a pegar estrada
em maio, com shows pela Europa
que incluem o Rock in Rio realizado em Lisboa (3 de junho).
Está prometida uma excursão
sonora para a América do Sul,
mas talvez não ainda neste ano,
pelo aperto na agenda. Possivelmente no começo do próximo
ano.
Os Chili Peppers já tocaram
quatro vezes no Brasil, três em
São Paulo. A primeira foi no
Hollywood Rock, em 1993, o famoso "festival do Nirvana". Em
2001, fecharam o Rock in Rio 3,
tocando para 250 mil pessoas, na
noite mais lotada do evento.
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