São Paulo, terça, 1 de abril de 1997.

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ENQUETE
Entrevistas realizadas com 35% dos atores que participaram do 6º Festival de Curitiba apontam seu perfil
Ator brasileiro afirma que vive de teatro

DANIELA ROCHA
da Reportagem Local

Uma enquete realizada com 35% dos atores que participaram do 6º Festival de Teatro de Curitiba mostra que eles vivem de teatro, mas aceitam a televisão como opção de trabalho.
O 6º Festival de Teatro de Curitiba aconteceu entre 13 e 23 de março e reuniu grupos de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Pernambuco. Incluiu montagens de Gerald Thomas, Enrique Diaz, Marco Antônio Braz e Dionisio Neto, entre outros.
Participaram atuando no palco 146 profissionais. Desses, 51 responderam ao questionário elaborado pela Folha, numa enquete com 20 perguntas.
O resultado da enquete revelou que, do total de entrevistados, 65% sobrevivem com o que ganham trabalhando em teatro e 88% são favoráveis a interpretar um papel na TV. Dos entrevistados, 51% já trabalharam como atores em TV.
Nenhum ator declarou ser contrário a trabalhar em televisão. Para alguns, existem condições prévias, como o papel oferecido e o projeto.
Daniel Machado, o ator mais jovem entre os entrevistados, com 13 anos, trabalha em teatro há três e se diz favorável a trabalhar em TV, mas ressalta: "Apesar de que quem faz TV não é bem um ator".
O ator brasileiro, de acordo com a enquete, é branco (76%), não tem religião (55%), tem escolaridade superior (70%) e não precisou migrar de Estado para trabalhar em teatro: 64% permaneceram no Estado em que nasceram.
Dos atores questionados, 45% já interpretaram um texto do dramaturgo inglês William Shakespeare e 27% já atuaram como algum personagem do dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues.
Luiz Pepeu, que interpreta o Deus Indra em "O Sonho", de Strindberg, dirigido por Gabriel Villela, tem em seu currículo três montagens de Shakespeare e uma de Nelson Rodrigues.
As peças de Shakespeare mais interpretadas pelos entrevistados são "Hamlet" e "Macbeth". Já de Nelson Rodrigues são "A Falecida" e "Vestido de Noiva".
Entre os outros autores que já interpretaram e que consideram relevantes estão Bertolt Brecht, García Lorca, Jorge Andrade, Plínio Marcos, Anton Tchekov, Samuel Beckett, Naum Alves de Souza, Molière, Carlo Goldoni, Friedrich Duerrenmatt e Jean Genet.
Apenas 14% dos atores que foram entrevistados já ganharam prêmios por sua atuação em peças.
Luiz Damasceno é o único ator que participou de todos os espetáculos da Cia. de Ópera Seca, de Gerald Thomas. Aos 55 anos -30 de profissão-, ele nunca ganhou prêmios, mas já foi a festivais em Zurique, Lausanne, Viena, Hamburgo, Colônia e Nova York, além de brasileiros em Curitiba (seis vezes), São Paulo e Rio.
Thaís Tedesco, 27, protagonista de "Nora" (única produção de Curitiba presente no festival), foi a entrevistada que mais ganhou prêmios: melhor atriz coadjuvante nos festivais de São José do Rio Preto, Jacareí, Florianópolis e São José dos Campos.
A média de tempo na profissão dos entrevistados é de 12 anos, e a sua média de idade é de 32,9 anos.
Boa parte dos atores começa a trabalhar na área ainda na adolescência ou juventude, com idades entre 13 e 17 anos.
Entre os cursos de teatro que atores fazem ou fizeram incluem-se universidades federais da Bahia, de Pernambuco, de Minas Gerais, e as estaduais USP e Unicamp.
Dos 51 atores entrevistados, dois fizeram cursos de teatro no exterior: Agnes Zuliani, que interpreta o papel de Filha em "No Alvo", estudou no Lee Strasberg Theatre Institute, em Nova York (EUA).
Sérgio Módena, que integra o elenco de "Senhorita Else", estudou na Philipe Goulus School, em Londres (Inglaterra), além de ter feito artes cênicas na Unicamp.
Outros fizeram curso como o CPT (Centro de Pesquisas Teatrais, coordenado por Antunes Filho), o Indac (Instituto de Artes e Ciências), a EAD (Escola de Arte Dramática) e o curso do Teatro-Escola Célia Helena (SP).

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