São Paulo, terça, 1 de abril de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Músico viveu paixão conturbada


da Reportagem Local

Kurt Weill é uma espécie de representante máximo de um estilo que, na verdade, teve uma passagem ligeira em sua vida.
Nascido em 1900 em Dachau, na Alemanha, filho de um cantor, seus primeiros trabalhos de composição são realizados aos 12 anos.
Toca órgão em sinagogas e deixa-se tomar pela herança do romantismo do compositor Richard Wagner e pela modernidade de Arnold Schoenberg.
O primeiro sucesso de Weill foi uma ópera: ``Der Protagonist''. Tinha 26 anos e começava a participar do instante em que a herança musical germânica recebe -de braços abertos- a influência do jazz norte-americano.
Nesse período já estava há dois anos casado com a cantora Lotte Lenya, que seria sua musa por toda existência. Cada composição seria pensada para uma performance de sua mulher.
Nas pequenas casas de espetáculos as canções de fortes insinuações sexuais predominam -quase que invariavelmente com acompanhamento de piano e metais-, dando forma à chamada ``música de cabaré''.
Weill assume o novo estilo e -segundo boa parte da crítica- o sofistica ao ponto máximo. Um trabalho que será potencializado depois de seu primeiro encontro com o dramaturgo Bertolt Brecht.
Em 1927, fascinado por uma coleção de versos de Brecht recém-publicados, se engaja -em sua primeira parceria com o escritor- na feitura de ``Mahagonny''.
Se antes Weill era tido como um músico promissor, com ``Mahagonny'' surge o sucesso público. A malícia popular torna-se motivo de euforia e escândalo.
A parceria entre os dois resulta em ``A Ópera dos Três Vinténs'' e ``Happy End'', entre outros trabalhos.
Separação
A separação acontece em consequência de um certo exagero ideológico de Brecht, que condiciona a criação musical -ou dramática- aos ideais socialistas.
Brecht e Weill se abandonam em 1931, com a chegada de um novo parceiro, Caspar Neher.
Com o fortalecimento do partido nazista -e o início das punições a músicos-, decide abandonar seu país pela França. O ano é 1933 e, como se os tormentos já não fossem suficientes, o casamento com Lotte chega também ao fim.
Em Paris, realiza um ``balé sonoro'' para a companhia de George Balanchine. Mas o que mais o interessa é, ainda, escrever canções para Lotte.
O esforço é compensado em 1935, quando parte para os EUA e se anima com as possibilidades do teatro comercial. Casa-se com a ex-mulher e juntos partem para a Broadway. Weill morre em 3 de abril de 1950.
Parte dessa atribulada trajetória aparece no volume de cartas trocadas entre Weill e Lotte Lenya reunidos pela University Press em ``Speak Low (When You Speak Love)'', lançado no final do ano passado.
Segunda a imprensa norte-americana, o livro é a história de um casal que passou muito tempo separado para descobrir, no final, que só poderiam viver juntos.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã