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CDS
POP
"Guero", disco do cantor americano, é quase todo produzido pelos Dust Brothers
Beck mistura influências e se encontra em seu melhor álbum
DA REPORTAGEM LOCAL
O que está acontecendo, garoto branco? É o que pergunta Beck em "Qué Onda Guero", canção de seu novo álbum.
O garoto passeia pelo bairro assoprando uma estridente corneta,
enquanto caubóis dormem na
calçada, "manos blancos" tocam
"rancheras" em guitarras baratas,
"abuelitas" caminham com sacolas plásticas em direção à igreja.
É assim a canção, levada numa
mistura de inglês e espanhol.
Nonsense, esquisita, nada convencional. É a cara do cantor, é a
cara de "Guero", o disco -de
longe o melhor que Beck já produziu, e isso não significa pouco.
Beck Hansen, hoje com 34 anos,
apareceu em 1994, com o megahit
"Loser". Muita coisa mudou na
vida do cantor de lá para cá. Assim como Tom Cruise e John Travolta, ele é praticante da cientologia; é casado com a atriz Marissa
Ribisi, e o casal tem um filho, Cosimo Henri Hansen. Beck foge da
trivialidade.
Em 1996, lançou "Odelay", que, com canções como "Where It's
At", marcou época no rock americano. Depois ele se perdeu. Em
discos como "Midnite Vultures"
(1999; espécie de ode a Prince) e
"Sea Change" (2002; melancólico
e desordenado), parecia confuso.
Mas, olhando para trás, Beck se
encontra. Como todo artista que
se preze, ele enfia um monte de
influências e referências no disco.
"Guero" tem a crueza de "Mellow
Gold" (94); o cinismo de "Odelay"; o atrevimento de "Mutations" (98); o funk balançante de
"Midnite..."; a aspereza de "Sea
Change". Há David Bowie, electro, fábulas tristes, rap, blues... Há
de tudo, e mesmo assim "Guero"
soa conciso e indispensável.
Liricamente, é um disco nada
leve, mórbido. Fala de assassinatos, de morte, de "cavalos perfilados que me carregam para ser enterrado" ("Farewell Ride"). Em
"Girl", um azedo Beck ("Eu sei
que eu vou roubar os olhos dela")
se contrapõe a um alegre electro
construído em cima de um teclado tosco (no bom sentido). É a
mais surpreendente do disco.
O álbum, quase todo ele, é produzido pelos Dust Brothers, que
mexeram também em "Paul's
Boutique", dos Beastie Boys. Não
surpreende que a primeira faixa
do CD, "E-Pro", carregue um
sample da nervosa "So Wat'cha
Want", dos Beastie Boys.
Já "Missing" traz a paixão de
Beck pela música brasileira (seu
título anterior era "Brazilica").
Quase chega na bossa, mas pára
num downtempo orquestrado.
"Earthquake Weather" flerta com
o rap em uma batida seca -e tem
Money Mark no teclado. "Broken
Drum" é climática, densa -não à
toa foi remixada pelo inclassificável Boards of Canada.
O amigo Jack White, dos White
Stripes, toca baixo na minimalista
"Go it Alone" -White não apenas participa, mas dá o caminho
para Beck. Faz bela companhia à
blueseira "Farewell Ride". Na pop
"Hell Yes", até se dá ao luxo de ter
Christina Ricci numa participação duvidosa, dizendo "please,
enjoy" (por favor, aproveite).
Garoto branco que sonhava em
ser Prince, Beck transformou
"Guero" em sua obra-prima.
(THIAGO NEY)
Guero
Artista: Beck
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média
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