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FADO
A portuguesa Mísia utiliza textos de escritores em suas músicas
Cantora volta a Lisboa depois
de conquistar França e Japão
CASSIANO ELEK MACHADO
enviado especial a Lisboa
Pergunte a um taxista português
quem é Mísia e ele responderá que
não sabe onde é que isso fica. A
cena se repete por toda Lisboa,
com diferentes interlocutores.
Uma das maiores revelações do
fado contemporâneo, a cantora
portuguesa conquistou espaços de
grande destaque na França, na Espanha e no Japão.
Teve destino "amaldiçoado", como costuma dizer, em Portugal.
Somente no último fim-de-semana Mísia fez sua primeira grande
apresentação em Lisboa. E com
casa cheia.
Fincou o repertório de seu disco
mais recente, "Garras do Sentido",
no palco do pomposo auditório da
instituição cultural Culturgest.
Mais do que em sua garganta de
modulação mediana do que na
competência sóbria dos cinco músicos que a acompanharam, ou do
que em recursos cênicos sofisticados, a cantora buscou suas centenas de aplausos usando a sofisticação portuguesa com a trama das
palavras.
Literatura
Mísia canta em seus fados, de
consistência musical bastante fiel
à tradição do gênero, apenas textos de escritores como Fernando
Pessoa, Mário Sá-Carneiro, José
Saramago e Antonio Lobo Antunes.
Canta sobretudo o modo como
esses autores descreveram o amor
(ainda que reproduza o verso
"Não quero cantar amores nem
falar de seus motivos.").
A cantora de franja morena, de
olhos verdes como os pintados pelo italiano Amadeo Modigliani,
sem muito espaço para o branco,
fala bastante sobre a sua paixão
pelo fado.
Mas Mísia deixa claro, em suas
canções, que seu grande amor é
mesmo pela literatura.
Economiza gestos, se veste de
negro (cor do figurino de todos os
músicos), usa iluminação e, mais
do que tudo, canções essencialmente tradicionais para jogar no
centro do espetáculo a palavra literária.
Mísia tem 42 anos. Mas ela conta
que seu apego pelas raízes musicais e literárias de seu país só começou quando ela estava "no alto
do tronco", morando fora de Portugal.
De ponta-cabeça
Era longe do solo, aliás, que Mísia gostava de ficar quando era
"miúda".
A cantora ainda se chamava Susana Maria Alfonso de Aguiar e
queria ser trapezista. Mísia passou
boa parte de sua infância de ponta-cabeça.
Hoje, mais do que nunca, ela
quer deixar os seus pés na terra.
De preferência em chão português.
Para isso, terá que fazer o que está na letra de um dos fados que ela
canta, "Estátua Falsa". Há de esquecer que é, ou era, esquecida.
"As sombra não perduram. Ontem para mim já é distância", diz o
texto de Mário Sá-Carneiro.
O jornalista
Cassiano Elek Machado viaja a Lisboa a convite do Icep, Investimentos, Comércio e Turismo de Portugal.
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