São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2000


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Grupo dá aulas a carentes

da Sucursal do Rio

Os bailarinos da Companhia Luar de Dança tentam reproduzir a própria história dando aulas a cerca de 500 crianças de 25 comunidades carentes da Região Metropolitana do Rio.
Nilvone Sinésio, 20, ensinava numa comunidade tão pobre e tão violenta em Caxias que as aulas eram interrompidas por tiroteios. "Os traficantes jogavam os corpos na porta da igreja onde aconteciam as aulas. Paramos, porque as crianças tinham medo", conta.
As crianças que podem pagam R$ 5 mensais pelas aulas. Muitas, de tão pobres, não pagam nada.
A bailarina Rosangela Moreira, 22, vê nos alunos as dificuldades que eles próprios enfrentaram e que ajudaram a unir ainda mais os integrantes da companhia.
"Quando vamos a festivais, vemos que os outros grupos são diferentes de nós. Eles têm chão bom para treinar, salas, espelho, mas são muito competitivos. Têm tudo e não têm nada. Nós não temos nada, mas temos alma, e isso nos anima", conta.
Nos últimos dez anos, a companhia teve ensaios nas tardes de sábados e domingos. É pouco para um bailarino tradicional, que pode ensaiar seis horas por dia.
Ana Lúcia Gonas, 21, conseguiu passar no vestibular de dança da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Percebeu o abismo entre ela e as colegas de faculdade. "Todos têm sapatilhas, roupas boas. Eu nunca dancei de sapatilha, porque o chão da igreja é muito áspero. Mas me sinto uma vitoriosa, não é a sapatilha que vai fazer diferença", afirmou.
Os patrões de Valéria dos Santos, 22, auxiliar num escritório de advocacia, apoiaram sua viagem para a Itália e deram até ajuda financeira. Cristiane Tatsch, 21, não teve a mesma sorte: para poder viajar, pediu demissão da loja de departamentos em que trabalhava como vendedora.
Um dos bailarinos, soldado, não pode ser identificado. Teme que o demitam, por preconceito "contra homem que dança balé".
Todos se lembram da memorável tarde de chuva em que conheceram Rita Serpa no salão da igreja. "Para mim, foi um nascimento. A diferença é que eu me lembro como foi. Sei que ali eu nasci de novo", conta Deco Baptista.
Rita Serpa também acha que nasceu de novo: "Esses meninos mudaram a minha dança, e minha dança é minha vida. Eles me deram vida nova". (FE)


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