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Grupo dá aulas a carentes
da Sucursal do Rio
Os bailarinos da Companhia
Luar de Dança tentam reproduzir
a própria história dando aulas a
cerca de 500 crianças de 25 comunidades carentes da Região Metropolitana do Rio.
Nilvone Sinésio, 20, ensinava
numa comunidade tão pobre e
tão violenta em Caxias que as aulas eram interrompidas por tiroteios. "Os traficantes jogavam os
corpos na porta da igreja onde
aconteciam as aulas. Paramos,
porque as crianças tinham medo", conta.
As crianças que podem pagam
R$ 5 mensais pelas aulas. Muitas,
de tão pobres, não pagam nada.
A bailarina Rosangela Moreira,
22, vê nos alunos as dificuldades
que eles próprios enfrentaram e
que ajudaram a unir ainda mais
os integrantes da companhia.
"Quando vamos a festivais, vemos que os outros grupos são diferentes de nós. Eles têm chão
bom para treinar, salas, espelho,
mas são muito competitivos. Têm
tudo e não têm nada. Nós não temos nada, mas temos alma, e isso
nos anima", conta.
Nos últimos dez anos, a companhia teve ensaios nas tardes de sábados e domingos. É pouco para
um bailarino tradicional, que pode ensaiar seis horas por dia.
Ana Lúcia Gonas, 21, conseguiu
passar no vestibular de dança da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro). Percebeu o abismo entre ela e as colegas de faculdade. "Todos têm sapatilhas, roupas boas. Eu nunca dancei de sapatilha, porque o chão da igreja é
muito áspero. Mas me sinto uma
vitoriosa, não é a sapatilha que vai
fazer diferença", afirmou.
Os patrões de Valéria dos Santos, 22, auxiliar num escritório de
advocacia, apoiaram sua viagem
para a Itália e deram até ajuda financeira. Cristiane Tatsch, 21, não
teve a mesma sorte: para poder
viajar, pediu demissão da loja de
departamentos em que trabalhava como vendedora.
Um dos bailarinos, soldado,
não pode ser identificado. Teme
que o demitam, por preconceito
"contra homem que dança balé".
Todos se lembram da memorável tarde de chuva em que conheceram Rita Serpa no salão da igreja. "Para mim, foi um nascimento. A diferença é que eu me lembro como foi. Sei que ali eu nasci
de novo", conta Deco Baptista.
Rita Serpa também acha que
nasceu de novo: "Esses meninos
mudaram a minha dança, e minha dança é minha vida. Eles me
deram vida nova".
(FE)
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