São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Comprar quadros é uma doença", diz Costantini


de Buenos Aires

O financista argentino Eduardo Costantini, 53, é um apaixonado pelas artes. Seus olhos brilham como os de uma criança que cobiça um brinquedo novo quando fala dos quadros que gostaria de possuir.
"É uma doença." Assim ele define sua obsessão por comprar novas obras. Ele calcula que, quando o Malba abrir suas portas dentro de um ano, serão 200 e não mais 180 as peças de sua coleção.
Costantini recebeu a Folha no escritório de sua empresa, a Consultario Inversora, em Buenos Aires, para falar do projeto do museu e de seu lado colecionador.
(VA)

Folha - Como o sr. se tornou um colecionador?
Eduardo Costantini -
Há mais ou menos 30 anos, eu frequentava uma sorveteria no bairro onde morava. Em frente, havia uma galeria. Um dia me senti atraído por um quadro de Berni. Quis comprar, mas não tinha dinheiro. Comprei duas obras mais baratas a prestação e não parei mais.

Folha - Quais foram as obras mais difíceis de comprar?
Costantini -
Um "Candombe" do Pedro Figari levou cinco anos. Uma senhora tinha 18 quadros de Figari e não queria vender esse, que era o melhor. Eu ligava para ela todos os anos. Um ano me chamou e disse que estava disposta a vender. Um que me custa muito comprar é o "Antropofagia", da Tarsila do Amaral. A dona do quadro não quer me ver pela frente, já insisti muito e ela me põe para correr.

Folha - E quanto o sr. estaria disposto a pagar por ele?
Costantini -
Esse quadro vale US$ 3 milhões, no mínimo.

Folha - E como foi a compra do "Abaporu", da Tarsila?
Costantini -
O dono quis vender no Brasil, para que ficasse no país. Esteve conversando com empresários e instituições brasileiros que nunca se definiram.
Um dia abri o catálogo de leilões e apareceu o "Abaporu" à venda. Não podia acreditar. Foi um presente dos céus. São essas coisas imprevisíveis que aparecem. Ele é um ícone da pintura brasileira. Houve uma disputa com brasileiros no leilão, mas eu estava decidido a ficar com o "Abaporu" e elevei o preço constantemente. Para mim, é uma das dez principais obras pintadas neste século no Brasil.

Folha - Qual foi a obra mais cara que o sr. já comprou?
Costantini -
Foi um Diego Rivera que comprei há poucos meses, custou US$ 3,5 milhões e se chama "Retrato de Ramón Gomez de la Serna". É o meu primeiro Rivera, e comprei porque o Malba precisava ter um. Esse é uma pintura fundamental da arte mexicana. O auto-retrato da Frida Kahlo, que comprei há cinco anos foi o recorde latino-americano em leilões, saiu por US$ 3,2 milhões.

Folha - E por que comprar apenas obras latino-americanas?
Costantini -
Fico muito tentado a comprar um Picasso, por exemplo. Mas acho que falta espaço para a pintura latino-americana, e é preciso promovê-la. Além disso, há laços afetivos, é uma questão de integrar-se com suas raízes.

Folha - O sr. está desenvolvendo esse projeto sozinho, sem ajuda do governo. Como pretende recuperar tanto dinheiro?
Costantini -
Esse museu não é um negócio para mim. Ele me trará outro tipo de satisfação. Será a casa dos quadros, porque muitos hoje estão sem-teto, em Nova York, na Suíça, alguns em museus outros em depósitos. O "Abaporu" está guardado em Nova York.

Folha - O que ainda falta?
Costantini -
Dos brasileiros eu queria ter Lasar Segall, Volpi, Rego Monteiro, Brecheret, Oiticica. Falta tanta coisa, nunca termina.


Texto Anterior: Artes Plásticas/Pelo Mundo: Colecionador argentino cria museu "popular"
Próximo Texto: Berlim expõe "Divina Comédia" de Botticelli
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.