São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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BIENAL DO LIVRO

JABUTI

"Escrever e Criar", de Ruth Rocha e Anna Flora, e "O Fazedor de Amanhecer", de Manoel de Barros, são os "livros do ano"

Títulos infantis levam maiores prêmios

DA REPORTAGEM LOCAL

O anúncio do 44º Prêmio Jabuti, anteontem à noite, na Bienal do Livro de São Paulo, trouxe resultados pouco previsíveis.
Acima de tudo, salta aos olhos o fato de que os dois maiores prêmios -as duas categorias de Livro do Ano, ficção e não-ficção, que dão aos autores R$ 15 mil cada uma- tenham sido concedidos a livros infantis. Mais: o de ficção é um livro de poesia e o de não-ficção, um didático.
"O Fazedor de Amanhecer", do poeta do Pantanal Manoel de Barros (e ilustrado por Ziraldo), leva ao mundo infantil o universo de sua poesia, entre telúrico e espiritual. Já "Escrever e Criar... Uma Nova Proposta!", escrito por Ruth Rocha em dupla com Anna Flora, estimula justamente o aprendizado da arte de contar histórias.
Gripado, Manoel de Barros, 85, não compareceu à cerimônia. À guisa de agradecimento, um dos poemas do livro foi lido.
Ruth Rocha, 71, declarou-se surpresa ao subir ao palco da premiação. "Não estava nada preparada", disse. Apesar de ser dona de outros quatro jabutis -um, inclusive, por outro livro da série "Escrever e Criar", em 1997-, Rocha não tinha ainda sido contemplada com o prêmio máximo.
A autora classificou de "interessante" o fato de os dois prêmios de Livro do Ano terem sido dados a infantis, categoria que, ressalta, "contribui bastante para o mercado [editorial"". Na opinião de Ruth Rocha, ainda, a premiação denota uma preocupação com a formação de novos leitores.
A julgar pelo que diz o presidente da Câmara Brasileira do Livro, Raul Wassermann, 59, Ruth Rocha tem razão, ao menos em parte. Como já dissera no anúncio dos finalistas, ele reafirmou sua crença de que o Jabuti se tornou a premiação mais importante da literatura nacional por falta de outros reconhecimentos de vulto.
Para ele, a escolha dos dois títulos "reflete o sentimento do mercado em relação ao prêmio, que quer valorizar a produção".
Isso porque a escolha dos "livros do ano" cabe a associados da CBL, que votam nos títulos que acharam mais relevantes, dentre os finalistas escolhidos pelo júri, que define outros 16 premiados.
Sendo esses jurados especialistas das áreas afins às categorias -escritores, jornalistas, pesquisadores etc.-, a tendência de sua votação é guiar-se mais pelo conteúdo do que pela importância mercadológica do título.
Entre os destaques da premiação, está a poeta carioca Claudia Roquette-Pinto, 38. Com seu quarto livro, "Corola", ela bateu dois concorrentes veteranos, Ivo Barroso e Thiago de Mello.
"Não quero fazer política, mas, por eles [Barroso e Mello" serem mais experientes, eu ser mulher, mais nova, se o prêmio abrir espaço para outras pessoas, será muito bom", afirmou a poeta, surpresa.
Na prosa curta, em compensação, o prêmio foi para um nome reconhecido há longuíssima data: Fernando Sabino, que bateu os contistas Marçal Aquino ("Faroestes") e Rubem Fonseca ("Secreções, Excreções e Desatinos") com "Livro Aberto", conjunto de crônicas de teor autobiográfico.
Sabino, que não fala à imprensa, disse a amigos: "Não tenho nada a esconder. Minha vida é um livro aberto. Estou muito feliz e orgulhoso e me sentindo o próprio Geraldo Viramundo, de "O Grande Mentecapto", que ganhou esse mesmo prêmio antes de mim, em 1980" (referindo-se ao livro de 79 com que arrebatara o prêmio).
Ao contrário da seção poética, entre os romances, todos os competidores eram de uma geração mais recente: Dionísio Jacob, Luís Giffoni e Rubens Figueiredo. Figueiredo, 46, com seu "Barco a Seco", foi o vencedor.
Na opinião do escritor e tradutor -que já ganhara o Jabuti há três anos, por um de seus livros de contos, "As Palavras Secretas"-, o prêmio deve ser valorizado por "chamar atenção para a literatura como trabalho comum, coletivo".
(FRANCESCA ANGIOLILLO)


Colaborou Cassiano Elek Machado, da Reportagem Local



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