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BIENAL DO LIVRO
JABUTI
"Escrever e Criar", de Ruth Rocha e Anna Flora, e "O Fazedor de Amanhecer", de Manoel de Barros, são os "livros do ano"
Títulos infantis levam maiores prêmios
DA REPORTAGEM LOCAL
O anúncio do 44º Prêmio Jabuti, anteontem à noite, na Bienal do
Livro de São Paulo, trouxe resultados pouco previsíveis.
Acima de tudo, salta aos olhos o
fato de que os dois maiores prêmios -as duas categorias de Livro do Ano, ficção e não-ficção,
que dão aos autores R$ 15 mil cada uma- tenham sido concedidos a livros infantis. Mais: o de ficção é um livro de poesia e o de
não-ficção, um didático.
"O Fazedor de Amanhecer", do
poeta do Pantanal Manoel de Barros (e ilustrado por Ziraldo), leva
ao mundo infantil o universo de
sua poesia, entre telúrico e espiritual. Já "Escrever e Criar... Uma
Nova Proposta!", escrito por Ruth
Rocha em dupla com Anna Flora,
estimula justamente o aprendizado da arte de contar histórias.
Gripado, Manoel de Barros, 85,
não compareceu à cerimônia. À
guisa de agradecimento, um dos
poemas do livro foi lido.
Ruth Rocha, 71, declarou-se
surpresa ao subir ao palco da premiação. "Não estava nada preparada", disse. Apesar de ser dona
de outros quatro jabutis -um,
inclusive, por outro livro da série
"Escrever e Criar", em 1997-,
Rocha não tinha ainda sido contemplada com o prêmio máximo.
A autora classificou de "interessante" o fato de os dois prêmios
de Livro do Ano terem sido dados
a infantis, categoria que, ressalta,
"contribui bastante para o mercado [editorial"". Na opinião de
Ruth Rocha, ainda, a premiação
denota uma preocupação com a
formação de novos leitores.
A julgar pelo que diz o presidente da Câmara Brasileira do Livro,
Raul Wassermann, 59, Ruth Rocha tem razão, ao menos em parte. Como já dissera no anúncio
dos finalistas, ele reafirmou sua
crença de que o Jabuti se tornou a
premiação mais importante da literatura nacional por falta de outros reconhecimentos de vulto.
Para ele, a escolha dos dois títulos "reflete o sentimento do mercado em relação ao prêmio, que
quer valorizar a produção".
Isso porque a escolha dos "livros do ano" cabe a associados da
CBL, que votam nos títulos que
acharam mais relevantes, dentre
os finalistas escolhidos pelo júri,
que define outros 16 premiados.
Sendo esses jurados especialistas das áreas afins às categorias
-escritores, jornalistas, pesquisadores etc.-, a tendência de sua
votação é guiar-se mais pelo conteúdo do que pela importância
mercadológica do título.
Entre os destaques da premiação, está a poeta carioca Claudia
Roquette-Pinto, 38. Com seu
quarto livro, "Corola", ela bateu
dois concorrentes veteranos, Ivo
Barroso e Thiago de Mello.
"Não quero fazer política, mas,
por eles [Barroso e Mello" serem
mais experientes, eu ser mulher,
mais nova, se o prêmio abrir espaço para outras pessoas, será muito
bom", afirmou a poeta, surpresa.
Na prosa curta, em compensação, o prêmio foi para um nome
reconhecido há longuíssima data:
Fernando Sabino, que bateu os
contistas Marçal Aquino ("Faroestes") e Rubem Fonseca ("Secreções, Excreções e Desatinos")
com "Livro Aberto", conjunto de
crônicas de teor autobiográfico.
Sabino, que não fala à imprensa,
disse a amigos: "Não tenho nada a
esconder. Minha vida é um livro
aberto. Estou muito feliz e orgulhoso e me sentindo o próprio Geraldo Viramundo, de "O Grande
Mentecapto", que ganhou esse
mesmo prêmio antes de mim, em
1980" (referindo-se ao livro de 79
com que arrebatara o prêmio).
Ao contrário da seção poética,
entre os romances, todos os competidores eram de uma geração
mais recente: Dionísio Jacob, Luís
Giffoni e Rubens Figueiredo. Figueiredo, 46, com seu "Barco a Seco", foi o vencedor.
Na opinião do escritor e tradutor -que já ganhara o Jabuti há
três anos, por um de seus livros de
contos, "As Palavras Secretas"-,
o prêmio deve ser valorizado por
"chamar atenção para a literatura
como trabalho comum, coletivo".
(FRANCESCA ANGIOLILLO)
Colaborou Cassiano Elek Machado, da
Reportagem Local
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